Um novo ano já começou e com ele surgem as habituais reflexões sobre o ano que passou e a definição dos objetivos que se pretendem atingir no ano que agora inicia. 2020 foi desafiador a todos os níveis, com mudanças que obrigaram as empresas a adaptarem-se a um “novo normal”. Saliento alguns dos principais desafios com o qual as empresas se irão debater neste novo ano:
Recuperação económica:
A pandemia teve um grande impacto na economia mundial e europeia. De acordo com as previsões económicas de outono de 2020 da Comissão Europeia, a economia da União Europeia registará uma contração de 7,4% em 2020, antes de recuperar 4,1% em 2021. Apesar das medidas orçamentais e monetárias tomadas pelos governos e pelo Banco Central Europeu, é expectável o aumento das insolvências e do desemprego.
Em termos nacionais as projeções do Banco de Portugal para 2020 apontam para uma contração da economia portuguesa em 8,1%, iniciando, em 2021, uma trajetória de recuperação que se prolonga até 2023. Projeta-se um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,9% em 2021, 4,5% em 2022 e 2,4% em 2023.
A recuperação da atividade traduz-se numa melhoria no mercado de trabalho, perspetivando-se um aumento de forma gradual do emprego a partir de meados de 2021, após uma diminuição de 2,3% em 2020. A taxa de desemprego aumenta para 7,2% em 2020 e 8,8% em 2021.
O consumo privado cai 6,8% em 2020 e, com a dissipação das medidas de contenção e da incerteza e refletindo a melhoria do mercado de trabalho, cresce ao longo do período 2021-2023.
As exportações de bens e serviços reduzem-se 20,1% em 2020 e recuperam nos anos seguintes, com crescimento acumulado de 31,5% até 2023 (só em 2021 este crescimento rondará os 9,1%). Projeta-se que as importações de bens e serviços se reduzam 14,4% em 2020 e aumentem 24,7% até 2023.
Estas previsões económicas permanecem envolvidas de elevada incerteza, estando dependentes da evolução da pandemia e da rapidez da vacinação e consequente alcance da imunidade de grupo. O decreto do governo português de um novo confinamento geral semelhante ao de março e abril que se inicia já amanhã, irá colocar em causa a retoma da atividade económica em 2021 como estava inicialmente prevista, colocando de novo grande pressão nas empresas dos diferentes setores.
Força de trabalho:
Uma das mudanças mais significativas para muitos trabalhadores em 2020 foi a adoção do teletrabalho. Um estudo realizado pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal e pelo Marketing FutureCast Lab do ISCTE concluiu que 48% das empresas questionadas diz ponderar a opção de implementar o teletrabalho como norma. No entanto apenas 22% prevê que os funcionários em teletrabalho fiquem em casa cinco dias por semana. Os restantes preferem uma solução híbrida que passe pela execução de algumas tarefas na empresa e outras em casa, conforme a figura abaixo.

Esta tendência também é evidenciada nas grandes e médias empresas onde 70% das empresas inquiridas pretende adotar um sistema misto entre teletrabalho e presencial, depois da pandemia, sendo que 86% dos inquiridos ponderam manter dois ou mais dias de trabalho remoto por semana, concluiu o Barómetro RH 2020/21, realizado pelo Kaizen Institute.
Esta tendência exigirá às empresas por um lado, a oferta de alternativas de rede e ferramentas online que permitirão a comunicação entre as diferentes equipas de trabalho e por outro, proporcionar uma cultura de local de trabalho híbrida que apoie os trabalhadores presenciais e remotos.
Consumidor:
Tal como vimos aqui durante a pandemia os consumidores alteraram muitos dos seus comportamentos e hábitos. O mais recente estudo “Conhecer os desafios ajuda a encontrar o caminho?” publicado pela Ernest Young mostra que o consumidor da economia sem contacto (“touchless”, através da tecnologia e da inovação de serviços) define o novo normal. Este novo consumidor adotará tendencialmente, em 2021, estes comportamentos de consumo:
- Compras rápidas e sem contacto: 34% dos consumidores portugueses farão mais compras online de produtos que antes compravam em lojas físicas;
- Vida consciente em casa: 74% serão mais conscientes e cautelosos com os seus gastos;
- Experiências em lojas sem contacto: 26% vão fazer pedidos online e recolhê-los em loja com mais frequência;
- Vida experiencial em casa: 27% irão gastar mais em experiências no longo prazo.
Também a nível dos pagamentos a mudança para uma sociedade sem dinheiro que já estava em curso foi acelerada pelo risco percebido de infeção através do dinheiro físico. De acordo com os dados mais recentes da SIBS Analytics a utilização do MBWay no comércio físico cresceu mais de 300% no 2.º semestre de 2020 face ao período homólogo, no comércio online este crescimento foi de mais de 199%. Outra tendência também é observada nestes dados é o aumento das compras online e a diminuição das compras em lojas físicas.
A pandemia alterou a vida das pessoas e o seu impacto deverá ser duradouro, alterando a forma como compram, o que compram e como consomem. No EY Future Consumer de novembro mais de 50% dos consumidores acreditam que a forma como compram se alterou e permanecerá no futuro.
A alteração de comportamento dos consumidores dará origem a novos segmentos de clientes para os quais as empresas têm de estar preparadas para dar resposta e ter sucesso no mercado.
Ambiente:
Apesar da situação provocada pela pandemia as preocupações ambientais continuam na ordem do dia. De acordo com inquérito realizado pelo Observador Cetelem em junho observou-se que 76% dos portugueses continuam preocupados em proteger o meio ambiente. Estes dados mostram que mesmo face à crise sanitária e a uma crise económica 74% dos inquiridos consideram que a preocupação da sociedade com as alterações climáticas se irá manter, enquanto 23% assumem que pode mesmo aumentar.
Mais recentemente, o relatório “Radar da Reciclagem” realizado pela Marketest em colaboração com a Sociedade Ponto Verde em novembro de 2020 mostra que 89% dos portugueses está hoje mais preocupado com o ambiente do que há 10 anos. Um comportamento justificado pela “forte consciência ambiental” (79,1%), o civismo (72,2%) e o reaproveitamento dos resíduos em novos produtos (54,4%).
Uma das seis prioridades da Comissão Europeia para 2019-2024 é tornar a economia da UE sustentável impulsionando a utilização eficiente dos recursos através da transição para uma economia limpa e circular, restaurar a biodiversidade e reduzir a poluição (Pacto Ecológico Europeu).
As empresas têm aqui a oportunidade de reforçarem o seu papel enquanto agentes de transformação e se posicionarem de forma estratégica em linha com o crescimento sustentável. Para isso as empresas necessitarão de alinharem o seu propósito adaptando o seu modelo de negócio para a transição para uma economia verde, circular e neutra em carbono até 2050 (um dos objetivos do Plano de Recuperação e Resiliência).
2021 será um ano de algum confinamento e de grandes constrangimentos a vários níveis. Ao delinear a estratégia e objetivos da sua empresa para este novo ano tenha presente estes e outros desafios construindo diferentes planos para os enfrentar.
Está pronto para vencer neste novo ano?