A atual crise tem colocado enormes desafios às empresas, levando muitas a alterar a forma como trabalham e se relacionam com fornecedores e clientes. A passagem para o digital, o lançamento de novos produtos e a reinvenção de modelos de negócio são formas que as empresas estão a encontrar para responder à pandemia, sendo que a aposta na inovação é apontada por muitos gestores como saída para a crise.

A este nível Portugal tem registado nos últimos anos uma evolução positiva. Na edição de 2020 do EIS – European Innovation Scoreboard, Portugal foi considerado um país fortemente inovador, sendo pelo segundo ano consecutivo líder na inovação nas pequenas e médias empresas (PME), com a melhor classificação no indicador de percentagem de empresas que introduziram algum tipo de inovação de produtos/processos.

A maioria dos estudos nesta área apontam para uma relação positiva entre a despesa em inovação e a performance das empresas, tendo sido encontradas evidências de que as PME com maior despesa nesta componente apresentam uma maior aptidão para diversificar os seus investimentos, o que pode contribuir para aumentar os seus níveis de performance. Uma maior despesa em inovação proporciona também uma maior flexibilidade organizacional que pode contribuir para maior eficiência no aproveitamento de oportunidades de crescimento.

Outros estudos referem também que um maior investimento em inovação tem como consequência a diversificação das atividades e uma maior capacidade de exportação, diminuindo o risco e aumentando a performance das empresas.

Neste âmbito é importante distinguir entre o desenvolvimento de novas competências ou produtos (exploration) e a tentativa das empresas melhorarem os produtos ou serviços existentes (exploitation), conceitos abordados aqui. O primeiro é seguido por empresas que pretendem descobrir novos conhecimentos ou testar novas oportunidades de negócio, pensando na melhoria da performance a longo prazo e representando formas de inovação radical. A segunda envolve o refinamento da tecnologia que a empresa já tem vindo a desenvolver, correspondendo a uma tentativa de melhorar a performance a curto prazo, ou seja, correspondendo a formas de inovação incremental.

A inovação apresenta vantagens, no entanto, poderemos garantir que o aumento da despesa em Investigação e Desenvolvimento (I&D), nomeadamente em exploration, conduz a um aumento da performance de uma empresa? Será esta uma resposta adequada à crise que vivemos?

De facto, o investimento em Investigação e Desenvolvimento para inovações radicais, engloba um risco elevado que poderá provocar complexidades na gestão dos seus recursos de uma PME.

Para financiar estas despesas as PME necessitam geralmente de financiamento externo, envolvendo desafios ao seu acesso e com impacto na gestão da tesouraria. Por outro lado, a maioria das PME não tem experiência na gestão deste tipo de projetos, não fazendo uso das oportunidades de crescimento que estes poderão criar.

Procedendo a uma análise do tecido empresarial português, é possível comparar a Inovação e Desenvolvimento das empresas com a sua performance.

Tendo como pressuposto que as despesas em I&D estão positivamente correlacionadas com os Ativos Intangíveis das empresas (como o desenvolvimento de softwares ou as patentes) e recorrendo a dados da Central de Balanços do Banco de Portugal, é possível retirar conclusões. O peso dos Ativos Intangíveis e Goodwill no Ativo Total das empresas portuguesas diminuiu entre 2015 e 2018, de 8,1% para 7,3% (ver figura). No mesmo período, a performance das empresas, medida pela rendibilidade dos capitais próprios, aumentou de 1,9% para mais de 8,4%, o que aparenta indicar uma ausência de correlação entre o peso dos ativos intangíveis e a performance das empresas portuguesas no seu conjunto.

Quadros do Setor
Fonte: Quadros do Setor, Banco de Portugal

De facto, o peso das despesas em I&D, considerando apenas a dimensão dos intangíveis e o Goodwill, não mede adequadamente o esforço de inovação nas PME nacionais e por isso não existe correlação entre estas dimensões. Em setores de alta intensidade tecnológica como a indústria farmacêutica, a informática ou a aeronáutica a inovação tem uma enorme relevância, justificando elevados investimentos em I&D numa lógica de exploration.

A maioria das PME portuguesas segue assim o conceito de exploitation, concentrando-se a realizar investimentos em novos equipamentos e processos, como na Inteligência Artificial (IA) e na Indústria 4.0, que poderão permitir um aumento de performance no curto prazo mas que colocam desafios no futuro.

Estar presente no ranking dos países fortemente inovadores é um fator positivo para Portugal e mostra que a economia portuguesa tem vindo a transformar-se profundamente nos últimos anos, aumentando a importância de setores com alta intensidade tecnológica. No entanto ainda há muito trabalho a fazer rumo a uma lógica de exploration.