Estamos em pleno século XXI e a igualdade de género continua longe de ser atingida. Passo a passo, um longo caminho tem sido percorrido neste sentido mas, apesar da reconhecida importância por muitos deste tema e de a nova geração de Millennials estar mais aberta, no último ano verificou-se um abrandamento da evolução. De acordo com o Global Gender Gap Report 2016 (Fórum Económico Mundial) a igualdade de género apenas será atingida no ano 2186, enquanto em 2015 se previa que esta fosse atingida em 2133: um atraso de 53 anos…

Neste estudo, que abrange 144 países, são analisados fatores como a educação, saúde e sobrevivência, oportunidades económicas e participação política. Enquanto na educação e na saúde e sobrevivência os índices de igualdade estão já em 95% e 96%, respetivamente, em termos económicos, a percentagem de paridade é de apenas 59% e na participação política ainda é mais baixa: apenas 23%.

E na Europa? Qual é a situação?

Segundo dados Eurostat, as mulheres representam praticamente metade da força de trabalho da União Europeia. No entanto, continuam a ter pouca expressão em cargos de topo, sendo que apenas 1 em cada 3 cargos de topo é ocupado por mulheres.

Não são apenas menos. As mulheres continuam a receber salários inferiores aos homens. Nas posições de topo, a diferença é de 23,4%, ou seja, se um gestor homem receber 5000 euros mensais, uma mulher no mesmo cargo recebe apenas 3830 euros. Em Portugal a diferença ainda é mais acentuada, sendo que uma mulher na mesma situação receberá apenas 3705 euros.

Alguns estudos1 defendem que a diferença salarial entre géneros é agravada quando a diversidade de género nas equipas de gestão de topo é menor. Outro fator é a maior aversão ao risco por parte das mulheres. Se por um lado este fator é visto como prejudicial à igualdade salarial, por outro lado uma maior diversidade de género nas equipas de gestão de topo conduz a menor risco e melhor performance das empresas. Na figura 1 apresentam-se alguns fatores atualmente considerados críticos para uma liderança eficaz e que podem contribuir para este sucesso.

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Figura 1: Atributos mais críticos para uma Liderança Eficaz (Valores em percentagem). Fonte: http://www.ketchum.com/leadership-communication-monitor-2014

Quando olhamos para estes dados verificamos que há ainda um longo caminho a percorrer mas que é um caminho que certamente valerá a pena.

Olhando para o nosso país é importante recordar que a nossa constituição apenas em 1976 reconheceu que “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei”. Em 1974 apenas 25% dos trabalhadores eram mulheres e ganhavam menos 40% que os homens. Uma mulher não podia exercer qualquer atividade económica sem autorização do marido e não tinha acesso a carreiras em magistratura, diplomacia, militar ou polícia.

O caminho percorrido foi longo. Agora é ter em mente tudo quanto homens e mulheres podem ganhar com a igualdade de género e cada um contribuir, fazendo a sua parte.

 

1 Alexa A. Perrymana, Guy D. Fernandob, Arindam Tripathyc, 2016, “Do gender differences persist? An examination of gender diversity on firm performance, risk, and executive compensation”, Journal of Business Research, Vol. 69(2), p. 579–586;

Mary Ellen Carter, Francesca Franco, Mireia Gine, 2017,  “Executive Gender Pay Gaps: The Roles of Female Risk Aversion and Board Representation”, Contemporany Accounting Research.