“O melhor líder é aquele que passa despercebido. Quando se conclui a tarefa, a equipa diz: «fomos nós que fizemos»” – Lao Tzu

Quer ser um líder?

Claro que quer. Quase toda a gente quer. Os líderes são carismáticos, visionários, inspiradores, apaixonados e transformacionais. Muito melhor que os gestores e chefes, que são aborrecidos, burocráticos, controladores, mesquinhos, etc.. E também muito melhor que os seguidores, aqueles carneirinhos desorientados que, sem a orientação divina dos líderes, se atirariam de precipício em precipício.

Esta visão muito romantizada da liderança justifica que, nos EUA, todos os anos, cerca de metade do investimento feito em formação esteja relacionado com o desenvolvimento de competências de liderança. Justifica que encontremos em qualquer livraria dezenas de livros sobre liderança. Justifica também que, até em revistas generalistas, surjam artigos com testes e dicas para, rapidamente e sem dificuldade (e muitas vezes sem qualquer fundamentação), todos sermos melhores líderes em todas as circunstâncias. Esta visão muito romantizada da liderança e toda esta literatura popular traz dois potenciais inconvenientes: levar-nos a não entender qual é o real cerne da liderança, e convencer-nos de que existe uma forma ideal de liderar.

Ao contrário do que muita da literatura popular pode fazer crer, o cerne da liderança não é o líder. O importante na liderança não é o estilo, as características, o comportamento ou o carisma do líder. O cerne da liderança é, isso sim, a equipa. O importante na liderança é garantir que a equipa tem todas as condições para atingir o seu objectivo. Nesse sentido, o líder não existe para ser inspirador, carismático, visionário, apaixonado ou transformacional. O líder existe para maximizar as probabilidades de a equipa atingir o sucesso. Por vezes, isso pode exigir que o líder seja inspirador, carismático, visionário, apaixonado ou transformacional. Outras vezes, pode exigir que o líder simplesmente não atrapalhe. Umas vezes, exige que o líder fale, outras vezes exige que o líder escute. Umas vezes, exige que o líder tome a iniciativa, outras vezes exige que o líder acompanhe a iniciativa de outros. Umas vezes exige que o líder mude tudo, outras vezes exige que o líder não mude nada.

Isto significa que todos os segredos e dicas de liderança se podem resumir a uma única regra: liderar apenas projectos pelos quais estejamos apaixonados. É uma regra muito simples de entender, o que não significa que seja fácil de aplicar. E esta regra faz sentido por duas razões. Em primeiro lugar, há que ter em atenção que a liderança é uma tarefa muito exigente e desgastante. Havendo paixão, haverá muito mais energia para enfrentar todas as dificuldades e resiliência para manter o foco. Em segundo lugar, a paixão pelo projecto / equipa faz com que a nossa preocupação seja o sucesso do projecto / equipa e não a nossa imagem. Ou seja, diminui a tentação por acções de grande visibilidade pessoal mas reduzido valor para os objectivos do projecto / equipa.

Regressando à questão inicial, já terá ficado claro que a formulação “quer ser um líder?” é uma pequena rasteira. A liderança não deve ser um desejo, mas sim um serviço. O melhor líder não é o que está focado em ser líder, o melhor líder é o que está focado no sucesso do projecto / equipa que lidera.