Em tempo de confinamento e enquanto aprendemos a viver e trabalhar com as regras de um estado de emergência, é altura de preparamos o regresso à “nova normalidade”. O mundo não vai ficar igual, mas o que isso não significa o mesmo para todos. A incerteza é enorme e se canalizarmos os nossos esforços a tentar prever o futuro ficaremos assoberbados com tantas variáveis.
Então o que fazer? Esperamos para ver o que acontece? Como nos preparamos?
Em ambientes de grande incerteza não se fazem previsões, desenham-se cenários. Cenários são retratos de futuros possíveis em que se espelham os impactos dos diferentes fatores incertos, proporcionando assim contexto para definirmos planos estratégicos de atuação.
Várias organizações estão a fazer este exercício e a publicar as suas conclusões. Estes são inputs valiosos para prepararmos a nossa empresa para os próximos passos. Por exemplo, o banco ING desenhou 4 cenários para a economia global após o Covid-19: a hipótese base (figura 1), o regresso do isolamento no inverno, a “melhor” hipótese e a “pior” hipótese. Para cada um destes cenários simulou a variação do PIB e do mercado cambial para os Estados Unidos, a Zona Euro, a China, o Japão e o Reino Unido.

Outro exemplo é o estudo “Covid 19 – Impacto y Escenarios de recuperación en Consumo y Distribución” publicado pela Deloitte no passado dia 27 de março, onde apresenta 3 cenários possíveis: “rápida contenção”, “ano perdido” e “economia de guerra”. Para além de desenhar estes cenários, a Deloitte simulou a evolução dos setores alimentação, retalho, restauração, viagens e hotéis e os novos perfis de consumidor que apresentamos na figura 2.

Depois de analisarmos diferentes cenários adaptados ao nosso contexto é importante compreender o impacto que cada um deles terá no nosso negócio e no setor em que estamos inseridos. É importante encontrar aspetos transversais aos diferentes cenários que podem ser uma base para sustentar o caminho a seguir no futuro e a partir daí construir o nosso plano de atuação para cada um dos cenários mais prováveis.
Este será o maior choque económico depois da 2ª Guerra Mundial e irá englobar importantes disrupções no comportamento dos consumidores e nos modelos de negócio. É importante estar atento aos sinais e compreender essas mudanças para poder definir uma direção estratégica adequada.
A direção estratégica a seguir dependerá da extensão da disrupção necessária para o nosso modelo de negócio e da profundidade e extensão da disrupção na procura da indústria/setor onde estamos inseridos (figura 3).

Mas, numa altura em que tudo muda tão rapidamente e em que os meios financeiros das empresas são escassos, como vamos dar resposta aos desafios atuais e preparar-nos para o futuro?
Na McKinsey acreditam que numa crise como esta, dominada por um elevado nível de incerteza, decidir rápido é muito mais eficaz que encontrar a melhor decisão e por isso defendem que, para além de termos uma equipa dedicada a encontrar as formas de responder às constantes mudanças nas condições do curto prazo, devemos ter uma “equipa de planeamento antecipado” que nos ajude a preparar a próxima fase desta crise. Esta equipa irá debruçar-se sobre 5 tópicos (figura 4) em múltiplos horizontes temporais (esta semana, 2-4 semanas, 1-2 trimestres, 1-2 anos, o novo normal).

É importante realçar que a rapidez é essencial e que esta equipa tem de encontrar respostas já amanhã – a resposta possível com a informação disponível. Este é um processo iterativo em que continuamente se vão integrando novos dados e encontrando melhores respostas em cada ciclo, melhorando continuamente os planos de atuação para esta semana, para as próximas 2-4 semanas, para os próximos 1-2 trimestres, para os próximos 1-2 anos e para o novo normal.
A mudança e a adaptação ao momento em toda a empresa são a nova constante. Serão os mais ágeis a ter as melhores hipóteses de sobrevivência.
E a sua empresa, já está a preparar-se para o novo normal?