“Todos os jogadores são capazes de enfrentar os maiores desafios, desde que sejam os seus desafios.”

Jorge Araújo

 

O vosso trabalho traz-vos motivação, realização e felicidade?

Se a resposta for não, leiam este texto. Pode ajudar-vos a melhorar a situação.

(Se a resposta for sim, leiam também. O que têm a perder?)

 

Tradicionalmente, se o nosso trabalho não nos motiva, realiza e faz feliz, temos duas opções: ou nos resignamos, ou procuramos novo trabalho. Mas há uma terceira opção, chamada, em estrangeiro, job crafting. Job crafting consiste em mudarmos o nosso trabalho, de forma a que nos traga mais motivação, realização ou felicidade. Isso pode conseguir-se mudando 3 dimensões do trabalho: tarefas, relações ou perceções.

É uma tautologia que, se eliminarmos ou reduzirmos as tarefas que não nos motivam ou realizam e as substituirmos por tarefas que nos motivam ou realizam, nos vamos sentir muito melhor com o nosso trabalho. Ou, outra possibilidade, encontrar novos métodos para realizar a mesma tarefa que nos são mais agradáveis. E, por vezes, pode ser mais simples de se fazer do que parece. Uma reorganização do trabalho ou uma melhor negociação das tarefas que aceitamos podem mudar completamente o nosso trabalho. E, por incrível que possa parecer, o bem de uns não tem que ser o mal de outros. As pessoas não são todas iguais e o que é uma maçada para uns pode ser um prazer para outros. Uma troca de tarefas entre colegas pode ser uma solução win-win para todos.

Também as relações e interações no trabalho afetam a forma como o trabalho nos faz sentir. Por um lado, parece óbvio que passar mais tempo com aqueles colegas que apreciamos e que são competentes, e menos tempo com aqueles que veem problemas em todas as soluções, que têm sempre o complicador ligado ou que parece que “todos lhes devem e ninguém lhes paga” pode mudar completamente a forma como o trabalho nos faz sentir. Mesmo que as tarefas sejam exatamente as mesmas. Por outro lado, também é diferente fazermos o nosso trabalho sem interagirmos com ninguém ou podermos falar com várias pessoas ao longo do trabalho ou fazer tarefas em equipa em vez de individualmente.

A mudança das perceções consiste em fazermos uma espécie de “truques mentais Jedi” a nós próprios. É diferente dar aulas com o objetivo de “despachar a matéria” ou dar aulas porque sentimos que a nossa missão é ajudar os estudantes a desenvolver competências importantes para eles ou ajudá-los a atingir o seu potencial. Se sentirmos que os objetivos do trabalho são meritórios, talvez algumas tarefas menos agradáveis se tornem mais fáceis de tolerar. Assim, o “truque” aqui é tentar identificar significado no nosso trabalho para que tarefas que eram vistas apenas como aborrecidas passem a ser vistas como importantes ou como um contributo para algo relevante.

Claro que nem sempre o job crafting é tão cor-de-rosa como aqui se está a fazer parecer. Por vezes, a organização, o chefe ou os colegas são inflexíveis e não conseguimos alterar as nossas tarefas. Outras vezes, na ânsia de realizar tarefas mais motivadoras e interessantes, acabamos por nos sobrecarregar, o que contribui para piorar a situação em vez de a melhorar.

Para que os resultados sejam positivos, há alguns princípios a considerar. Devemos começar por analisar com atenção o que nos faz feliz e infeliz no nosso trabalho. Olhar também para nós e identificar que competências podemos usar em benefício dos outros. Recordemos o win-win. É muito mais provável que a organização, o chefe ou os colegas aceitem as nossas propostas se sentirem que eles vão beneficiar com isso e não que nos estão a fazer um favor. Também será mais fácil que os outros aceitem as vossas ideias e sugestões se vocês forem daqueles colegas competentes e apreciados por todos e não do grupo dos sempre mal dispostos e complicados.

Fica o desafio: experimentem esta ideia de job crafting. Se correr bem, trocam um trabalho desmotivador e que vos faz infeliz por um trabalho motivador que vos faz feliz, sem terem que passar pelos riscos e chatices da procura de emprego. Se correr mal, ficam com a certeza de que esse trabalho não é mesmo para vocês, o que vos motiva para procurarem o trabalho de sonho noutro lugar.