Por detrás do funcionamento de qualquer empresa de sucesso está um modelo de negócio inovador. Este modelo tem subjacente uma proposta de valor para os clientes, suportada por processos chave, que se apoiam nos recursos e capacidades que a empresa possui e que geram retornos financeiros, garantindo o crescimento e a sustentabilidade do negócio.

Muitas vezes surgem alguns sinais indicativos de que é necessário alterar o modelo de negócio, tais como:

  • Aumento da velocidade e intensidade da mudança;
  • Aparecimento de concorrência inesperada;
  • Clientes a considerarem que novas alternativas são aceitáveis;
  • Inovações que oferecem cada vez menos melhorias;
  • Redução da performance em indicadores críticos;
  • Noção de que se oferece cada vez mais por menos.

Ora as dinâmicas competitivas nos mercados e o aparecimento de novas tecnologias alteram o valor para o cliente e as possibilidades de obter recursos e capacidades para alterar processos de criação de valor.

Sabemos as grandes alterações que estão a acontecer nos clientes da indústria de moldes e as suas exigências com a utilização de matérias mais sustentáveis (bioplásticos e outros), de moldes mais complexos a preços competitivos, com prazos de pagamento mais alargados. Veja-se por exemplo, a declaração recente de Carlos Tavares, CEO da Stellantis, sobre a necessidade de reduzir custos na indústria europeia para poder fazer face aos fabricantes chineses de veículos elétricos. Este é o novo paradigma de valor para o cliente.

As novas tecnologias associadas à digitalização podem ser vistas como aumento na geração, análise e uso de dados para, por um lado, aumentar a eficiência interna da empresa e, por outro lado, fazer a empresa crescer agregando valor para os clientes por meio da mudança dos formatos analógico para digital, através do aumento do uso de tecnologias digitais (IoT, IA, Blockchain, Cloud Computing, Machine Learning, Big Data Analysis, Realidade Aumentada, Robotização e Computação Quântica,  Plataformas, entre outras) e sua integração nos produtos da empresa e nas suas atividades.

Os produtos e, em especial, os moldes vão transformar-se em sistemas complexos (smart conected products) que combinam hardware, sensores, armazenamento de informação, microprocessadores, software e conectividade. A mudança na natureza dos produtos está a ter efeito disruptivo nas cadeias de valor, forçando as empresas a repensar e ajustar quase tudo o que faziam internamente.

A IoT é apenas um mecanismo de transmissão de informação. A informação que estes produtos geram é que possibilita uma nova era na competitividade. A tecnologia incorporada nestes produtos permite monitorizar, controlar, otimizar e autonomizar (diagnóstico, operações e a coordenação de operações com outros produtos e sistemas).

A IA permite melhorar a conceção, produção e otimização da utilização dos moldes pelos clientes. A Realidade Aumentada (AR) permite intervir à distância na otimização e uso dos moldes.

Novos relacionamentos com clientes são possíveis devido à informação e essa relação vai ser do tipo aberta a colaboração, facilitando a comunicação e troca de experiências, aumentando assim o valor criado para as partes envolvidas.

A nível de processos, devido às capacidades dos produtos e à informação que geram, estas tecnologias vão alterar o trabalho e vão ser necessários colaboradores com novas capacidades na análise e tratamento de dados e no controlo de processos, que vão ser robotizados. A conceção e fabrico vai envolver mais pessoas com estas características (programação e TI) em equipa com engenheiros mecânicos e de produção (chão de fábrica).

Vai ser necessária maior coordenação. Vão emergir novas formas de organização assentes na colaboração interfuncional.

As tecnologias AR sobrepõem dados e imagens digitais a objetos físicos, reduzindo o fosso entre o mundo real e o digital que limita a nossa capacidade para tirar maior partido do volume de informação que temos ao nosso dispor. Ao colocar a informação diretamente no contexto em que vai ser aplicada, a AR acelera a nossa capacidade para absorver e atuar.

A AR vai ser a nova interface entre humanos e máquinas. Pode ser associada à área da logística, do design, da manutenção e das operações e vai permitir que os RH personalizem a formação de um funcionário de acordo com a sua experiência ou erros recorrentes.

As plataformas e os dados por elas disponibilizados vão facilitar o processo de comunicação e os processos de cocriação e desenvolvimento de produto, manutenção e otimização. A difusão de tecnologias digitais permite uma transformação notável nas fronteiras, processos, estruturas, papéis e interações das empresas.

A digitalização permite que as empresas acedam a novos recursos que abrem novas possibilidades nos processos de criação e de apropriação de valor para as partes envolvidas e deve ser olhada na perspetiva do negócio e não da tecnologia.

As empresas devem adotar uma abordagem incremental e concentrarem-se no aumento em vez da substituição das capacidades humanas. As pessoas são recurso fundamental em qualquer empresa.

São as pessoas que transformam os recursos (o que temos, edifícios, máquinas, tecnologia, dinheiro, etc.) em capacidades (o que sabemos fazer) e é com a sua inteligência e capacidade de aprendizagem que fazem a integração das tecnologias nos processos e que fazem a ligação com os clientes e lhes transmitem emoções, criando relações de longo prazo.

Estas novas possibilidades nos recursos ao dispor das empresas e as alterações do valor para o cliente permitem construir novos modelos de negócio, cada um ajustado a cada empresa.

Para alterar o modelo de negócios é importante alinhá-lo com os objetivos da empresa (missão e visão) e devem-se reforçar os círculos virtuosos que gerem sinergias entre os diversos componentes (valor para o cliente, processos críticos e recursos). Finalmente, o novo modelo deve ser robusto, isto é, deve ser difícil de imitar, permitir à empresa manter uma parte do valor criado, manter a empresa focada e ser de difícil substituição por outro alternativo.

Vamos então ajustar o nosso modelo de negócios tendo presente os limites do nosso mercado, as tecnologias disponíveis, a equipa de gestão e a retenção dos talentos na nossa empresa e vamos implementá-lo através da gestão para obtermos resultados de excelência.