Nos últimos meses as nossas preocupações direcionaram-se para a situação pandémica que vivemos e para a consequente crise económica, que já se sente e se prevê que venha ainda a ser consideravelmente agravada, e as questões ambientais foram quase esquecidas.
É frequente em períodos de crise esquecermos o ambiente, mas será que ambiente e desenvolvimento económico são duas questões incompatíveis?
De acordo com dados das Nações Unidas, em 2050 serão necessários os recursos de 3 planetas Terra para fazer face ao consumo da população mundial. Mas só existe um planeta Terra! A realidade é que muitos temos consciência deste facto, mas ainda pensamos na necessidade de trade off entre desenvolvimento e sustentabilidade que muitas vezes não estamos disponíveis para fazer.
Será mesmo assim? Ou os princípios da sustentabilidade ambiental podem contribuir para um maior desenvolvimento económico?
De acordo com um estudo recente da Cambridge Econometrics, Trinomics e ICF, citado no “Plano de Ação para a Economia Circular: Para uma Europa mais limpa e competitiva”, estima-se que a aplicação dos princípios da economia circular à economia da UE pode gerar um aumento adicional de 0,5 % do PIB até 2030, criando cerca de 700 mil novos postos de trabalho.
Para as empresas, um dos benefícios mais facilmente percebido da Economia Circular é o decréscimo de custos com matérias-primas, que hoje representam, em média, 40% dos custos da produção industrial ou artesanal.
Para os cidadãos os benefícios passam, por exemplo, por uma maior durabilidade dos produtos e por um menor consumo energético destes.
Este paradigma resulta na adoção de modelos de negócio inovadores em que o serviço tem um papel preponderante, sendo primordial desenvolver um sólido relacionamento com os clientes.
Alguns hábitos esquecidos também voltam a ter lugar, renascendo por exemplo negócios ligados a reparações e ao recondicionamento de produtos. Paralelamente ganham espaço inovações que permitam dar nova vida a produtos em fim de ciclo ou a resíduos.
Mas todo este trabalho tem de começar logo na fase de conceção do produto, recorrendo ao ecodesign, uma vez que até 80% do impacto ambiental de um produto é determinado na fase da conceção.
Paralelamente é preciso redesenhar processos produtivos com base na circularidade, olhando para cada uma das suas fases, reduzindo e eliminando o desperdício, podendo assim gerar reduções substanciais de custos.
Na hora de investir em novas máquinas e equipamentos, há que ter em conta o princípio basilar da Economia Circular: a utilização eficiente de recursos e o mais duradoura possível, avaliando não só os benefícios de determinado equipamento no curto-prazo, mas também os seus benefícios e impactos no longo-prazo para que exista uma correta perceção do seu custo-benefício.
Modelos de negócio inovadores como a economia de partilha podem ser integrados ao longo das cadeias de valor, promovendo uma utilização mais exaustiva e duradora de um mesmo bem, contribuindo também assim para uma maior racionalização dos custos.
As tecnologias digitais e os princípios da Indústria 4.0 serão um valioso apoio para a circularidade e para a desmaterialização da economia podendo gerar reduções substanciais de custos ao longo das cadeias de valor e criar maior valor acrescentado.
Com estes princípios, sustentabilidade ambiente e desenvolvimento económico andam de mãos dadas. Basta que se apoiem ideias inovadoras e que cada um tome consciência de que as suas opções do dia-a-dia quer a nível pessoal, quer profissional são determinantes.
A crise gerada pela Covid-19 é uma oportunidade. Uma oportunidade para, na resposta a esta crise, investirmos numa economia sustentável para as pessoas e para o planeta.
Está preparado para fazer a sua parte?