A gestão de risco de crédito é um tema negligenciado em Portugal. Segundo o estudo realizado pela Crédito Y Caucíon 73% das empresas não tem qualquer tipo de política de conceção de crédito e 52% não controla a solvência dos seus clientes.
Mas afinal o que é o risco de crédito?
O risco de crédito refere-se à probabilidade de perda total ou parcial do reembolso dos créditos concedidos a clientes, bem como à probabilidade de atraso de pagamentos dos mesmos.
Compreende porquê é que este é um tema tão relevante?
A recessão, o aumento dos custos das matérias-primas, a subida das taxas de juro e o crescimento da inflação são fatores que estão a causar uma forte pressão na tesouraria das empresas. Até agosto, segundo o barómetro Informa DB apenas 19,3% das empresas cumpriram os prazos de pagamento, sendo que 5,6% das empresas pagaram a mais de 90 dias acima do prazo contratualizado.
Ainda no mês de agosto, segundo o relatório elaborado pela Crédito Y Caución as insolvências registaram um aumento de 116% face ao período homólogo do ano passado, confirmando a tendência de crescimento que se começou a verificar na segunda metade do primeiro semestre deste ano. Pela primeira vez em 2023, o acumulado ultrapassa o total de 2022, com um aumento de 2,3% e um valor absoluto de 2.485 insolvências.
Lisboa e Porto são os distritos com maior número de insolvências: 566 e 546, respetivamente. No entanto, os distritos que verificam maiores aumentos do número de insolvências são: Vila Real (+59%); Leiria (+38%); Beja (+36%); Madeira (+30%) e Braga (+28%).
Esta tendência irá manter-se até ao final do ano, uma vez que as insolvências requeridas em agosto por terceiros aumentaram 24% face a 2022, enquanto os pedidos de insolvência apresentados pelas próprias empresas cresceram 23% no comparativo com o ano passado.
Também os dados da Informa DB apontam nesse sentido, indicando um aumento de cerca 19,1% dos pedidos de insolvência até agosto. Os distritos com maiores aumentos de pedidos de insolvência são: Guarda (+100%); Leiria (+61,9%); Coimbra (+52,8%); Braga (+44,5%) e Setúbal (+41,8%).
Ainda assim, como anteriormente mencionado, 73% das empresas portuguesas não tem políticas de risco de crédito e 52% não controla a solvência dos seus clientes.
Como é que a sua empresa se pode ajustar a esta nova realidade e aliviar pressões de tesouraria?
Desde o início do século XX que as entidades bancárias aplicam modelos que permitem definir as políticas de conceção crédito por cliente.
Apresentamos, assim, um modelo baseado nos principais fatores de risco de crédito que são analisados pelos bancos portugueses. Este modelo aborda três grupos de riscos: Qualidade da gestão, risco intrínseco do negócio e risco económico e financeiro.
Para cada tipologia de risco são apresentados fatores de risco que devem ser classificados de 1 a 5, sendo que 1 corresponde ao nível de risco Muito Bom, ou seja, risco nulo ou quase nulo. Por oposição, 5 corresponde a um nível de risco Muito Mau, ou seja, é um fator de risco muito elevado.
Vejamos um exemplo do modelo:
Notar que o modelo apresentado é um modelo simplificado, para apurar o risco de crédito são utilizados 17 fatores de risco considerados pelos bancos portugueses.
Contrariamente aos modelos clássicos de risco de crédito, este modelo não se limita analisar o risco económico e financeiro que resulta dos dados contabilísticos, o modelo pondera também fatores de risco que advêm do conhecimento do cliente e do seu negócio, sendo estes fatores de risco preenchidos manualmente pelo utilizador.
Após preenchimento do modelo obtém-se a avaliação de risco do cliente. Da sua interpretação resulta que empresas classificadas com um risco Muito Mau ou Mau, não devem ser financiadas pela empresa ou devem ter crédito limitado, porque podem representar um risco elevado de incumprimento.
No exemplo acima apresentado, a decisão seria não conceder ou limitar o crédito concedido ao cliente que foi avaliado.
Notar que embora contabilisticamente o cliente apresente um baixo risco económico e financeiro, o risco associado à gestão e ao negócio do setor é elevado. Enquanto os modelos clássicos apontariam para a concessão de crédito este modelo adapta-se a outros fatores que vão muito além da contabilidade e fazem uma avaliação mais realista do risco do cliente.
Vantagens deste modelo:
- Realizar uma análise abrangente que tem por base várias tipologias de risco e não somente dados contabilísticos;
- Melhora a tomada de decisão;
- Permite evitar perdas financeiras e reduzir pressões de tesouraria;
- Facilita a adoção de medidas proactivas para mitigar o risco de crédito;
- Possibilita a definição de limites de crédito.
O modelo permite ainda analisar o risco de crédito da sua empresa aos olhos dos bancos e dos seus fornecedores, o que é crucial para garantir crédito junto às entidades bancárias e para garantir melhores condições de pagamento junto aos seus fornecedores.
E na sua empresa, já avalia o risco de crédito dos seus clientes?