Conceber um produto ajustado ao consumidor de um país menos desenvolvido, em vez de adaptar esse consumidor para um produto feito para consumidores dos países mais desenvolvidos é a nova forma de inovar e começa a ganhar cada vez mais seguidores.

Este novo conceito, designado por Inovação Reversa, é da autoria de Vijay Govindarajan, professor da Tuck School of Business, nos Estados Unidos, e o fator que propiciou o seu aparecimento tem sido a crescente importância dos mercados emergentes depois da crise económica e financeira que abalou nos últimos anos os países do Ocidente.

No modelo tradicional a inovação tinha a sua origem num país desenvolvido e posteriormente era adotada nos mercados emergentes. A inovação reversa é precisamente o oposto, uma vez que a inovação parte das subsidiárias instaladas nos países emergentes sendo numa fase seguinte exportada para os países desenvolvidos. É uma nova realidade que está a alterar as “regras do jogo” e que promete perdurar nos próximos anos.

Apesar deste modelo de inovação ainda ser pouco usual entre as grandes empresas globais, algumas multinacionais como a Coca-Cola, General Electric (GE), Microsoft, Nestlé, Renault, entre outras, já se encontram a utilizar esta abordagem com resultados positivos comprovados no mercado.

Por exemplo, a Nestlé desenvolveu um macarrão seco de baixo teor em gordura originalmente destinado à venda na Índia rural. No entanto, rápido se apercebeu que esse mesmo produto poderia ser comercializado também na Austrália e na Nova Zelândia como um produto “healthy” de baixo custo.

As principais vantagens para aquelas que incorporam nos seus projetos a inovação reversa são claras: conseguem crescer, aumentar o seu lucro e as suas margens e ampliar o mercado em que atuam, atingindo novos consumidores. Estas empresas conseguem criar novas parcerias, adquirir novos conhecimentos e aumentar o valor das suas marcas.

Em tempos globais, o facto das empresas optarem por esta via para inovar gera benefícios não só para os países emergentes, que passam a poder aceder a novos produtos até então inacessíveis, verificando-se um aumento do nível de emprego e consequentemente do rendimento disponível das famílias, como também para os países desenvolvidos, que passam a aceder a produtos mais baratos.

Pode-se dizer que a inovação reversa tornou-se na bolha de oxigénio de que muitas empresas precisavam para o seu crescimento e desenvolvimento sustentável, uma vez que constitui uma ferramenta poderosa na arte de encontrar diferentes e valiosas ideias com impacto a nível global, permitindo à empresa ficar numa posição de vantagem em relação aos outros.

Veja-se o caso de grande impacto da GE, uma das empresas pioneiras a implementar com grande sucesso a inovação reversa. A GE apercebeu-se que na Índia existia uma deficiência a nível do diagnóstico da doença cardíaca, uma vez que a máquina com capacidade para executar esse teste apenas estava disponível nos hospitais, sem possibilidade de se transportar em virtude do seu peso avultado, a uma grande distância do acesso à maior parte da população, já para não mencionar o seu custo extremamente elevado. Era necessário conceber um equipamento que atendesse a todas estas condicionantes intrínsecas daquele país, daí que a GE não perdeu tempo e construiu um eletrocardiograma portátil, de fácil mobilidade, permitindo que qualquer pessoa o conseguisse transportar, com uma bateria para que tivesse autonomia para várias horas e sem ser necessário o acesso a rede móvel.

Esta pequena máquina proporcionou crescimento à GE e hoje já se encontra à venda em vários países, entre eles os Estados Unidos. Este novo equipamento, após ter sido exportado, foi incluído nas ambulâncias permitindo um diagnóstico quase instantâneo da doença sem ser necessário chegar ao hospital. Este caso é um clássico de inovação reversa: uma inovação que começou numa economia emergente, a Índia, e que transformou o mundo.

Apesar de todos estarem conscientes da potencialidade dos países emergentes para criar novos negócios, quando se trata de inovar nestas economias, gestores e líderes têm alguma dificuldade em superar as limitações impostas por estes e aproveitar as facilidades que oferecem uma vez que acabam por se esquecer que o primeiro passo deve ser a compreensão da sua situação económica, contextos sociais e técnicos, para que evitem cair em uma ou mais armadilhas mentais que os impedem de ter êxito no desenvolvimento da inovação.

Mas de que forma é que os gestores podem evitar essas armadilhas?

  1. Definir o problema independentemente da solução rejeitando soluções pré-concebidas;
  2. Criar uma solução ótima usando a flexibilidade de design disponível: embora nos mercados emergentes existam muitas limitações, eles oferecem igualmente muitas oportunidades que a empresa que está a inovar pode aproveitar de diversas formas;
  3. Compreender a paisagem técnica: no desenvolvimento do design do produto é crítico compreender os requisitos técnicos do local onde o produto irá ser utilizado e assim adaptá-lo consoante essas condições;
  4. Testar o produto com o maior número de partes interessadas possível: quanto maior for o número de pessoas a participar no processo de experimentação dos protótipos desenvolvidos maior será a perceção da empresa sobre o que realmente os potenciais utilizadores desejam e assim fazer as adaptações que considere necessárias;
  5. Usar as restrições do mercado emergente para criar vendedores globais: é fundamental depois do produto concebido distribuí-lo pelo maior número de retalhistas possível para que este chegue aos consumidores finais num curto espaço de tempo;

O resultado final deverá ser um produto com aceitação geral e que tenha em conta todas as condições impostas, não só pelo próprio mercado, como também pelos consumidores finais. É um longo processo de aquisição de novas aprendizagens em que líderes e gestores necessitam de estar recetivos a novas ideias dentro da organização, reformular estruturas, desenvolver novos métodos de produção e reorientar a força de vendas.

Citando Vijay Govindarajano processo de inovação tem sucesso quando a engenharia criativamente cruza com a estratégia”.

A próxima grande inovação pode ser criada pela sua empresa. De que é que está à espera?