“Fui a uma conferência sobre felicidade. Os conferencistas não pareciam nada felizes.”

Nassim Nicholas Taleb

 

A felicidade no trabalho é um dos temas mais em voga na atualidade. As pessoas querem ser felizes. E não querem ser felizes apesar do trabalho, querem ser felizes também no trabalho e com o trabalho.

Conscientes desta aspiração das pessoas, as empresas têm investido fortemente na felicidade. As empresas contratam happiness managers para gerir a felicidade dos seus trabalhadores e fazem tudo para aparecerem nos rankings de melhores lugares para trabalhar. Quer façam isto por sincero apreço pelas pessoas e desejo de as ver felizes ou de forma cínica como investimento na atracão e retenção das pessoas mais competentes, sinceramente, é um pouco irrelevante (de forma sincera ou não, as medidas são tomadas).

Mas se o “porquê” é (na minha opinião) irrelevante, o “como” já é muito relevante. Muitas das iniciativas de promoção da felicidade são cosmética. É giro e simpático oferecer massagens no local de trabalho, fruta e alimentação saudável, mesas de ping-pong, ter umas instalações todas modernaças, mas… isso apenas contribui para a dimensão hedónica da felicidade, que está relacionada com o prazer. A felicidade no trabalho requer mais do que isso. Requer também uma componente eudaimónica (significado do trabalho, contributo para um objetivo meritório, etc.), uma componente cognitiva (envolvimento no trabalho, o conhecido flow) e uma componente afetiva (relações positivas com pessoas que nos façam sentir bem). E é aqui que entra a dificuldade.

A aposta na renovação de instalações, estabelecer parcerias com prestadores de serviços (massagens, fruta, ginásio, etc.) requer, é certo, um certo compromisso da organização mas é essencialmente um compromisso financeiro. Gasta-se dinheiro e as coisas acontecem. Mas dar significado a um trabalho irrelevante é mais complicado, tornar um trabalho aborrecido desafiante e entusiasmante é um grande desafio, criar um ambiente em que todos se sintam bem pode significar dispensar algumas pessoas problemáticas mas geradoras de receita.

Vamos olhar apenas para o significado e contributo e pegar num exemplo extremo. Imaginem trabalhar numa empresa que fabrica armas, que todos os dias contribui para a morte ou estropiamento de milhares de pessoas em zonas de conflito. Neste caso, nem é um trabalho irrelevante, é um trabalho numa organização que tem um impacto claramente negativo na sociedade. Não será por colocarem uns pufes coloridos na sede que a empresa passa a ter um impacto positivo na sociedade. Se calhar será preciso mudar de ramo e deixar de ter aqueles lucros avultados. É uma decisão simples (no sentido de ser fácil de compreender), mas difícil de tomar.

Acontece o mesmo com a componente cognitiva. Imaginem ter um trabalho que é repetitivo e aborrecido, que não exige a vossa criatividade, nem sequer vos permite serem criativos ou inovadores. É provável que umas massagens ao longo do dia ajudem a aliviar e a descontrair por momentos, mas mal acaba a massagem, volta o velho e aborrecido trabalho. Reformular todo o método de trabalho da empresa para que as pessoas possam ter tarefas que despertem o seu interesse e lhes permitam ter um dia de trabalho desafiante requer um compromisso muito maior do que meros mimos para compensar o trabalho chato. Mais uma vez, é uma ideia simples de compreender, mas difícil de implementar.

Em resumo, para o trabalho nos fazer felizes tem que responder a 4 dimensões: hedónica (prazer), eudaimónica (significado), cognitiva (desafio), e afetiva (relações). A dimensão hedónica é fácil de ativar. Pode até distrair-nos por algum tempo. Mas é insuficiente.