O mundo do trabalho está a mudar, mas qual será o seu futuro?

O tema não é novo, tal como já abordámos aqui. A introdução de novas tecnologias sempre levantou questões sobre o futuro do trabalho. A revolução industrial permitiu a automação de várias profissões, muitas delas repetitivas, originando a extinção de várias profissões e consequentemente vários empregos. O tempo demonstrou que a revolução industrial melhorou consideravelmente o mundo do trabalho daquela época. Criou mais empregos, de melhor qualidade, desempenhados em melhores condições e de maior valor acrescentado. E a partir de então a evolução tecnológica passou a ser vista com outros olhos pela sociedade, mas isto não significa que apenas benefícios decorram desta. A história mostra-nos que os desenvolvimentos tecnológicos têm contribuído para uma melhoria das condições de vida das populações, criando mais e melhores empregos, mas não existe nenhuma regra universal que garanta que será sempre assim.

E parece que desta vez, o caso é diferente!

Se olharmos para trás, conseguimos facilmente verificar que fizemos mais progressos nos últimos 5 a 8 anos do que nos últimos 50 e se compararmos com avanço tecnológico do passado há uma sensação que de facto o cenário hoje é diferente. No passado começamos por adicional “músculo” e mecanização ao que as pessoas faziam. Anos depois, passámos a automatizar alguns dos trabalhos rotineiros. O que parece diferente desta vez é que as máquinas não estão a substituir o Homem em algumas tarefas, mas a fazer coisas novas, a descobrir padrões e a descobrir coisas por si. Segundo James Manyika, o presidente e diretor do McKinsey Global Institute, quando temos máquinas que são capazes de fazer correspondências de padrões melhores que humanos e máquinas capazes de descobrir novas soluções, elas começam a ser diferentes para as pessoas e as pessoas começam a preocupar-se com o que resta para os seres humanos fazerem.

Ora, mas comecemos por analisar os benefícios desta nova era.

Do ponto de vista das empresas que irão utilizar a robótica e a inteligência artificial (IA), os benefícios são relativamente claros e já falámos deles aqui. Haverá melhorias na redução das taxas de erro, nas previsões e na descoberta de novas soluções.

Os benefícios para a economia também são evidentes. A evolução das tecnologias desde sempre e talvez para sempre melhorará a produtividade. E numa época em que se fala tanto em crescimento económico e da sua necessidade, é difícil ignorar as contribuições que estas tecnologias têm na produtividade, na economia e consequentemente no crescimento económico.

Do ponto de vista das pessoas, como usuários, também é difícil negar os benefícios. A tecnologia tem facilitado muito o nosso dia-a-dia, seja na assistência de reconhecimento de voz ou em outras técnicas que simplificam as nossas tarefas. E esses benefícios são claros para os usuários, para a economia e para os negócios.

Contudo, o medo paira no ar. Será que haverá emprego para todos?

Num dos vários estudos realizados pela McKinsey sobre o futuro do trabalho, os analistas verificaram que em 60% dos empregos, 30% das atividades que as pessoas fazem nesse trabalho podem ser automatizadas. O que significa que temos mais empregos para mudar do que a desaparecer.

Logo a questão não deverá ser se existe emprego para todos, mas se os trabalhadores de hoje, com as competências e aptidões de hoje, serão qualificados para obter os empregos de amanhã.

A perceção do crescimento do emprego será diferente em países desenvolvidos e em países em desenvolvimento, mas existem vários fatores que nos asseguram uma procura adicional de mão-de-obra humana independentemente de algumas atividades serem automatizadas, tais como:

  • o aumento dos salários e da população – os analistas referem que nas próximas duas décadas, teremos um bilhão de pessoas a fazer parte da chamada “classe consumidora”;
  • o envelhecimento da população – que levará à necessidade de mão-de-obra adicional na área da saúde e cuidados, por exemplo;
  • a necessidade de desenvolver e implementar tecnologias – a digitalização, a robótica, a IA – na verdade exigem pessoas;
  • investimento em infraestruturas como imóveis, edifícios, pontes – apesar de muita coisa poder ser automatizada na área da construção, falamos de uma área que necessitará sempre de muita mão-de-obra.

Contudo, existem muitas outras profissões que, apesar de algumas das suas atividades poderem ser automatizadas, é necessário que alguém aplique o conhecimento e até aos dias que correm, os humanos ainda têm uma clara vantagem. Falamos de profissões como: gerentes, executivos, cientistas, engenheiros. As profissões mais criativas como artistas, pintores, escritores também terão uma maior procura. Isto porque, embora tenham havido alguns progressos nos aspetos emocionais e criativos da IA, os humanos ainda mantêm um claro domínio sobre os robots. Outros trabalhos como o de CEO, legislador ou psiquiatra também não parecem ser muito fáceis de automatizar.

Mas qual será o impacto no trabalho?

Embora a viabilidade técnica seja importante, não é o único fator que influenciará o ritmo e a extensão da adoção da automação. Outros fatores serão igualmente importantes, tais como: o custo de desenvolver e implementar soluções de automação para usos específicos no local de trabalho; a própria dinâmica do local de trabalho, onde incluímos a qualidade, quantidade de trabalho e salários associados; os benefícios da automação além da substituição de mão-de obra e a aceitação regulamentar e social.

O impacto potencial da automação no trabalho irá variar de acordo com a ocupação e o setor de atividade.

Há atividades que são mais suscetíveis à automação do que outras. As atividades físicas em ambientes previsíveis, operar máquinas e preparar fast food são, por exemplo, atividades fáceis de automatizar. Recolher e processar dados são outras duas categorias que cada vez mais poderão ser efetuadas por máquinas, melhorando a rapidez e a fiabilidade dos resultados. Contudo, os trabalhos que incluem cuidados, empatia e julgamento são por exemplo, ocupações mais difíceis de automatizar.

Outra das transições importantes está relacionada com as aptidões e competências. Os requisitos de aptidões e competências vão mudar, não só porque as pessoas começam a procurar profissões com novas competências, mas também porque vão trabalhar ao lado de máquinas altamente desenvolvidas exigindo outro nível de capacidades. E também por esse motivo falamos cada vez mais em reciclagem e requalificação profissional.

Uma terceira transição será o impacto que tudo isto terá nos salários.

Posto isto, será fácil de entender que as ocupações que irão crescer serão as que estão ligadas aos cuidados, ao trabalho de assistência onde temos os professores ou os cuidadores de idosos, por exemplo, que historicamente tem associado estruturas salariais mais baixas. A não ser que mudemos a forma como pensamos sobre o valor deste trabalho, vamos ter de lidar com isto.

De acordo com o estudo da McKinsey, estas são as transições que teremos de enfrentar e não se trata apenas de um problema para governantes, mas também para as empresas que terão de pensar como vão treinar novamente a sua força de trabalho, respondendo a questões como:

  • Como é que vão ajudar a reimplantar a sua força de trabalho com as novas atividades?
  • Como é que redesenham as estruturas de trabalho dentro das empresas para dar suporte a formas diferentes e novas de trabalho, de modo a que haja trabalho suficiente para todos à medida que gerem o seu caminho através das transições?

A boa notícia é que os líderes empresariais e Governantes voltados para o futuro já estão a pensar nestas questões. Temos CEOs a reunir esforços para reciclarem a sua força de trabalho, governantes a pensar como irão ser abordadas estas questões. Mas é necessário fazer mais. É necessário trazer o assunto para a ordem do dia e começar a preparar as escolhas.

O assunto é delicado. Se por um lado queremos o avanço tecnológico temos de estar preparados para as transições e desafios e ajudar os trabalhadores a gerir o seu caminho nesta transição, ou então desaceleramos tudo e aí podemos colocar em causa o dinamismo dos negócios e consequentemente o crescimento económico.

E agora, de que lado é que você vai ficar?