Economia Circular, Fonte de Valor

“A sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil.”

Nicolau Copérnico

As preocupações ambientais muitas vezes chocam com a atividade económica. O impacto do ser humano e das suas atividades no planeta tem trazido preocupações crescentes às sociedades e o conceito de Economia Circular tem vindo a ganhar destaque nos últimos anos. Este modelo procura replicar os ecossistemas naturais, permite otimizar os ciclos de produção, introduzindo novas formas de reduzir custos nas empresas, e gera também novas oportunidades de negócio em campos até agora impossíveis de explorar. Tudo isto permite criar valor para os empresários ao mesmo tempo que se protege e restaura o ambiente.

Os modelos de negócio mais tradicionais têm seguido uma estrutura linear ao longo dos tempos. As cadeias de valor mais simplistas tinham início na extração da matéria prima, passavam pela produção dos bens, pelo seu consumo e terminavam o ciclo com a colocação no lixo da embalagem e eventuais outros resíduos resultantes, que eventualmente eram encaminhados para aterros.

Com a evolução dos sistemas de reciclagem, a sua implementação e generalização a nível global os ciclos têm vindo a ser alterados, observando-se cadeias mais complexas que permitem também uma melhor gestão dos seus impactos.

As cadeias de valor atuais poderão ser generalizadas através do seguinte diagrama:

A extração da matéria prima e a obtenção dos recursos dão início ao processo, que segue pela produção, distribuição e consumo dos bens. No fundo deste ciclo figuram agora sistemas de recolha, separação e tratamento dos resíduos, levando á sua deposição em aterro ou na reciclagem e posterior re-integração nos processos produtivos. Estes modelos têm permitido reduzir parte do impacto ambiental de algumas atividades económicas, sendo no entanto bastante residual .

A escassez de recursos verificada, resultado de uma velocidade vertiginosa de consumo a nível global, demonstra a insustentabilidade dos modelos lineares e representam um pressão intensa das cadeias de valor atuais sobre o meio ambiente.

A Comissão Europeia, no seu “Manifesto para um Europa Eficiente de Recursos”, encarou este problema em 2012 e tem vindo a estudar e implementar uma série de medidas que encaminhem uma convergência da economia dos modelos lineares para uma modelos circulares.

“Our future jobs and competitiveness, as a major importer of resources, are dependent on our ability to get more added value, and achieve overall decoupling, through a systemic change in the use and recovery of resources in the economy. According to the OECD, this could lead to steady economic growth with business opportunities across the whole economy.” – European Comission, Brussels, 17 December 2012

Alinhada com os princípios da Indústria 4.0 a Economia Circular é um conceito que pretende “fechar” as cadeias de valor.  A Economia Circular promove a Eco-Inovação ao procurar prolongar a vida útil dos produtos e defende a manutenção da utilidade e do seu valor, dos seus componentes e dos materiais que os constituem. Engloba uma elevada incorporação de tecnologia nas várias fases de produção que promovam o conhecimento sobre os produtos e processos e permitam em qualquer fase do ciclo a sua valorização e a desmaterialização dos processos.

A Economia Circular assenta em 3 princípios:

• Preservar e melhorar o capital natural (recursos naturais), controlando os stocks de recursos finitos e dinamizando os ciclos de recursos renováveis: através da desmaterialização do maior número de processos e virtualização da utilidade, a aposta nas energias renováveis, na regeneração e nos materiais substitutos;
• Otimizar as taxas de aproveitamentos dos recursos, mantendo a utilidade dos produtos, componentes e materiais ao longo dos ciclos (técnicos e biológicos): pela maximização da informação sobre os produtos, um design que promova a sua regeneração e reutilização, a partilha de bens e serviços, a otimização da utilidade e o encerramentos dos ciclos;
• Promover a eficácia dos sistemas pela identificação das externalidades (impactos) negativas na economia e a sua gestão e resolução: que engloba a redução dos impactos que a utilização das terras, a poluição do ar e da água têm no planeta e nas pessoas;

Estes novos modelos de negócio utilizam e inovação como principal motor e promovem cadeias de valor circulares, que utilizam conceitos como a reutilização, reparação e retransformação, renovação, reciclagem e locação (partilha). A preocupação com a sustentabilidade é uma constante ao longo de toda a cadeia de valor.

Um dos pontos cruciais é o desenvolvimento de um sistema de informações sobre os produtos e os seus constituintes, em todas as fases do seu desenvolvimento, que permita obter novas formas de reintroduzir os mesmos na economia minimizando a criação de resíduos. Existe uma preocupação com a otimização do ciclo de vida dos produtos, desde a sua criação, à distribuição, consumo e a eventual gestão de resíduos que não tenha sido possível reintroduzir.

Esta alteração do paradigma vem também criar oportunidades de negócio até agora inexistentes. A Eco Inovação traz oportunidades a todos os níveis das cadeias de valor (dos produtos, dos processos, da tecnologia e das estruturas organizacionais).

A Economia Circular é assim um conceito que vai muito além da indústria. Trata-se de um novo modo de vida, sustentável que traz consigo uma nova forma de pensar, de agir e de viver em sociedade. A alteração do paradigma tem foco numa postura do cidadão como utilizador, por oposição a consumidor, dinamizando as economias de partilha e de proximidade.

O programa Portugal 2020 está também alinhado com “uma Europa eficiente em termos de recursos” e valoriza projetos que na sua conceção promovam o crescimento sustentável e a criação de emprego com melhor utilização dos recursos.

Para saber mais:

A Ellen MacArthur Foundation em conjunto com a SUN e com a McKinsey publicaram um estudo interessantíssimo sobre esta matéria: Growth Within: A Circular Economy Vision For A Competitive Europe.

https://www.youtube.com/watch?v=z5bNocDSyfg

Associação Não Governamental Circular Economy Portugal