A sombra da crise financeira internacional paira sobre o mundo empresarial desde 2008. Em função disso muitas empresas cancelaram, adiaram ou redefiniram os seus investimentos estratégicos, preferindo orientar os seus esforços para gestão à vista, ou de curto prazo. A gestão diária das operações consome a maior parte do tempo dos empresários, relevando para segundo plano o planeamento e a execução estratégica.

Robert Kaplan e David Norton defendem que foi assim que muitos gestores descobriram da pior forma que a Lei de Gresham1 se aplica ao mundo empresarial. Ao investir a maioria do seu tempo na gestão dos “maus” fatores e resolução de problemas operacionais acabaram por relevar para segundo plano importantes discussões e implementações estratégicas.

Um barco que não sabe para onde navegar, rapidamente se encontra à deriva. O mesmo acontece com muitas empresas hoje em dia.

Estes factos demonstram a importância do planeamento estratégico nas empresas. Ao definirem onde querem estar no longo prazo, os gestores podem planear os caminhos que querem percorrer e gerir as suas operações em função disso mantendo o foco nos objetivos.

Os investimentos estratégicos permitem à empresa alocar verbas para os objetivos de longo prazo, não comprometendo a gestão de tesouraria. Esta gestão financeira é essencial para as empresas obterem vantagens competitivas no mercado.

Os projetos de investimento podem ser transversais e abranger diversas áreas da empresa. Desde o planeamento estratégico e a inovação organizacional, ao marketing, passando pelos investimentos em meios produtivos, investigação, tecnologias de informação e comunicação e economia digital, distribuição e logística, marketing e design, formação e qualificação dos recursos humanos entre muitos outros fatores de competitividade, todos devem ser considerados na definição e planeamento do investimento estratégico.

Existem hoje em dia no nosso país, ao abrigo das várias áreas programáticas do quadro Portugal 2020, oportunidades importantíssimas de investimento estratégico para as empresas, tendo sempre como horizonte o reforço da competitividade do tecido empresarial português e a sua capacidade de intervir no mercado internacional.

Os investimentos estratégicos ao abrigo deste programa devem ser pensados como um todo, de forma a enquadrar as áreas e fatores críticos de negócio de cada empresa nos respetivos incentivos.

O sistema de incentivos “Inovação Produtiva” tem como objetivo apoiar financeiramente projetos de investimento empresarial em atividades inovadoras, que reforcem os processos de modernização das empresas. A prioridade vai para a inovação, diferenciação e diversificação de bens e serviços com alto valor acrescentado nacional e que contribuam para a criação de cadeias de valor mais alargadas. São exemplos de despesas enquadráveis nestes sistemas o reforço dos meios de produção (máquinas e equipamentos), equipamentos informáticos, transferência de tecnologia e patentes, serviços de engenharia, estudos entre outros custos.

Por outro lado, o sistema de incentivos “Internacionalização” tem como objetivo capacitar as empresas para iniciar ou aumentar o seu processo de exportação apoiando projetos que reforcem as condições das PME trabalharem os mercados internacionais através da implementação de novos modelos empresariais e a qualificação específicas dos seus ativos nestes domínios. São enquadráveis despesas que confiram às empresas dimensão internacional nomeadamente participação em feiras e exposições no exterior, prospeção e captação de novos clientes, ações de promoção em mercados externos, entre outras.

Tal como no sistema “Internacionalização”, o sistema de incentivos “Qualificação” procura promover o aumento da competitividade internacional das PME e a sua capacidade de desenvolvimento de produtos e serviços com elevado valor acrescentado. São elegíveis despesas que enquadrem os projetos nos domínios imateriais da competitividade, nomeadamente a introdução de novos métodos de organização do trabalho, desenvolvimento de redes modernas de distribuição e criação ou adaptação de negócios à economia digital e conceção e registo de marcas. São elegíveis também despesas relativas á incorporação de princípios de eco-eficiência e economia circular, proteção de propriedade industrial e despesas de formação profissional relevantes para as estratégias de inovação, internacionalização e modernização das empresas potenciando o desenvolvimento de atividades com uso intensivo de conhecimento e de tecnologia.

Um projeto integrado que abranja todas estas áreas é uma mais-valia para as organizações ao demonstrar um plano estruturado e sustentado de crescimento da empresa e alinhado com as prioridades de investimento para Portugal. Os investimentos previstos no projeto deverão ser pensados e enquadrados na(s) candidatura(s) correspondente(s), maximizando dessa forma as condições de acesso das empresas aos apoios disponíveis.

Os projetos de investimentos funcionam assim como ”moeda boa” ao serem vetores estratégicos e fontes de agregação de valor e de aumento da competitividade das empresas.

E você? Qual é a moeda que tem para troca na sua empresa?

 

1 Lei de Gresham – a lei de Gresham é um princípio económico que afirma que uma moeda sobrevalorizada (moeda má) expulsa uma moeda subvalorizada (moeda boa) do mercado. Este princípio pode ser generalizado utilizando fatores maus mas sobrevalorizados que expulsam do “mercado” fatores bons subvalorizados tal como utilizado por Kaplan e Norton em artigo para a Harvard Business Review (Jan2008).