Portugal iniciou esta segunda-feira a reabertura de algumas atividades económicas depois de seis semanas de confinamento. Esta será uma abertura faseada com o levantamento gradual das restrições à atividade económica e circulação dos cidadãos.

Esta nova realidade será bem diferente da qual estávamos habituados antes do Covid-19. Muitos dos nossos comportamentos e hábitos irão ser alterados drasticamente.

Durante a pandemia os consumidores adotaram novas formas de aprender, trabalhar, comprar, divertir-se, comunicar e aumentar o seu bem-estar em casa.

Observou-se um elevado crescimento nas atividades digitais e de pouco contato, atraindo novos utilizadores durante a crise do Covid-19. Alguns dados que importa salientar:

  • Crescimento das plataformas de entretenimento e streaming: A plataforma online Netflix no primeiro trimestre deste ano verificou um aumento de 23% no número de subscritores em relação ao período homólogo (o que significou um aumento de 15,8 milhões de novos clientes). Em Portugal, de acordo com o Barómetro de Telecomunicações da Marktest, entre fevereiro e abril registou-se um aumento de mais 800 mil subscritores na adesão aos serviços de streaming nos dois principais players (Netflix e HBO);
  • E-commerce: De acordo com o último relatório divulgado pela SIBS, o peso das compras online no total das compras dos portugueses aumentou desde o primeiro caso confirmado de Covid-19 no país. As categorias de bens que mais cresceram foram o entretenimento, cultura e subscrições (57%), a restauração, entregas ao domicílio e takeaway (53%) e o comércio alimentar e retalho (44%). O valor médio das compras registaram igualmente uma subida passou de 37,5€ para 40,1€ (+7%);
  • Novas formas de pagamento: O relatório da SIBS mostra ainda o crescimento da utilização do MB WAY como forma de pagamento tanto nas compras online, como nas compras nas lojas físicas, tendo-se verificado um crescimento de 13 e 3 pontos, respetivamente, na semana de 3 de maio face à semana de 2 de março. A utilização do MB WAY permite que todos os pagamentos sejam efetuados de forma mais segura uma vez que não é necessário qualquer contacto com o terminal multibanco, independentemente do montante. Madalena Tomé, presidente da SIBS reconhece que se está a assistir à adoção “de novos hábitos digitais e no desenvolvimento do e-commerce [comércio eletrónico] e dos serviços não presenciais”, contribuindo para a promover “a digitalização dos hábitos dos portugueses e empresas”.

Enquanto as empresas tentam adaptar a sua estratégia e os seus negócios a este novo normal, os consumidores estão a alterar os seus padrões de consumo, reduzindo os gastos desnecessários e apostando nas compras online.

De acordo com a mais recente pesquisa realizada pela Ernest & Young intitulada “EY Future Consumer Index” são identificados o surgimento de 4 novos segmentos de comportamento como resposta à crise do Covid-19.

Figura 1: Novos segmentos de comportamento como resposta à crise do Covid-19
Figura 1: Novos segmentos de comportamento como resposta à crise do Covid-19, adaptado de EY Future Consumer Index
  • O segmento “Poupar e Armazenar” é onde se encontra a maioria dos consumidores (35%). Mostram elevada preocupação com suas famílias e com as perspetivas de longo prazo. Mais de um terço (36%) está a gastar mais em mantimentos e a maioria está a gastar menos em roupas (72%) e lazer (85%);
  • No segmento “Cortar profundamente” (27%) enquadram-se os consumidores que têm maioritariamente mais de 45 anos e que sofreram os maiores impactos ao nível do emprego (através da sua suspensão, temporária ou permanente). Como consequência direta estão a gastar menos em todas as categorias de despesa. 64% referem que compram apenas o essencial e 33% considera que as marcas são agora menos importantes para eles;
  • Os consumidores do segmento “Mantém a calma, contínua” (26%) não se sentem diretamente afetados pela pandemia e por isso não mudaram os seus hábitos de consumo. Apenas 21% deles refere que está a gastar mais, em comparação com 18% que estão a gastar menos;
  • No segmento “Hibernar e gastar” (11%) enquadram-se os consumidores com idade compreendida entre os 18 e os 44 anos e são aqueles que estão mais preocupados com o impacto da pandemia. No entanto, apenas 40% dizem estar a comprar com menos frequência. Neste segmento 42% afirmam que os produtos que compraram mudaram significativamente e 46% deles dizem que as marcas agora são mais importantes para eles.

Outro dado a destacar ainda neste estudo é o facto de 53% dos consumidores se mostrarem mais disponíveis a facultar os seus dados pessoais caso ajude a monitorar e rastrear um foco de infeção. Numa altura em que se fala tanto no desenvolvimento de algum tipo de aplicação para a monitorização a evolução do vírus, este dado pode ser determinante para o sucesso desta medida uma vez que mostra a adoção por parte dos consumidores de uma atitude mais aberta em relação à privacidade e à partilha dos seus dados pessoais.

Olhando para o “próximo normal” os consumidores permanecem hesitantes em retomar algumas das atividades que faziam parte da sua vida quotidiana antes do Covid-19.

De acordo com um estudo da McKinsey, no conjunto dos países analisados (ver figura 2) a maioria dos consumidores espera comprar com menos frequência nas lojas físicas itens que não sejam artigos de mercearia. As deslocações a shoppings irão reduzir-se substancialmente passando a realizar-se a grande parte das vendas pelo canal online.

Os consumidores em todo o mundo não pretendem realizar viagens internacionais em breve, enquanto os consumidores em vários países – com exceção da Alemanha e da França – planejam restringir também as viagens domésticas.

Figura 2: Mudanças no comportamento do consumidor pós-Covid-19
Figura 2: Mudanças no comportamento do consumidor pós-Covid-19, adaptado de McKinsey

 

Em Portugal (ver figura 3), após a pandemia é expetável que os consumidores diminuam as atividades pessoais como viajar para outros países, ir ao shopping e assistir a eventos (como ir ao cinema, concertos, etc.). Pelo contrário, espera-se um aumento nas viagens domésticas e do trabalho a partir de casa.

Figura 3: Mudanças no comportamento do consumidor pós-Covid-19 em Portugal
Figura 3: Mudanças no comportamento do consumidor pós-Covid-19 em Portugal, adaptado de McKinsey

 

Neste momento, certamente que as dúvidas dos empresários serão muitas.

Qual será realmente o comportamento do consumidor nesta fase de transição? E após a crise do Covid-19? Quais os comportamentos que voltarão a ser como antes? E quais é que mudarão para sempre? Como vou vender o meu produto? Ainda existe mercado para a minha oferta? Devo investir nas entregas ao domicílio? Faz sentido criar uma loja online?

Conforme já falamos aqui uma das formas de preparar o seu negócio para esta nova realidade é através da construção de cenários. Os cenários permitem-lhe identificar diferentes futuros possíveis consoante os impactos dos diferentes fatores incertos, proporcionando assim o contexto para definir planos estratégicos de atuação. Por exemplo, a Nielsen identificou 3 cenários para a recuperação da economia global após o Covid-19: Reagir, Reiniciar, Reinventar, que poderão dar um bom enquadramento para a definição da estratégia a adotar nesta fase.

Evidentemente, que o Covid-19 causou uma mudança no comportamento do consumidor e é provável que alguns desses novos hábitos permaneçam a longo prazo, enquanto outros desaparecerão com o tempo.

As empresas necessitam de antecipar as tendências de comportamento e hábitos de consumo do consumidor para que possam enfrentar a crise atual desenvolvendo os recursos e capacidades necessários para o futuro.

E na sua empresa, já está preparado para a mudança de hábitos do consumidor?