“Não se pode gerir o que não se consegue medir”

– Peter Drucker

Sou um adepto de dois desportos: futebol e basquetebol (NBA). Uma das principais diferenças ao acompanhar estes dois desportos prende-se com a informação disponível para a análise dos mesmos. No futebol estamos ainda na era do “achismo” (continuam a imperar as opiniões subjectivas baseadas na mera observação), enquanto que no basquetebol (NBA, no caso) já se entrou na era da informação.

Vou tentar ilustrar com um exemplo. Como se avalia a qualidade dos jogadores de futebol? Através de uma avaliação subjectiva das suas competências. Como se avalia a qualidade de um jogador da NBA? Pode-se também simplesmente fazer uma avaliação subjectiva das suas capacidades, mas no caso da NBA temos estatísticas para validar (ou não) essas impressões. A NBA recolhe, compila e disponibiliza dados sobre todos os aspectos do jogo. Eu acho que o jogador A é bom atirador: tenho estatísticas de todas as temporadas com a % de lançamento do jogador em todos os tipos de situações. Posso verificar se a minha opinião é correcta ou incorrecta. No caso do futebol, não tenho forma de validar objectivamente a minha opinião.

Mas, para além de tornar a avaliação dos jogadores muito mais objectiva, toda a informação disponível permite também aos gestores (directores e treinadores) tomar melhores decisões. Quem é que deve jogar mais tempo? Não são os jogadores que o treinador “acha” que são melhores. São os jogadores que ele sabe que jogam melhor em conjunto. Existe informação disponível sobre todas as combinações de jogadores que já estiveram juntos em campo e o treinador pode verificar, por cada alinhamento, se marcaram mais ou menos pontos do que sofreram, quantos pontos marcaram por cada posse de bola, quantos pontos sofreram, que tipo de lançamentos executaram, etc.. Ou seja, enquanto que no futebol podemos debater incessantemente quais serão os jogadores que devem jogar, na NBA nós sabemos quais são, pois temos os dados que o mostram de forma objectiva e completa.

Olhando para algumas empresas que conheço, também consigo distinguir entre empresas que estão na era do “achismo” e empresas que estão na era da informação. Vejo empresários e gestores que não conhecem as razões do seu sucesso (ou insucesso) porque não têm dados para o compreender e vejo outros gestores que conhecem todos os pequenos pormenores do seu negócio. Vejo gestores a tomarem decisões com base em palpites e feelings, e vejo outros gestores a tomarem decisões bem fundamentadas.

É óbvio que existe risco em todas as decisões e que não podemos garantir o sucesso. Mas também me parece claro que, quanto maior for o conhecimento que se tem de negócio, menor será o risco de tomar más decisões. Assim, todos os gestores devem implementar sistemas de informação para a gestão no seu negócio. Pode ser o sistema SAP mais avançado, pode ser um Balanced ScoreCard, etc.. A “marca ou modelo” do sistema em si não é o mais importante. Não tem que ser necessariamente um sistema sofisticado e dotado da tecnologia mais avançada. O importante é que forneça a informação de que o gestor necessita, de forma atempada e fiável.

Por outro lado, também é preciso ser criterioso na informação que se recolhe. Por exemplo, por vezes nos jogos de futebol apresentam os dados sobre a distância percorrida pelos jogadores. É uma curiosidade mas não me parece que seja propriamente relevante. Não é pelo facto de uma informação ser fácil ou possível de obter que se torna útil. Informação irrelevante é apenas uma distracção e deve ser evitada.

Não quero com este texto defender a primazia da informação sobre tudo o resto na gestão. Aliás, a gestão tem tanto de arte como de ciência. As grandes ideias de negócio, as grandes inovações resultam mais vezes da visão e das ideias disruptivas das pessoas do que da análise dos números. A questão é que, sem informação para as validar, todas as decisões podem parecer boas. E nem todas são.