relação trabalhador-empregador

O teletrabalho é considerado uma das tendências com maior impacto e que está a provocar mais alterações ao modelo de negócio das empresas e na relação trabalhador-empregador. A PwC desenvolveu o estudo “Future of Work Survey” em Portugal com o objetivo de perceber como as empresas e os colaboradores estão a reagir ao desafio do teletrabalho e como preveem adaptar-se no futuro. Destaco duas das conclusões que ressaltam neste estudo:

  • o teletrabalho veio para ficar: 70% das empresas inquiridas quer manter o regime de teletrabalho, sendo o modelo híbrido o preferencial. Pelo lado dos trabalhadores mais de 80% gostaria de trabalhar remotamente pelo menos uma vez por semana;
  • o escritório ganha um novo propósito: para colaboradores o escritório passa a associar-se a momentos de cultivo de relações (42%) e colaboração entre equipas (39%), para as empresas o escritório será essencial para promover a cultura corporativa (85%), colaboração eficiente (67%) e assegurar um espaço para colaboradores que não podem trabalhar remotamente (59%). Neste sentido 47% das empresas prevê alterações nas necessidades de espaço nos próximos 3 anos e 33% pretende diminuir o espaço ocupado atualmente, sendo a redução de custos operacionais e o trabalho remoto os principais motivos (ver imagem abaixo).
Future of Work Survey
Fonte: “Future of Work Survey”, PwC

 

De acordo com o relatório “ 2021 Global Human Capital Trends ” da Deloitte, antes da pandemia, apenas 29% dos líderes de recursos humanos consideravam reorganizar as relações das suas empresas com os trabalhadores. Agora, com o teletrabalho e o regime híbrido como parte da “nova realidade”, esse valor subiu para os 61%.

Como a relação trabalhador-empregador pode evoluir para atender às oportunidades e desafios do mundo no pós-COVID-19? Foi com base nesta questão que a Deloitte utilizou a metodologia da construção de cenários para explorar como o mundo do trabalho e a relação trabalhador-empregador podem evoluir.

Para isso identificaram como os dois fatores que terão maior influência no futuro relacionamento trabalhador-empregador: a oferta de talentos e o impacto do governo. Usando a combinação destes dois fatores obtiveram 4 cenários futuros potenciais conforme se mostra na figura abaixo.

4 cenários futuros potenciais da relação trabalhador-empregador

 

  • Trabalhar como a moda: neste cenário os empregadores estão em constante movimento procurando identificar os sentimentos dos trabalhadores, as ações dos concorrentes e a dinâmica do mercado. A relação trabalhador-empregador é reativa: os empregadores sentem-se obrigados a responder imediatamente às preferências expressas dos trabalhadores e às mudanças dos concorrentes, sem que essas ações estejam alinhadas com uma estratégia de força de trabalho sustentável. Este futuro poderia surgir da convergência de baixa oferta de talentos e baixo impacto do governo. Os trabalhadores podem basear a escolha do empregador no que cada um oferece e em quão essas ofertas atendem aos seus desejos imediatos. Para ter sucesso neste cenário é crucial não se deixar levar pela pressão de acompanhar a concorrência e responder instintivamente aos desejos dos trabalhadores, investindo na criação da sua marca de empregador (Employer Branding) com base em ideais consistentes e mutuamente valorizadas, criando assim uma relação com o trabalhador sustentável e diferenciada;
  • Guerra entre talentos: num futuro de “guerra entre talentos” existe excesso de oferta de talentos e por isso os trabalhadores competem por empregos limitados. A relação trabalhador-empregador é impessoal: os empregadores veem os trabalhadores como facilmente substituíveis e os trabalhadores estão mais preocupados em competir entre si por empregos do que com a qualidade do seu relacionamento com o empregador. A combinação de grande oferta de talentos e baixo impacto do governo poderia criar as condições favoráveis ​​para este cenário. Neste cenário os empregadores conseguem mais facilmente encontrar e reter trabalhadores simplesmente porque existe uma grande oferta de talentos. Investir em estratégias que motivem e desenvolvam os trabalhadores irá melhorar o desempenho dos seus funcionários e consequentemente melhorar os seus resultados;
  • Trabalho é trabalho: neste cenário, trabalhadores e empregadores veem a responsabilidade organizacional e a realização pessoal e social como fatores separados. A relação trabalhador-empregador é profissional: um depende do outro para atender às necessidades relacionadas ao trabalho, mas ambos esperam que os trabalhadores encontrem significado e propósito em grande parte fora do trabalho. A baixa oferta de talentos combinada com o alto impacto do governo definem este cenário. O trabalho é visto pelos trabalhadores como meio de conseguir recursos financeiros que lhes permita procurar a sua realização pessoal e social em atividades fora do trabalho. Para ter vantagem competitiva neste futuro irá ser necessário reestruturar o trabalho de forma a que os trabalhadores saibam que seu esforço é importante, as suas contribuições para os resultados do trabalho são visíveis e significativas e que o próprio trabalho lhes dá a oportunidade de crescer profissionalmente;
  • Propósito desencadeado: num futuro com este cenário o propósito é a força dominante que impulsiona o relacionamento entre trabalhadores e empregadores. A relação trabalhador-empregador é comum: trabalhadores e empregadores veem o propósito partilhado como a base do seu relacionamento, vendo-o como o laço mais importante que os une. Quando a oferta de talentos é alta, os empregadores podem selecionar e escolher os trabalhadores não apenas pelas suas capacidades, mas também por estarem alinhados com o propósito e objetivos da empresa. Como consequência existe maior compromisso e ligação entre o trabalhador e o empregador (Employee Engagement), motivando os trabalhadores a trabalhar mais e a ter um melhor desempenho em nome dos seus empregadores. A chave para ter sucesso neste cenário passa por dar a oportunidade aos funcionários de participarem tanto na definição quanto na execução do propósito da empresa. Por exemplo uma empresa envolvida com questões sociais ou ambientais atuais pode aumentar os trabalhadores altamente comprometidos de 40% para 60%, de acordo com uma pesquisa da Gartner.

Estes são apenas alguns dos cenários que exploram a evolução do futuro da relação trabalhador-empregador, no entanto, podem existir uma infinidade de possibilidades. Estar ciente daquilo que pode acontecer pode ajudar-nos a traçar melhor o percurso em direção à relação trabalhador-empregador que queremos ter nas nossas empresas.

relação trabalhador-empregador