A evolução tecnológica e a sua generalização tem vindo a alterar a forma como as sociedades vivem o seu dia-a-dia e como fazem os seus negócios.
Surgem tecnologias disruptivas com cada vez maior velocidade e aparecem novas oportunidades de negócio, quer sejam nas áreas das tecnologias da informação ou outras.
O financiamento é uma preocupação constante dos empreendedores, quer seja na fase de criação da empresa e de arranque das operações, quer numa fase mais madura, para efetuarem uma expansão, crescimento ou alterarem os seus processos produtivos.
Os financiamentos mais tradicionais incluem os capitais dos sócios, famílias e conhecidos, e também a aposta por parte de investidores que considerem a ideia viável e sustentável.
O financiamento bancário, quer seja de médio/longo prazo ou de curto prazo, continua a ser a principal fonte de financiamento a que os empresários portugueses recorrem na hora de alavancar os seus investimentos.
A recente crise financeira colocou os bancos sob pressão e o acesso ao crédito foi dificultado, com impacto sobretudo nas pequenas e médias empresas, muitas com gestão familiar e com dificuldades no planeamento e controlo financeiro do negócio.
Um jovem empreendedor, com uma ideia de negócio que necessite de desenvolvimento, validação e financiamento tem também dificuldades na angariação de investidores que suportem esta fase do projeto e de acesso ao crédito bancário.
Como financiar um projeto?
A revolução digital trouxe também novas formas de financiamento, como o crowdfunding. A sua origem remonta a 2006, mas os princípios subjacentes à ideia têm já alguns séculos, ligados à filantropia e ao apoio social.
O crowdfunding é um sistema de financiamento colaborativo (em grupo), suportado por grupos de pessoas que normalmente têm um interesse comum e demonstram interesse em determinado projeto de cariz social, cultural ou empresarial.
As campanhas de crowdfunding são geridas em sites especializados que aceitam a submissão de projetos de qualquer pessoa e o acesso a potenciais investidores.
Cabe ao empreendedor apresentar a sua ideia através de texto, vídeo, áudio, ou outros meios e despertar o interesse da comunidade de crowdfunders para o seu projeto.
O empreendedor cria a sua campanha, onde apresenta o seu projeto, estabelece a fase onde este se encontra e os meios que necessita para o desenvolver. Será necessário também definir o montante mínimo necessário para o viabilizar e o horizonte temporal em que decorrerá a operação de crowdfunding.
A campanha é bem sucedida se o empreendedor conseguir angariar o montante mínimo necessário no tempo que definiu. Caso isto não aconteça os fundos serão devolvidos aos investidores, ficando o projeto sem financiamento. Isto acontece na modalidade all or nothing. Existem também campanhas com flexibilidade nos objetivos, take it all, em que o valor angariado é atribuído, independentemente do objetivo, normalmente utlizadas em campanhas de solidariedade.
A credibilidade do projeto e a confiança dos empreendedores são essenciais neste sistema, onde as redes sociais assumem uma importância capital, pelo potencial de partilha de informação e de angariação de potenciais investidores.
Uma das principais vantagens de uma campanha deste género é a possibilidade de admitir investimentos baixos por parte de cada investidor individual, reduzindo o risco de cada um deles.
Numa fase inicial a campanha começa por ser partilhada com amigos e familiares, criando uma base de suporte e promoção do projeto e alargando progressivamente o seu alcance, chegando cada vez a mais potenciais investidores.
Os vários modelos de funcionamento de uma campanha de crowdfunding podem ser classificados como:
Doação – em que vários investidores/contribuidores doam pequenos montantes sem retribuição em troca (muito utilizado em campanhas de solidariedade);
Recompensa – os investidores recebem algo em troca pela sua contribuição ou investimento (pode ser o produto que está a ser desenvolvido, ou outra recompensa não financeira, como produtos promocionais, t-shirts, descontos, etc). Normalmente funciona por níveis em que os maiores investidores têm direito a uma recompensa de maior valor, procurando com isto angariar um maior montante de cada um;
Empréstimos Peer-to-Peer – o promotor da campanha recebe empréstimos dos vários investidores, retribuindo-lhes com um retorno financeiro. Tratam-se de empréstimos entre várias entidades sem a intervenção de uma entidade bancária;
Capital – nesta modalidade os investidores recebem uma parte do capital da empresa, tornando-se sócios do promotor e podendo contribuir também com os seus conhecimentos e competências para o desenvolvimento do projeto.
O crowdfunding tem vindo a ganhar relevância nos últimos anos. Os utilizadores destas plataformas gostam de contribuir com um valor monetário e com as suas opiniões, caso o projeto seja do seu interesse, e sentem-se desta forma envolvidos no processo.
Em Portugal este sistema é regulado pela Lei nº 102/2015 de 24 de Agosto, que define o Regime jurídico do financiamento colaborativo.
Este sistema tem impacto real nos modelos de financiamento das organizações e deverá ser avaliado na construção de projetos, quer para empreendedores, quer para empresas já estabelecidas. O número de sites dedicados a estas campanhas tem vindo a crescer e são cada vez mais uma alternativa a ponderar na hora de investir.
O crowdfunding dá poder a cada empreendedor e permite-lhe alcançar investidores em todo o globo. Para angariar financiamento para o seu projeto, o promotor passa a depender apenas de si, da sua ideia e da sua capacidade para a promover.
E você, já pensou como vai estruturar o seu investimento?