Vivemos hoje, numa era em que a tecnologia digital transforma diariamente economias, sociedades, negócios, políticas, bem como o nosso quotidiano. Novos modelos de negócio estão a surgir e as organizações são cada vez menos hierárquicas. A inovação e as ideias nascem em qualquer lugar e o mais importante é que as organizações têm capacidades de incentivar o seu desenvolvimento e reconhecer o melhor dele.
E perante este cenário, acho que é indiscutível que a liderança é a habilidade mais importante na era digital. Se não vejamos: se o momento é de rápida evolução, arriscado, imprevisível, onde ninguém sabe ao certo onde o desenvolvimento tecnológico nos vai levar, como é que as empresas podem descurar uma liderança competente!?
Então quais são as qualidades que os líderes precisam na era digital? São totalmente diferentes das habilidades tradicionais?
Por volta de 1800, Napoleão Bonaparte dizia que “um líder é um traficante de esperança”. E apenas alguns anos atrás, o guru da liderança Warren Bennis declarou: “Liderança é a capacidade de traduzir a visão em realidade”.
É certo que ao longo dos anos, os atributos que os teóricos foram atribuindo aos líderes foram mudando, mas as qualidades essenciais, essas permaneceram. A personalidade de um líder sempre foi e será uma das qualidades principais. Os traços de personalidade, esses foram sofrendo ajustes, nomeadamente hoje, a estabilidade emocional e a curiosidade são muito mais importantes que o seu QI. Também os traços comportamentais continuam a auxiliar os bons líderes a obter resultados, tais como habilidades motivacionais, formação de equipas e o carisma.
Logo, a boa notícia é que a liderança na era digital não implica uma substituição radical nos atributos fundamentais para uma liderança eficaz. O Diretor da ManpowerGroup Portugal defende que o mais eficaz é a aplicação da regra 80/20. Ou seja, 80% das competências que sempre tornaram os líderes eficazes devem permanecer as mesmas. Em causa estão características como a motivação, resiliência que associadas à curiosidade, à capacidade de apreender, ao conhecimento e às competências digitais assumem uma importância maior num cenário de liderar uma rápida transformação digital.
Mas além desses requisitos essenciais, novas qualidades estão a ser procuradas (restantes 20% de competências necessárias). A Global Leadership Forecast 2018, publicada em conjunto pela DDI, Conference Board e EY, que integra dados de mais de 28.000 líderes e profissionais de Recursos Humanos em todo o mundo, descobriu que as habilidades de liderança digital estão a tornar-se críticas. Segundo o estudo, as empresas lideradas por pessoas com mais capacidades digitais superam financeiramente a média em 50%. Cada vez mais, os líderes precisam de entender o impacto que a tecnologia tem nos seus negócios, precisam de ser capazes de prever oportunidades e os possíveis efeitos negativos da tecnologia.
Torna-se também evidente que alguns dos atributos essenciais dos líderes estarão a ser dominados pela AI, tais como o processamento intelectual de factos e informações. Contudo, os elementos emocionais destacam-se como as qualidades-chave que os profissionais precisam de ter no futuro. O relatório “The Future of Talent: Opportunities Unlimited” destaca também uma crescente necessidade de habilidades sociais em vez de técnicas, bem como habilidades de comunicação e solução de problemas, colaboração, adaptabilidade, agilidade e criatividade como sendo as habilidades essenciais para o sucesso na próxima década.
O relatório refere ainda que os líderes estão a perceber que a tecnologia assumirá cada vez mais tarefas técnicas complexas e neste sentido, a capacidade dos líderes de inovar, inspirar e se envolver está a subir à tona. Torna-se fundamental que estes profissionais entendam como os humanos e a tecnologia podem trabalhar juntos, porque um dos grandes problemas da transformação digital é que muitas organizações começam com a tecnologia e não com as pessoas e o principal objetivo da tecnologia é facilitar a vida aos seres humanos – trabalhadores e consumidores.
Em suma, as habilidades críticas de liderança identificadas como vitais para o futuro são as seguintes:
- Adaptabilidade – no campo individual, a adaptabilidade traduz a abertura a novas ideias e a disposição para mudar de ideias, mesmo que isso possa ameaçar o ego de um líder;
- Visão – uma visão clara da organização é fundamental no mundo digital, uma vez que os modelos de negócio são constantemente interrompidos e a incerteza de curto prazo é muito alta. As grandes multinacionais digitais já definem a visão (e/ou missão), deixando espaço de manobra para iniciativas futuras;
- Humildade – na era digital, o conhecimento pode surgir de qualquer lugar – de alguém 20 anos mais novo que o líder ou até três níveis abaixo da hierarquia organizacional – e reconhecer que não se sabe tudo é tão valioso quanto saber o que se faz. Os líderes precisam de ser humildes com as contribuições dos outros e devem estar dispostos a buscar opiniões de todos e a todos os lugares, dentro e fora da organização. A humildade é a evolução da necessidade de o líder continuar a aprender.
Assim sendo, para liderar na era digital é extremamente necessário que os líderes consigam combinar o melhor da inteligência humana com a tecnologia e uma visão de futuro.
Então e você, está preparado para o amanhã?