“Só se consegue convencer quem espera ganhar algo por se deixar convencer”
Nassim Nicholas Taleb
Muitos alunos meus pedem-me ajuda com os seus CVs e cartas de apresentação quando começam a procurar emprego. Na maior parte dos casos, cometem o que eu considero um erro ao escrever nas cartas de apresentação coisas do género:
“acabei agora o meu curso e gostaria de ter a oportunidade de desenvolver as minhas competências na vossa organização…”
Considero este tipo de abordagem um erro porque focam apenas o seu interesse e ganho potencial e não o da organização. Pedem uma oportunidade para desenvolver as suas competências e currículo e não focam o que a organização tem a ganhar com a sua presença. Basicamente, estão a transformar uma proposta comercial (trabalho por um salário) num pedido de um favor. Seria o mesmo que uma empresa fazer um anúncio em que dissesse:
“por favor, comprem o nosso produto porque nós precisamos de facturar para ter lucro”
O consumidor, na generalidade dos casos, compra produtos e serviços porque precisa deles, não por caridade para com as empresas. Da mesma forma, na generalidade dos casos, as organizações contratam pessoas porque precisam delas, das suas competências, não por caridade. Assim, tal como as empresas fazem publicidade aos seus produtos evidenciando os benefícios que os consumidores podem obter com a compra, também os candidatos devem oferecer o seu trabalho evidenciando os benefícios que podem levar ao futuro empregador.
Depois de perceberem que devem evidenciar esses benefícios, é preciso ter algum cuidado com a forma como se comunica esses benefícios. Muitas vezes, estes recém-licenciados procuram evidenciar o valor que podem propiciar de forma estanque e incompreensível para o seu destinatário. Por exemplo, um potencial empregador provavelmente não sabe que linguagens de programação se aprendem na disciplina de “Programação III”. Assim, mais útil do que elencar o nome das disciplinas do curso será indicar as competências desenvolvidas nessas disciplinas.
Em resumo, quando procuram emprego devem pensar nesse processo como numa campanha de comunicação do vosso “produto” ou marca. Em vez de apelar à “boa vontade” dos empregadores para vos “ajudar” ou “dar uma oportunidade”, devem procurar evidenciar o valor que podem criar para as organizações e apelar antes a que os empregadores tomem uma boa decisão de gestão.