“Embora todas as organizações digam que as pessoas são o seu ativo mais importante, muitas decisões organizacionais sugerem o contrário”

Jay Barney

Já escrevi há tempos aqui sobre uma mudança importante que se tem verificado no contrato psicológico e na gestão de carreiras. Em resumo, as empresas deixaram de oferecer emprego para toda a vida e os trabalhadores deixaram de procurar segurança no emprego para procurar antes empregabilidade, ou seja, empregos que enriqueçam o seu CV e lhes permitam encontrar outros empregos quando aquele deixar de lhe ser oferecido.

Essa é a visão cor de rosa sobre a questão. A visão menos cor de rosa é que verificamos que muitas organizações são algo hipócritas quanto a esta mudança de paradigma. Vestem a camisola do “não há empregos para a vida” como argumento para não darem estabilidade às pessoas mas quando são as pessoas a quem não deram estabilidade que vão para outros desafios, assumem uma argumentação bastante diferente. Quando pessoas valiosas vão para outras organizações que lhes proporcionam o que a organização anterior não proporcionava, afirmam-se magoadas e traídas, falam em falta de lealdade e esquecem que “ainda no outro dia” discursavam sobre como já não há empregos para a vida e que é preciso abraçar os novos modelos de relação de trabalho.

O que estas organizações não percebem é que esse tipo de hipocrisia lhes retira a credibilidade junto das pessoas que mais tarde procurarão contratar. Duas das características que são cada vez mais evidentes nos profissionais atuais é que estes estão mais ligados e são mais preocupados com o seu propósito.

Estão ligados em dois sentidos: atentos ao que se passa (acompanham as ações que as organizações vão empreendendo e vão criando a sua perceção quanto aos valores dessas organizações) e fortemente conectados com a sua rede em quem confiam e a quem pedem referências e informações sobre entre outras coisas potenciais empregadores. Assim, a imagem que têm das organizações com que contactam dependem cada vez menos das mensagens que essas organizações fazem circular e cada vez mais das informações obtidas de fontes isentas e da confiança dos profissionais.

A questão do propósito é ainda mais relevante. Os profissionais atuais cada vez mais querem deixar uma marca positiva no Mundo. Dão mais valor a trabalhar em organizações e projetos que contribuam para uma Mundo melhor e dão menos importância a questões como salários, benefícios, etc. Ou seja, cada vez valorizam mais as motivações intrínsecas e menos as extrínsecas. Isto significa que estão menos dispostos a aceitar serem “subornados” para trabalhar para organizações que não pratiquem os valores que consideram importantes.

A conclusão é muito simples. A hipocrisia cada vez resulta menos. Os profissionais estão cada vez mais atentos e sabem o que as organizações “fizeram no verão passado” e para piorar, cada vez estão menos dispostos a fechar os olhos àquilo com que não concordam.

 

Mad HR representative pointing at door asking candidate to leave
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