Na gestão da Crise Covid estão-se a aplicar conhecimentos e metodologias de gestão com excelentes resultados. Reforça-se assim a importância destes conhecimentos e a necessidade das empresas os aplicarem melhorando a sua capacidade de gestão para responder aos novos desafios.
A crise do Covid-19 iniciou-se na China em dezembro último e o impacto que teve nesse país, primeiro nas pessoas e depois na atividade económica, bem como a possibilidade de se transformar numa pandemia global, levou as instituições internacionais e desde logo a OMS a monitorizar a sua evolução.
Na China as autoridades fizeram um diagnóstico à situação e tomaram um conjunto de medidas de isolamento de uma região (cidade de Wuhan) para limitar o impacto do Covid-19. Além da mobilização dos melhores meios humanos e da tecnologia verificou-se um investimento rápido, como nunca se tinha visto, na construção de novos hospitais dedicados a esta doença. Começou também a ser efetuada investigação sobre este vírus, começou a experimentar-se e testar aplicação de novas substâncias terapêuticas no tratamento e quase em simultâneo começaram as investigações para uma vacina. A monitorização constante da evolução da situação, com base em dados do terreno permitiu às autoridades chinesas tomarem as medidas para mitigar o impacto na sociedade e na realidade económica.
Estas respostas encontradas pelas autoridades Chinesas permitem agora, passados quatro meses, ter a situação controlada e a economia chinesa, apesar do forte impacto desta crise, começa a recuperar.
O conhecimento adquirido pela China, a capacidade que mostraram em lidar com esta situação e a tecnologia que têm ao seu dispor fazem emergir a China com uma capacidade para assistir, pela primeira vez, países mais desenvolvidos da Europa aos Estados Unidos. Agora não é só a capacidade tecnológica nas TI (nomeadamente na Huawei e nas redes 5G, nas tecnologias de mobilidade no setor automóvel e no e-commerce), mas também na área da medicina e investigação que ajudam a afirmar a China como potência mundial.
Finalmente, ficámos também todos a ter uma noção mais correta da dependência que as diferentes indústrias como a farmacêutica, a de bens de equipamento, de têxteis e outras têm de componentes fabricados na China.
Em Itália o primeiro caso foi detetado no dia 20 de fevereiro, em Espanha os primeiros casos foram detetados entre 13 e 20 de fevereiro, em França a 24 de janeiro, na Alemanha a 27 de janeiro e em Portugal a 2 de março. A situação descontrolou-se em Espanha e na Itália devido ao atraso nas medidas de contenção. Situação semelhante verifica-se nos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil com a rápida progressão da epidemia, devido à adoção tardia de medidas de isolamento social.
A 11 de março a OMS justifica a declaração de pandemia com «níveis alarmantes de propagação e inação».
Como é que o nosso país lidou com esta pandemia?
Em primeiro lugar construíram-se cenários sobre a evolução da doença e para cada um deles identificaram-se consequências e definiram-se medidas para mitigar os efeitos adversos.
Como destacou e bem a DGS e o primeiro ministro cenários não são previsões. Para realizar previsões temos de ter informação que permita efetuar projeções.
Começou-se a monitorizar a evolução em Portugal através da DGS e ministério da saúde e face aos dados recolhidos começaram-se a definir planos, projeções e ações para responder aos desafios identificados numa lógica de ajustamento permanente dos modelos à evolução da realidade (planeamento flexível e adaptável).
Baseados na informação disponível, no estudo e partilha de conhecimentos com outros países foi possível acompanhar a evolução da pandemia, foi decretado o estado de emergência com forte impacto nas vidas das pessoas e na economia do país. A prioridade foi primeiro salvar vidas e depois apoiar os setores mais afetados. O governo implementou também um conjunto de medidas para apoiar as empresas e os setores mais afetados.
Verificou-se uma resposta positiva da sociedade e das empresas que rapidamente compreenderam a necessidade de colaborarem ativamente para a solução oferecendo numa primeira fase materiais e dinheiro para reforçar os meios e recursos do SNS.
Numa segunda fase, para responder à escassez de análises para detetar o Covid, ventiladores e matérias de proteção nos mercados internacionais (devido à forte procura e à elevada dependência de fornecedores da China) as empresas nacionais começaram a cooperar para produzir gel de desinfeção e as instituições de investigação decidiram aplicar os seus recursos para fabricar reagentes e a preparar testes para a Covid que, em conjunto com as Universidades, estão a começar a aplicar onde é necessário.
As instituições de ensino superior começaram também a trabalhar com empresas para produzirem ventiladores (essenciais para salvar vidas) num curto espaço de tempo, gerando e aplicando conhecimento para dar resposta às necessidades, superando de forma brilhante as barreiras que sempre existiram entre a realidade empresarial e a investigação universitária. Estas portas abertas de colaboração vão ter impacto relevante na competitividade das nossas empresas e na melhoria e desenvolvimento das nossas universidades.
O acompanhamento diário da evolução da pandemia no nosso país e a tomada de decisões ajustada à realidade dá-nos a todos a confiança que vamos vencer esta dura batalha.
Reconhece-se a importância da flexibilidade e da tomada de decisões baseadas em factos. Sistemas de informação fiáveis e com informação atualizada são essenciais. A cooperação e partilha de conhecimentos entre pessoas e instituições é fundamental para todos os interessados. Acima de tudo reconhece-se a importância das pessoas como bem mais precioso.
Depois de ultrapassada esta fase começa a recuperação da atividade económica. As últimas noticias apontam para que o pico (ou planalto) da doença no nosso país seja em maio, o que significa que esta crise se arrastará pelo menos até junho. Se considerarmos este período, a atividade económica vai ser reduzida pelo menos durante três meses e alguns estudos estimam uma redução do PIB à volta dos 10%. Se considerarmos as perspetivas inicias em que se previa um crescimento de 1,7% em relação a 2019, temos uma drástica redução da atividade económica e um substancial aumento do desemprego.
Sabemos também que se perspetiva uma recessão global com forte desaceleração no comércio mundial. Esta crise económica vai ter um forte impacto nas nossas vidas nos próximos anos (superior ao que se verificou na crise financeira de 2008) e a recuperação vai ser lenta.
Neste momento é fundamental que cada empresa esteja atenta aos sinais do mercado (hoje soubemos que a Volkswagen, Porsche e BMW fecharam as suas fábricas na Alemanha até 19 de abril), identifiquem novas oportunidades de negócio, aproveitem a abertura das instituições de ensino superior para estabelecerem parcerias de partilha de conhecimento e, sobretudo, envolvam os seus colaboradores na construção do futuro.
Devemos replicar nas nossas empresas o que melhor se fez na gestão desta crise: construir cenários para preparar o futuro, recolher e avaliar dados para redefinir objetivos, ajustar a estratégia às novas realidades, desenvolver e implementar planos de ações. Monitorizar e acompanhar a implementação e tomar decisões ajustadas (alterando sempre que necessário os planos e ações).
O desafio vai ser ter uma gestão mais competente e mais flexível para responder à mudança, construindo o futuro que cada uma das empresas e cada um de nós quer.
Nota:
Aconselhamos vivamente a consulta de artigos publicados neste blog que nos podem ajudar a pensar e a construir o futuro que queremos:
Está preparado para o mundo VUCA? pontoTGA / dezembro 11, 2019
Construir o futuro pontoTGA / janeiro 16, 2020
O novo capital pontoTGA / fevereiro 4, 2015
Prioridade às pessoas pontoTGA / junho 29, 2016
Informação ou “achismo”? pontoTGA / janeiro 13, 2016
O extraordinário mundo da estratégia em condições de incerteza pontoTGA / fevereiro 22, 2017
Está a preparar o futuro da sua empresa? pontoTGA / março 5, 2014
Só obtemos o que gerimos pontoTGA / março 9, 2016
A estratégia como prática para desempenhos de excelência pontoTGA / novembro 8, 2017
Pode moldar-se o futuro? pontoTGA / novembro 13, 2019
Valoriza a gestão competente? pontoTGA / maio 22, 2019
Estratégia – o poder da gestão estratégica para identificar, explorar e resolver problemas pontoTGA / fevereiro 12, 2020