Num mercado global, as empresas têm um elevado número de países onde podem desenvolver os seus negócios. Os processos de internacionalização permitem às empresas aumentar os seus mercados, baixar custos de produção e aumentar a rendibilidade das suas operações. Estes processos expõem as empresas aos riscos dos países onde operam e/ou vendem.
O contexto político, económico, social, tecnológico, ambiental e legal (PESTAL) de cada país é único e representa um risco que deve ser gerido, o Risco do País (Country Risk).
Este conceito pode ser definido, pelo método mais tradicional, como um conjunto de fatores (“sub-riscos”) associados ao investimento em determinado país e interligados entre si:
– O Risco Político reproduz o impacto no desenvolvimento do negócio resultante de mudança ou instabilidade política e engloba alterações ao nível do governo, legislação, medidas protecionistas ou outras de política externa, bem como a ameaça de controlo militar do país. As decisões políticas impactam transversalmente todo o contexto de um país;
– O Risco Cambial resulta nos efeitos que as oscilações nas taxas de câmbio têm na empresa a curto e a médio/longo prazo. A curto prazo afeta a capacidade da empresa fazer ou receber pagamentos em moeda estrangeira. A longo prazo o impacto reflete-se no balanço da empresa pela contabilização dos investimentos nos países em questão. Está relacionado com o risco político pelo impacto direto que as decisões políticas têm na economia;
– O Risco Económico, ou operacional decorre do efeito na capacidade da empresa ser competitiva no seu setor e gerar cash flows no futuro, em função de alterações cambiais, políticas ou outras. Este risco afeta também as empresas que operam apenas com uma base local. Por exemplo, uma empresa têxtil em Portugal tem que competir com as importações de países onde a mão-de-obra é mais barata, diminuindo a sua capacidade de produzir fluxos de caixa;
– O Risco Soberano, ou Risco da Dívida Soberana, está diretamente relacionado com os anteriores e revela a capacidade de determinado país cumprir as suas obrigações de pagamento no que à dívida soberana diz respeito. Tem impacto na empresa pelo agravamento resultante das condições políticas, económicas, cambiais, sociais, etc.;
– E o Risco de Transferências, ou Risco de Conversão, é probabilidade de perdas resultantes da impossibilidade de conversão de determinada moeda local para a moeda do país base da empresa. É acompanhada de restrições às transferências, impossibilitando a entrada e/ou saída de fundos e o pagamento a fornecedores, clientes ou o retorno de investimento estrangeiro. Um exemplo recente é a situação em Angola. O país tem colocado restrições às transferências internacionais e limita fortemente a saída de divisas do país em numerário. Ao mesmo tempo é muito difícil cambiar o Kwanza (AOA) fora de Angola;
Alguns autores defendem que o Risco Político, pela forma como se relaciona e influencia todos os outros “sub-riscos” atrás mencionados, é um eficiente representante do Country Risk.
Como pode uma empresa antecipar todos estes impactos?
Eiteman, Stonehill e Moffett, defendem que o Risco Político deve ser analisado a dois níveis, Micro e Macro.
O nível Micro diz respeito ao impacto das alterações políticas nas operações específicas da empresa e pode seguir os seguintes passos:
– Avaliar a estabilidade política do país em questão;
– Antecipar o efeito que possíveis mudanças políticas possam ter nas atividades da empresa;
– Tomar medidas de proteção ou minoração do impacto dessas alterações;
Estas análises requerem estudos minuciosos e adaptados à realidade de cada empresa, levados a cabo por profissionais qualificados. O impacto de determinada medida poderá ter impactos distintos em empresas de diferentes sectores e é necessário ponderar todos os fatores relevantes.
Por sua vez, o nível Macro considera o contexto do país e a sua análise poderá ser efetuada seguindo os seguintes passos:
– O estudo da estabilidade política histórica do país. Este é o ponto de partida essencial para a caracterização do risco político de um país;
– Verificação da existência ou não de tensões sociais, culturais, religiosas ou outras;
– Consulta regular dos media locais (jornais, radio, televisões), publicações académicas locais, opiniões e estudo de peritos de referência;
– Reuniões com empresários que tenham contacto com o país em questão e visitas a um ou vários pontos do país;
Existem várias bases de dados online com informação e classificação do risco dos países. Um exemplo são as bases de dados do World Bank, nomeadamente com o projeto Worldwide Governance Indicators (WGI) que agrega um conjunto de indicadores com fontes diversas e procura avaliar o modo como um país é gerido através do estudo dos costumes, políticas, processos, leis e instituições que afetam a forma como a autoridade é exercida.
Um exemplo que permite ver a evolução em Portugal das 6 áreas que compõe esta informação em 1996 (início dos dados) e 2015:
Voice and Accountability – mede a forma como os cidadãos podem participar na seleção dos seus governantes, engloba também a liberdade de expressão, de associação e de imprensa;
Political Stability – mede a perceção da estabilidade política, incluindo a probabilidade de ocorrência de violência com motivações políticas, incluindo terrorismo;
Government Effectiveness – engloba a qualidade dos serviços públicos e respetivo o grau de independência face a pressões políticas, a qualidade da definição e implementação das políticas e a credibilidade do empenho do governo nessas políticas;
Regulatory Quality – mede a capacidade do governo de formular e implementar políticas e leis que possibilitam e promovam o desenvolvimento do sector empresarial privado;
Rule of Law – reflete a confiança dos agentes nas regras da sociedade, em particular a qualidade da defesa do cumprimento de contratos, direitos de propriedade, tribunais, bem como a probabilidade de ocorrência de crime e violência;
Control of Corruption – Mede a forma como o poder público é exercido para proveito do sector privado, incluindo a pequena e grande corrupção, bem como a “captura” do Estado pelos interesses privados;
Fonte: worldbank
Este gráfico representa a posição relativa de Portugal face a todos os outros países do mundo nos anos assinalados. É possível verificar que hoje em dia (considerando atuais os dados de 2015) é mais arriscado investir em Portugal, em comparação com o ano de 1996. Com exceção do indicador Government Effectiveness, todos os outros indicadores apresentam valores mais baixos, o que representa uma degradação da posição relativa de Portugal e um aumento global do Risco do País.
Ao tomar medidas de antecipação e gestão de risco, é maximizada a possibilidade de obtenção de resultados positivos, aumentando a competitividade e promovendo o crescimento da empresa. Não é possível evitar o risco mas podem e devem ser implementados processos que façam a sua gestão.
“In a world of multinational businesses and global investors,
there is no place to hide from country risk.”
Aswath Damodaran.