Durante as últimas décadas as empresas, aproveitando os efeitos da globalização e a liberalização económica que se verificou no Mundo, confiaram nas redes interconectadas de cadeias de abastecimento para desenvolver os seus negócios e melhorar as suas margens. Desde o ano 2000, segundo a Organização Mundial do Comércio, as exportações de mercadorias no mundo quase que duplicaram, passando de 6,5 biliões de dólares para quase 13 biliões de dólares, tornando o globo numa rede onde circulam mercadorias e matérias-primas beneficiando os Estados, as empresas e os consumidores.

Organização Mundial do Comércio 2020
Fonte: Organização Mundial do Comércio 2020

 

Neste período as empresas melhoraram a eficiência das suas cadeias de abastecimento, com ganhos ao nível da gestão dos inventários, da redução do tempo e do custo. No entanto, o aumento da dependência face a fornecedores noutras partes do mundo conduziu a um aumento do risco de falha nas cadeias de abastecimento globais.

Uma vez que não é possível às empresas garantir ou controlar a totalidade do fluxo de materiais, serviços e informação desde a fonte de matéria-prima até ao local de consumo (uma vez que os agentes económicos não se encontram no mesmo espaço físico), torna-se fundamental gerir eficazmente as cadeias de abastecimento.

Numa cadeia de abastecimentos existem dois tipos de fluxos:

  • Fluxos físicos: correspondem à transformação, armazenagem e transporte;
  • Fluxos de informação: são tão ou mais importantes que os anteriores e permitem a coordenação de toda a cadeia de abastecimento.

Num contexto de crise como a que vivemos, as cadeias de abastecimento tornam-se desarticuladas e ineficazes. Os fluxos físicos e de informação são quebrados, com consequências diretas na atividade das empresas. Por exemplo, em Portugal, grande parte das empresas do setor têxtil estiveram em risco de parar não por falta de condições sanitárias, mas porque deixaram de ter matéria-prima, proveniente sobretudo de países asiáticos. É assim necessária uma abordagem que permita às organizações gerir as suas cadeias de abastecimento, para as tornar mais resilientes e permitir o retomar da atividade.

Segundo o estudo elaborado pela consultora Capgemini, as empresas deverão ser ágeis ao nível das cadeias de abastecimento, adaptando-se à evolução da situação e adotando diversas medidas.

Por um lado deverá ser reavaliada a procura do cliente e melhoradas as previsões para ajustar as operações em conformidade. Durante o planeamento de vendas e operações deverá ser criado um perfil da procura do futuro consumidor com a construção de vários cenários antes de serem tomadas decisões acerca da cadeia de abastecimento, como o transporte e a logística.

Por outro lado, as empresas deverão avaliar as estratégias a adotar para retomar as operações e desenhar um plano que lhes permita voltar ao trabalho de forma faseada. Nesta fase é importante tornar mais ágil a cadeia de abastecimento. Na China, por exemplo, a empresa Master Kong, líder na produção de alimentos e bebidas, decidiu monitorizar constantemente os planos de reabertura da rede de lojas de retalho, o que lhe permitiu abastecê-las três vezes mais rápido que a concorrência.

É também importante retomar o ritmo das operações e preparar para recomeçar a atividade regular, criando novos planos de produção a longo prazo, avaliando as prioridades e analisando eventuais estrangulamentos na produção. A criação de um stock de segurança é chave, principalmente de mercadorias e matérias-primas complexas que exijam a colaboração entre vários fornecedores.

É também importante gerir a rede de fornecedores, com o recurso a fornecedores locais (encurtando a cadeia de abastecimento) e a fornecedores de múltiplas regiões do mundo (diversificando a cadeia de abastecimento), monitorizando de perto os elos da cadeia para que se reduza o risco de falhas no abastecimento de mercadorias e matérias-primas. Torna-se assim fundamental a transmissão da informação entre parceiros (clientes e fornecedores).

A gestão eficiente dos parceiros a montante ou a jusante da organização (fornecedores e clientes) permite entregar valor ao cliente final a um custo menor para todos. Ter uma cadeia de abastecimento eficiente é também uma fonte de vantagem competitiva face à concorrência.

A crise atual teve consequências diretas nas cadeias de abastecimento globais, provando que um choque externo inesperado poderá provocar a paralisação de setores inteiros da economia. Num cenário como este as empresas deverão agir rapidamente, atuando sobre as suas cadeias de abastecimento. A análise do ambiente externo e a capacidade de planear e adaptar as redes de abastecimento são chave para ultrapassar rapidamente esta conjuntura, tornando as empresas mais resilientes e permitindo o desenvolvimento da sua atividade.

E a sua empresa, está a gerir eficazmente a cadeia de abastecimento?