Numa dinâmica económica frágil na qual as empresas revelam maior aperto financeiro, a obtenção de financiamento é crucial para garantir a sua continuidade. No entanto, segundo dados do Banco de Portugal, tem havido uma diminuição da atribuição de crédito bancário às Pequenas e Médias Empresas (PME):

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Entre 2019 e 2023 registou-se uma queda de -32,86% dos novos créditos bancários concedidos, tendo 2021 sido o ano em que a concessão de crédito foi menor. Após 2021 a concessão de crédito tem aumentado apenas em montantes superiores a 1 milhão de euros, que registaram um aumento de 21,19% entre 2021 e 2023. No mesmo período, a concessão de crédito em montantes inferiores 1 milhão de euros verificaram uma queda de -5,53%.

A escassez de crédito “tradicional” está a fazer com que as empresas procurem meios alternativos para financiar a sua atividade. Neste artigo exploramos essas alternativas, mas relembramos que devem ser complementadas com uma gestão de tesouraria adequada.

As alternativas ao crédito bancário podem ser repartidas em fontes de crédito alternativo e fontes de capital próprio através da abertura de capital.

1.Crédito Alternativo

O crowdlending e os fundos de crédito são duas fontes de crédito alternativas que existem em Portugal. Estas são fontes atrativas num cenário de escassez de crédito bancário, já que o seu acesso é menos restrito. No entanto, ambas as fontes apresentam encargos financeiros superiores e períodos de amortização menores (até 5 anos) quando comparadas com o crédito bancário.

Crowdlending

A dificuldade das PMEs em obterem financiamento junto à banca levou ao aparecimento de plataformas digitais de crowdlending, reguladas desde 2015 pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

O crowdlending é um tipo de crowdfunding, com condições similares às do crédito bancário tradicional, isto é, as plataformas fornecem financiamento de curto prazo e de médio/longo prazo, em contrapartida de juros. Regra geral estas fontes de crédito praticam taxas de juro fixas que por norma são superiores às praticadas pelas entidades bancárias.

Em Portugal atualmente já existem plataformas registadas na CMVM, como por exemplo a Raize, Querido Investi e a GoParity.

Fundos de Crédito (Loan Funds)

Outra fonte de financiamento alternativo são os fundos de crédito, que desde 2019 estão previstos na legislação portuguesa. De acordo com a CMVM, estes fundos de crédito têm como objetivo a concessão de empréstimos diretamente pelos fundos aos mutuários, isto é, às empresas.

Os fundos de crédito oferecem financiamento de curto e de médio/longo prazo de modo similar às plataformas de crowdlending. Os fundos de crédito praticam taxas de juro variáveis, com um spread superior aos spreads praticados no crédito bancário.

Em Portugal existe por exemplo a Five Credit marca da Circle Capital que disponibiliza financiamento para PMEs.

2. Abertura de Capital

Outra alternativa ao crédito bancário é aumentar o capital próprio através da entrada de novos sócios. Esta alternativa de financiamento não se limita à angariação de capital, também permite obter know-how dos novos sócios, que em alguns casos pode ser mais relevante que o capital angariado no curto prazo.

Este tipo de financiamento apresenta ainda as seguintes vantagens:

  • Não exige garantias reais ou pessoais, contrariamente aos empréstimos bancários;
  • Não contempla o pagamento de encargos financeiros, na vertente de reforço/constituição do capital próprio, prevendo, em alternativa, a partilha do risco e da valorização da empresa;
  • Facilita o acesso a capitais alheios, em consequência do fortalecimento da sua estrutura de capitais próprios.

A desvantagem desta tipologia de financiamento é ceder uma porção do capital próprio da empresa, sendo que caso ceda a uma participação maioritária, pode perder o controlo da empresa.

Business Angels

Os Business Angels são investidores individuais, normalmente empresários ou diretores de empresas, que investem o seu capital diretamente em PMEs com potencial de valorização. Esta forma de financiamento está disponível para negócios numa fase de arranque, mas também para empresas já estabelecidas.

Os Business Angels, em troca do seu capital, exigem uma participação minoritária no capital social da empresa durante um período temporário (3 a 7 anos). Estes investidores agregam ainda conhecimento técnico ou de gestão que permitem proporcionar orientação e mentoria ao negócio da empresa.

Em Portugal pode encontrar mais de 300 Business Angels na Investors Portugal.

Entidades de Capital de Risco

As entidades de capital de risco, de modo similar aos Business Angels, investem em empresas emergentes ou com elevado potencial de valorização, em troca de uma participação temporária (3 a 7 anos) no capital social da empresa. As entidades de capital de risco por regra investem montantes superiores aos Business Angels, sendo este um fator distintivo entre estas duas formas de financiamento.

As entidades de capital de risco focam-se em aumentar o valor da empresa, para que mais tarde possam vender a sua participação a um valor superior ao valor de aquisição. Para que isso seja possível tentam oferecer uma rede vasta de conhecimento e de contactos que permita potenciar o negócio no qual investem.

Equity Crowdfunding

O equity crowdfunding é feito através de plataformas digitais, onde as empresas colocam porções do seu capital social à venda para que qualquer investidor individual possa investir.

Comparativamente aos Business Angels e às entidades de capital de risco, esta alternativa permite obter financiamento de um leque alargado de investidores, sem haver qualquer tipo de interação pessoal entre os investidores e a empresa, ou seja, os investidores apenas agregam capital, contrariamente às restantes alternativas que agregam também conhecimento.

Em Portugal pode obter-se este financiamento, por exemplo, através da plataforma Seedrs, ou através de outras plataformas internacionais.

A entrada no capital social da empresa, não se restringe às alternativas aqui apresentadas, esta entrada pode ser realizada por qualquer pessoa em nome individual ou coletivo.

Destacar ainda que este tipo de financiamento alternativo requer uma avaliação cuidada do valor da empresa, para conseguir decifrar se o financiamento obtido compensa a venda da participação do capital social da empresa.

Ao longo deste artigo foram apresentadas diferentes fontes de financiamento alternativas que estão ao dispor das PME portuguesas. Estas formas de financiamento tornam-se cada vez mais atrativas devido à escassez atual de crédito bancário, já que permitem financiar a atividade e garantir a sua continuidade.

E você já considerou algumas destas alternativas?