Atualmente a mudança é uma constante e por isso perceber até que ponto uma empresa está preparada para desenvolver um processo de mudança com sucesso é muito importante para identificar os aspetos que mais têm de ser trabalhados.
A necessidade de rápida adaptação que vivemos o ano passado mostrou-nos que algumas empresas conseguiram prontamente alterar o seu rumo para fazer face às novas condições, outras demoraram mais tempo a responder e algumas tiveram imensa dificuldade.
Um processo de mudança exige visão para compreender o que é necessário mudar, mas também muita perseverança para efetivamente conseguir mudar. Conhecer as nossas forças e fraquezas face à mudança é determinante para o seu sucesso.
Michels e Murphy (1) identificaram nove elementos determinantes no sucesso da mudança numa empresa ao longo de 3 etapas (figura 1): Liderar a mudança, Acelerar a mudança e Organizar a mudança. Compreender as nossas forças e fraquezas em cada uma destas categorias permite-nos determinar a nossa capacidade para a mudança e criar um projeto para melhorar ao longo do tempo.
Estes autores concluíram através de um estudo em 37 organizações globais de grande dimensão que envolveu mais de 2 mil colaboradores que o perfil de mudança de uma empresa é um forte preditor da sua performance e que a maioria das empresas corresponde a um dos 4 seguintes arquétipos:
À procura do foco: A sua principal força é a energia. São muito ativas e já tiveram muitos sucessos. Estão constantemente a inovar. Normalmente este grupo apresenta fraquezas nas características de Propósito, Direção e Conexão.
Nestes casos, os líderes devem focar-se na visão global, ligando as atividades da empresa ao propósito e à estratégia. É importante ser firme na priorização das iniciativas e recordar que para se manter o foco nas melhores iniciativas é necessário dizer que não a algumas boas iniciativas.
Emperrada e cética: Estas empresas têm boas ideias e uma história de sucessos, mas grande parte da mudança fica retida a nível local não se disseminando através da organização. Normalmente este grupo apresenta fraquezas nas características de Conexão, Escala e Ação.
Nestes casos, um único líder não consegue tirar a empresa deste estado. É importante reacender o entusiasmo dos pares convencendo-os de que realmente conseguem ser bem-sucedidos. Para aumentar rapidamente a energia é preciso alcançar rapidamente alguns sucessos.
Alinhada mas constrangida: Estas empresas têm forças importantes, como o facto dos seus colaboradores trabalharem bem em conjunto e dirigirem-se todos para a mesma direção. O elevado sucesso inicial elevou as expetativas e agora lutam com difíceis constrangimentos. Frequentemente não têm as pessoas necessárias para preencher funções chave na gestão da mudança. Normalmente este grupo apresenta fraquezas nas características de Conexão, Capacidade e Desenvolvimento.
Nestes casos é necessário identificar o(s) gargalo(s) na capacidade da empresa e direcionar recursos para essa(s) área(s). Pode ser necessário reorganizar as prioridades. Isto envolve responder a falhas em funções chave trazendo novos talentos e ajudando os existentes a desenvolverem novas competências.
Lutando para acompanhar: Os autores comparam estas empresas às equipas de ciclistas na Volta à França, lutando numa corrida extenuante com várias etapas. São como grandes atletas cujo foco e orientação para a ação tem dado bons resultados. Mas à medida que a corrida avança instala-se a fadiga e a adaptabilidade é cada vez mais importante. Estas empresas têm dificuldade em competir porque apresenta fraquezas nas características de Coreografia, Escala e Flexibilidade e o foco, que era uma virtude, começa a tornar-se um vício.
Estas empresas precisam de melhorar na antecipação do que vem a seguir e alterar os seus planos em concordância. Para isso devem começar por fazer um balanço: Será que a sua estratégia ainda é a correta? Se não for, é preciso alterar as prioridades e realocar os recursos para fazer face aos novos desafios.
Na figura 2 tem um guia para perceber melhor qual o arquétipo de mudança que corresponde à sua empresa, para que possa identificar melhor quais os aspetos a que é mais importante estar atento e agir em conformidade.
Se a mudança é cada vez mais acelerada, então é ainda mais importante medir, compreender e impulsionar a capacidade de mudança da sua empresa. Para isso comece por determinar os factos: quais as suas forças e fraquezas nos 9 elementos do Poder da Mudança. Depois mude a forma como trabalha: não analise apenas cada um dos projetos, mas a empresa como um todo. E mobilize os líderes: é preciso orquestrar um esforço de equipa, desenvolver uma ambição comum e mapear um plano de ação.
Claro que depois desta etapa é necessário monitorizar o progresso e proceder sempre aos ajustes necessários. A mudança é um processo contínuo de aprendizagem.
E para que o processo de mudança seja eficaz não esqueça os 8 aceleradores da mudança preconizados por Kotter.
Está pronto para a mudança?
(1) D. Michels and K. Murphy, “How good is your company at change?”, Harvard Business Review, July-August 2021
