Na próxima 6ªf comemora-se mais um Dia Internacional da Mulher e é comum ouvirmos dizer que este dia já não se justifica ou que é uma injustiça, pois não há um dia do Homem. Será?

Porquê um Dia Internacional da Mulher? Será que o objetivo é ter um dia para mimar as mulheres ou será que o que importa é chamar atenção para as desigualdades que ainda se verificam?

Numa primeira aproximação, parece ser um dia para mimar e a panóplia de opções para presentes e programas especiais é cada vez maior. Mas talvez tudo isto não passe de uma distração daquilo que realmente importa.

Pessoalmente, muito me agradaria sentir que não faz sentido um Dia da Mulher, mas os números levam-me a pensar que este dia continua a ser extraordinariamente importante.

Apesar da evolução que se tem verificado em matéria de igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, os números da desigualdade ainda falam mais alto. Um dos indicadores mais gritantes é a desigualdade salarial que ainda se verifica: segundo o Eurostat, uma mulher em Portugal ganha em média menos 17,5% do que um homem. São cerca de 2 meses de salário!

Mas o que está por detrás destes números?

A lei obriga a termos “salário igual para trabalho igual”, mas é preciso também ter em conta a progressão nas carreiras e o acesso a cargos de liderança. Serão as mulheres menos capazes?

Não me parece que hoje em dia seja essa a questão. Olhando para os números, parece-me que o grande motor da desigualdade ainda é a vida familiar.

De acordo com um estudo publicado recentemente pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, as mulheres dedicam 3h48 por dia, nos dias úteis, a trabalho não remunerado (da casa e dos filhos).

Apresentação1
Parte das responsabilidades familiares suportadas pelas mulheres: Mulheres que vivem com um homem e têm trabalho pago (43%=100%). Fonte: Fundação Francisco Manuel dos Santos

Uma mulher efetua, em média, 74% das tarefas domésticas, enquanto o homem com quem vive efetua, em média, 23% (esta percentagem é ligeiramente superior, 26%, para os casais em que a mulher tem menos de 40 anos). Os 3% restantes são feitos pela ajuda externa remunerada. Os casais que se podem considerar «simétricos» na distribuição destas tarefas são menos de um terço (30%). Nos restantes mais de dois terços, elas fazem mais ou muito mais do que o companheiro.

Este estudo conclui que ao ritmo que evoluiu a contribuição do homem para a execução das tarefas domésticas na última geração, faltam entre cinco e seis gerações para que se igualem as posições da mulher e do homem nos casais em que ambos trabalham fora de casa.

Com este acréscimo de tarefas, é natural que o cansaço aumente e a energia para o trabalho remunerado seja inferior, com o consequente impacto negativo na progressão nas carreiras e o acesso a cargos de liderança. Mesmo no caso de mulheres que não estão sujeitas a este acréscimo de trabalho, muitas vezes é culturalmente percebido que uma mulher precisa de estar mais disponível para o apoio à família, não sendo consideradas para funções que requerem uma maior dedicação no trabalho.

Outro fator importante é a parentalidade. Cada vez é dada uma maior importância à participação dos homens no apoio aos filhos. A licença parental partilhada entre pai e mãe vem contribuir para uma maior igualdade embora, de acordo com o CITE, apenas pouco mais de um terço dos pais esteja a usufruir deste direito.

A questão da desigualdade ainda é muito cultural e, na minha opinião, uma das formas de a combater é dando mais direitos aos homens. Sim, aos homens. Se a legislação evoluir no sentido de realçar a importância do apoio dos homens à família, a tendência será para cada vez mais casais que partilharem as tarefas domésticas e o apoio à família, gerando assim as condições necessárias à igualdade entre homens e mulheres.

Quando atingirmos a paridade já não será necessário um Dia Internacional da Mulher. Até lá, não nos ofereçam flores, partilhem tarefas.