As populações e as empresas estão a braços com o pico da pandemia Covid19 em todo o globo. As empresas estão a lidar com o impacto da Covid19 nas suas operações e muitas recorrem aos apoios que estão disponíveis.
No entanto há já empresas a preparar a retoma de atividade no “Pós-Covid”. O impacto atual sentiu-se na alteração de hábitos de consumo e que resultou em alterações nas cadeias de valor.
Por um lado são conhecidas as dificuldades que por exemplo o setor da restauração está a passar em resultado das medidas impostas. A reconversão do modelo de negócio com recurso a serviços de entrega e take away não tem gerado resultados em alguns dos casos. Em suma, o consumo deslocou-se na sua maioria e neste caso da restauração para as residências, com resultados positivos do lado do retalho alimentar. Será que este comportamento se irá manter?
Os setores hoteleiro e aeronáutico acumulam perdas avultadas e têm sido alvo de reestruturações, sobretudo no que diz respeitos às companhias aéreas. Será que este mercado será reposto assim que a pandemia esteja controlada?
Quando a pandemia “terminar”, muitas empresas irão descobrir que os seus modelos de negócio foram irrecuperavelmente afetados.
Já aqui abordámos o impacto da pandemia e a necessidade de adaptação e inovação, mas hoje vamos tentar analisar como isso poderá ser feito.
Dev Patnaik, Michelle Loret de Mola and Brady Bates, no artigo “Creating a Post-Covid Business Plan” da Harvard Business Review, trabalharam com várias equipas de gestão nos últimos meses e consideram que não basta utilizar o pensamento estratégico normal no cenário atual. Sublinham e defendem que a solução passa por uma abordagem híbrida que combina a estratégia convencional com as evoluções mais recentes das ciências sociais e da teoria da inovação, analisando as tendências comportamentais.
De acordo com os autores o planeamento num cenário pós-pandémico deve ser efetuado tendo por base três questões:
- Como é que o meu negócio ganha dinheiro? – As empresas devem mapear os seus fatores críticos de sucesso e a sua cadeia de valor, isolando o essencial do acessório;
- Em quem dependo para desenvolver o meu negócio? – É crucial também identificar os parceiros mais relevantes (clientes, fornecedores, parceiros financeiros, etc.) para o seu modelo de negócio;
- Como será o comportamento dos meus clientes após a pandemia? – Esta é a pergunta mais difícil de responder. Apesar de ser um evento temporário, tem-se arrastado por um longo período de tempo, suficiente para alterar profundamente os hábitos de consumo.
Para responder a esta última pergunta os autores identificaram três categorias de comportamentos:
- Comportamentos sustentados – são comportamentos que se prevê que regressem à situação pré-Covid. Os autores dão como exemplo a fuga das estadias em hotéis que aconteceu após o atentado às torres gémeas no 11 de setembro de 2001 e que foi reposta passado algum tempo;
- Comportamentos transformados – são comportamentos que provavelmente irão voltar à situação pré-Covid, mas com alterações significativas. Por exemplo, depois do 11 de setembro foram implementadas medidas muito rígidas no transporte aéreo que se mantêm até aos dias de hoje;
- Comportamentos interrompidos – São comportamentos que irão desaparecer por completo ou que irão ser substituídos por outros. Pegando no mesmo exemplo, as lojas de aeroporto tiveram de deixar de vender bebidas a partir de determinado ponto de controlo. Os empresários que estavam nessa situação tiveram de alterar por completo os seus modelos de negócio.
A questão passa agora por identificar tendências de alteração ou manutenção de comportamento. Utilizando por base várias décadas de desenvolvimento de pesquisa em formação de hábitos, adoção de tecnologia e economia comportamental, os articulistas defendem quatro fatores que ajudam a identificar alterações de comportamento:
- Mecânica: Um comportamento mecânico (habitual) é menos provável que seja substituído. Ao fazer parte de uma rotina existe uma probabilidade superior para que este se repita.
- Motivações: Devem ser analisados os indutores desse comportamento (psicológicos, financeiros ou outros), bem como se os benefícios daí decorrentes permanecem ou não válidos. Os benefícios psicológicos são mais duradouros no tempo do que os financeiros. Se atualmente as pessoas não se sentem seguras indo a restaurantes, é provável que o bem-estar gerado por refeições fora de casa com família e amigos por exemplo funcione como motivacional para que estes comportamentos se repitam;
- Pressões: A pressão social ou da comunidade para determinado comportamento vai influenciar o desenvolvimento desse comportamento no futuro. Os opinion makers e influencers têm também um papel importante porque acabam por ditar tendências comportamentais;
- Alternativas: Esse comportamento tem alternativas mais eficientes, mais baratas, ou com benefícios superiores? Se a transição para esse novo comportamento trouxer mais vantagens do que desvantagens, o comportamento anterior será certamente abandonado.
Partindo desta estrutura de análise, devem ser analisados todos os parceiros cruciais (clientes, fornecedores, colaboradores e outros) um a um, identificando os comportamentos críticos que influenciam o seu negócio. Tem alguma indicação que esses comportamentos se vão manter ou alterar? Quando existirem indícios de quebra de comportamento, deverão ser definidos planos e tomadas medidas.
Existe um grande manancial de informação disponível, de investigação e desenvolvimento e várias teorias comportamentais que podem servir de suporte para exercícios de reflexão e definição de planos pós-Covid.
Este é então um período de análise de reflexão. Está na altura de repensar o seu modelo e o seu plano de negócio, absorvendo a situação atual e fazendo previsões para possíveis cenários futuros. Com todas as ferramentas que temos atualmente ao nosso dispor, podemos potenciar oportunidades que surjam agora e depois da pandemia.