As empresas americanas declaram que a diversidade de género é uma das suas prioridades, mas o progresso nesta área não só é lento, como está estagnado!
Em Portugal temos registado alguns progressos, mas mais uma vez estamos “na cauda da Europa” e “a meio do pelotão” a nível mundial, no que se refere à presença das mulheres nos orgãos de gestão das grandes empresas.
As conclusões não são minhas, são de um estudo feito pela McKinsey & Company em parceria com a LeanIng.Org relativamente ao paradigma atual das mulheres no mercado de trabalho em 2018. O estudo refere que apenas 38% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres e apenas 23% destes representam cargos de CEO.
Sou mulher, trabalho numa empresa dirigida por uma mulher, mas estando a terminar mais um mês onde comemoramos o Dia Internacional da Mulher, já aqui abordado sobre a perspetiva familiar, não podia deixar passar esta data sem trazer para análise alguns dados recentes sobre as mulheres no mercado de trabalho.
Após quatro anos de pesquisa contínua e utilizando dados de 462 empresas norte-americanas que empregam mais de 19,6 milhões de pessoas (incluindo as 279 empresas participantes no estudo de 2018), complementados com questionários realizados a mais de 64.000 funcionários sobre as suas experiências no trabalho e uma série de entrevistas a mulheres de diferentes raças e etnias, estas entidades chegaram a duas conclusões muito claras:
- primeira conclusão: as mulheres continuam a ser sub-representadas a todos os níveis;
- segunda conclusão: para se alcançar um progresso real, as empresas devem focar a sua atuação ao nível da contratação e da promoção.
O estudo refere que desde a sua primeira versão (2015) não se tem verificado grande evolução nas empresas para melhorar a representatividade das mulheres. Estas são sub-representadas em todos os níveis. Há 30 anos que há mais mulheres licenciadas do que homens, mas ainda não conseguem negociar promoções e salários em “pé de igualdade”. Como refere Sheryl Sandberg, diretora das operações do Facebook e fundadora da LeanIng.Org, organização que apoia as mulheres pela igualdade entre géneros, as mulheres estão a cumprir a sua parte!
Também ao nível de contratações e promoções, mais uma vez as mulheres estão em desvantagem. Apesar dos seus níveis de formação, a probabilidade de serem contratadas para cargos mesmo de níveis inferiores é baixa e a disparidade aumenta quando subimos na hierarquia, onde a representação das mulheres é escassa. Enquanto 100 homens são promovidos a cargos de direção, apenas 79 mulheres alcançam essa posição.
E o estudo vai mais longe, refere mesmo que para se alcançar a igualdade, as empresas precisam de passar das boas intenções às ações.
Muitos são os fatores que contribuem para a falta de diversidade de género no ambiente de trabalho e os dados são preocupantes. O relatório deste ano examinou de perto três desses fatores, nomeadamente:
- a discriminação no dia-a-dia;
- o assédio sexual;
- a experiência de se ser a única mulher num departamento.
Ser a “única” é uma experiência comum para muitas mulheres. Uma em cada 5 mulheres diz que muitas vezes é a única mulher que alcançou aquele cargo, a única mulher na direção ou uma das únicas no departamento e as suas experiências de trabalho são consideravelmente piores do que as mulheres que trabalham com outras mulheres.
Isto traz-nos outros problemas:
– mais de 80% destas mulheres estão expostas a microagressões, em comparação a 64% das mulheres como um todo. A probabilidade de questionarem as suas habilidades é maior, são muitas vezes submetidas a comentários não profissionais e depreciativos, para além de sentirem que não podem falar sobre as suas vidas pessoais.
Bem menos homens dizem serem os “únicos” – apenas 7% deles – e obviamente não são tão julgados.
– 35% das mulheres sofrem assédio sexual em algum momento da sua carreira, desde ouvirem piadas sexistas a serem tocadas de forma imprópria. Se falarmos das mulheres que chegaram ao topo das suas carreiras, 55% foram assediadas.
E agora você está a pensar, tudo bem, mas os dados apresentados são de uma realidade diferente da nossa (Norte-Americana). Contudo, numa notícia publicada pelo Expresso, em fevereiro de 2019, com referência ao estudo apresentado, pode ler-se:
“Portugal supera Espanha e Itália no equilíbrio de género nas empresas, mas está “bastante distante” do Norte da Europa e EUA, apesar de estar demonstrado que comissões executivas com mulheres geram retornos 40% superiores”.
A consciência do impacto positivo da diversidade nas equipas de gestão e liderança é hoje inquestionável, mas é preciso que as empresas passem das boas intenções para ações concretas.
A Mckinsey aponta ainda a Portugal quatro grandes áreas que nos afastam de outros países no que respeita a estas matérias:
- a perceção de compromisso por parte das linhas de gestão ao mais alto nível;
- o investimento em infraestruturas como creches ou soluções de mobilidade;
- a flexibilidade de carreira e horários;
- ‘networking’.
Mas a diversidade de género nas empresas terá de ser um compromisso de todos nós: Estado, empresas e cidadãos. O Estado até pode impor medidas, criar incentivos e no seu conjunto estas medidas até podem trazer algum impacto, mas isoladas são incapazes de resolver um problema desta natureza.
As mulheres estão a fazer acontecer, mas para podermos alcançar a igualdade é preciso que haja um compromisso assumido por todos.
E a sua empresa está a fazer a sua parte?
https://www.mckinsey.com/featured-insights/gender-equality/women-in-the-workplace-2018/pt-br