perguntar

Uma das minhas atividades favoritas é perguntar. Para mim é algo natural: se não sei pergunto, seja a um humano, a um motor de busca ou, mais recentemente, a um chatbot como o popular ChatGPT. Mas para obter as respostas que pretendemos não basta perguntar, é preciso saber perguntar.

Há diversos tipos de perguntas e, de acordo com o fim em vista, a sua formulação é diferente como já aqui vimos no artigo O poder das perguntas. Mas com o desenvolvimento da tecnologia, e em particular assistentes virtuais e chatbots de IA generativa, a arte de perguntar adquiriu uma relevância crescente.

Na era da IA é mais importante ser capaz de perguntar do que responder. De acordo com Chevallier et al (1), nesta era um líder não precisa de ter as respostas. Precisa sim de compreender a importância da escuta, da curiosidade, da aprendizagem e da humildade, que são as qualidades críticas na arte de perguntar. De facto, o Question-Storming é atualmente uma técnica bastante usada para a criatividade e inovação, substituindo o popular Brainstorming (2).

No entanto, de acordo com estes autores (1), o importante não é fazermos muitas perguntas, mas sim fazermos perguntas mais inteligentes. O seu estudo revelou que as perguntas estratégicas podem ser agrupadas em 5 domínios, sendo que cada um deles se dirige a diferentes aspetos do processo de tomada de decisão (ver figura 1):

Investigação

Este domínio integra as perguntas que permitem clarificar aquilo que sabemos e o que pretendemos. Podemos aqui incluir a metodologia dos “5 porquês”, por exemplo, ou uma sequência similar de perguntas iniciadas por “Como?”. Desta forma conseguimos identificar e analisar um problema em profundidade.

Especulativas

Este domínio integra as questões que permitem alargar a análise de um problema para encontrar soluções mais criativas. Iniciam frequentemente por “E se…?”, “O que mais….?”, “Como poderíamos….?” abrindo assim novas possibilidades para a resolução de um problema.

Produtivas

As perguntas produtivas permitem compreender a disponibilidade de talento, capacidade, tempo e outros recursos. Estas perguntas vão influenciar a velocidade da tomada de decisão, a introdução das iniciativas e o ritmo de crescimento, bem como a monotorização. Integram, por exemplo, questões do tipo “Como vamos fazer?”, “Quando vamos fazer?”, “Como vamos medir?”.

Interpretativas

As perguntas deste domínio permitem aprofundar a análise e redefinir continuamente a questão central. Surgem naturalmente após as perguntas dos 3 domínios anteriores e cada uma delas pode dar origem a novas perguntas dos domínios anteriores. Alguns exemplos são “Então, o que acontece se…?”, “Quais as implicações de…?”, “Qual é realmente o problema?”. O processo de decisão deve sempre circular de volta a perguntas interpretativas, pois são elas que proporcionam o momento de passar de um domínio para outro e convertem informação em perceções que conduzem a ações. É aqui que tudo começa a fazer sentido.

Subjetivas

Esta categoria é completamente diferente das outras. São as perguntas que revelam aquilo que ainda não foi dito, o lado emocional. As perguntas deste domínio são sobre as reservas pessoais, as frustrações, as tensões e as agendas ocultas que podem fazer descarrilar a tomada de decisão. Podem ser, por exemplo, perguntas do tipo “Como é que realmente te sentes?” ou “Quais os aspetos que mais te preocupam?”. Negligenciar este domínio pode provocar o fracasso de uma solução devido a reações subjetivas, apesar de a análise, as perceções e os planos serem sólidos.

Os 5 domínios das perguntas estratégicas
Figura 1: Os 5 domínios das perguntas estratégicas

 

Os autores reforçam que para encontrarmos soluções inovadoras e vencedoras, é importante que o processo de decisão inclua perguntas de cada um dos 5 domínios e de forma equilibrada. No entanto, o estudo revelou que a maioria dos líderes deixava de fora pelo menos um destes domínios. Os autores desenvolveram um questionário que permite aferir quais os domínios em que cada pessoa se sente confortável e qual ou quais é que tende a descurar.

Este autoconhecimento é muito importante para compreendermos onde precisamos melhorar. Percebendo quais as nossas lacunas neste processo, podemos reforçar a nossa atenção nas questões desse domínio durante o processo de tomada de decisão.

Estamos na era da IA e estamos a falar de processos criativos, por isso é bom não esquecer que o esforço não deve ficar só numa pessoa, é um trabalho de equipa. E um dos aspetos fundamentais que distingue um grupo de uma equipa é a complementaridade dos seus elementos. Se identificou um domínio de perguntas em que não se sente muito confortável, garanta que na sua equipa tem pelo menos uma pessoa para quem esse domínio é “a sua praia”.

 

(1) A. Chevallier, F. Dalsace and J. Barsoux, “The Art of Asking Smarter Questions”, Harvard Business Review, May–June 2024, pp.66-74

(2) H. Gregersen, “Better Brainstorming”, Harvard Business Review, March–April 2018, pp.64–71