Há medida que tomamos consciência da enorme evolução que a tecnologia está a ter, surge cada vez mais a preocupação de que as máquinas irão mesmo substituir as pessoas e ficar com os nossos empregos. Será que não há lugar para as pessoas na Indústria 4.0?

A ameaça da automatização surge quando olhamos para as tarefas que presentemente são realizadas por pessoas e que tendem a ser asseguradas por máquinas de uma forma mais rápida e com menos custos. Claro que esta substituição é bastante atrativa para as empresas que procuram uma maior competitividade e para todos nós que passamos a ter acesso a bens e serviços mais facilmente e a um custo inferior “à custa de muitos dos nossos postos de trabalho”. Mas será que a questão é mesmo esta?

Na realidade, esta já é a terceira era da automatização (ver quadro 1). Na primeira era as máquinas substituíram as pessoas no trabalho manual pesado, na segunda era as máquinas libertaram as pessoas de trabalhos rotineiros e fastidiosos.

Se olharmos para trás, vamos provavelmente considerar que estas substituições trouxeram muitas vantagens para a humanidade. Se por um lado as máquinas vieram acabar ou diminuir postos de trabalho em várias profissões, por outro lado esta substituição veio permitir que as pessoas se pudessem dedicar a novas profissões. É verdade que já não existem Aguadeiros ou Lavadeiras, por exemplo, mas novas profissões estão a emergir, como Engenheiro de Segurança Informática, Analista de SEO ou Arquiteto de Informação.

Então, porque razão esta terceira era é tão assustadora?

É que a terceira era da automatização substitui as pessoas nas decisões, com escolhas mais rápidas e fiáveis. E isto é algo que já estamos a sentir, por exemplo, nas decisões de concessão de crédito, nos seguros ou no aconselhamento financeiro.

 

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Quadro 1: As 3 eras da automatização (adaptado de Davenport & Kirby, HBR, R1506C)

 

Num mundo estático esta seria uma ameaça devastadora. Mas a realidade é dinâmica e devemos olhar não para a ameaça, mas para a oportunidade de crescimento. Se por um lado muitos dos nossos postos de trabalho irão ser substituídos por máquinas, a maior eficiência e diminuição de custos que daí advém irá permitir desenvolvermos outras vertentes, tal como aconteceu nas anteriores eras de automação. Ainda existem muitas competências humanas que as máquinas não conseguem imitar.

Nos dias de hoje, o sucesso depende muito mais da inovação constante do que só da redução dos custos. Se por um lado as empresas estão a substituir postos de trabalho por máquinas, essas mesmas máquinas poderão ser um valioso auxiliar das pessoas no desenvolvimento de novas soluções. Reparem, das PESSOAS. Porque as pessoas são fundamentais para fazer a diferença, pela sua criatividade, pela capacidade de enquadrarem os dados, pela perceção das emoções, pela atenção ao que é diferente e na descoberta do seu potencial.

É que muitas vezes o sucesso não é racional. O sucesso vem da capacidade que o ser humano tem de ver para além dos dados, percebendo muitas vezes as ligações improváveis. E com mais e melhores dados fornecidos e analisados pelas máquinas podemos desenvolver muito mais.