Penso que todos terão pelo menos uma ideia dos filmes Star Trek; penso que o primeiro lançado em 1979. Nas suas diferentes versões, e com diferentes atores, o enredo é similar: procuram-se novos povos e novos territórios explorando a última fronteira. Aventura abunda num contexto de novidade, com crises e acidentes que nos filmes de Hollywood são resolvidos pelos heróis.
Mas, o que têm os filmes Star Trek a oferecer à estratégia. Realisticamente nada! Filmes são filmes, independentemente da dose de ficção científica que envolvam, ou dos paralelismos que contenham com a vida real. E, a vida real das empresas é… real. Mas, há uma ideia que me parece interessante no processo como nos filmes Star Trek se exploram os espaços mais desconhecidos. Estes são espaços onde o risco é maior e, eventualmente, toda a nave espacial fica exposta a risco de perda total. Para as empresas a ideia que emerge é como entrar em espaços onde o risco é alto ou, posto de outra forma, que desconhecem totalmente.
Nos filmes da Star Trek quando surge uma nebulosa ou alguma anormalidade, um buraco negro, uma distorção magnética ou qualquer disfunção em que os scans da nave não penetram para ver o que se passa e o que está dentro, ou do outro lado – portanto, um espaço desconhecido e sobre o qual não há informação – enviam uma probe (uma sonda) para explorar o território e/ou fenómeno desconhecido. Enviam uma sonda espacial em vez de meter toda a nave nesse território desconhecido. Porquê? Porque caso o território seja especialmente adverso a perda fica limitada a uma sonda. Perder uma sonda é, convenhamos, mais barato e menos gravoso do que perder toda a nave espacial, tripulantes e passageiros.
E nas empresas? O paralelismo é simples: para entrar em territórios – mercados, produtos, tecnologias, etc. – que a empresa não conhece e que podem ser arriscados, seria melhor enviar uma sonda empresarial (em vez de uma espacial) mantendo protegida a empresa. Ou seja, para fazer os investimentos em negócios diferentes podemos pensar em enviar uma sonda que é perdida se as coisas correrem mal, mas mantendo protegida a integridade estrutural (financeira, técnica) da empresa. Uma sonda permite obter informação do que é e como é. A sonda permite obter dados e aprender, seja sobre o mercado, sobre o ambiente político, canais de distribuição, economia, economia informal e “forma de trabalhar”.
A essência é, então, bastante simples. Não vamos entrar em grandes aventuras de investimentos em tecnologias que não conhecemos, mercados que não temos competências e produtos em que não temos vantagem apostando toda a empresa nessa aventura. Nos casos em que o desconhecimento é alto podemos (talvez devamos) enviar uma pequena sonda – um pequeno investimento, talvez em parceria – que nos permite aprender mais e, ao mesmo tempo, nos permite manter um pé dentro. Se não houver perigo e a oportunidade for boa, então reforçamos o investimento e até enviamos um shuttle para por gente em terra. Se não houver oportunidade ou o risco for excessivo, o máximo que perdemos é a sonda.
A sonda estratégica é uma lógica interessante de pensarmos os investimentos de natureza mais exploratória. Se as empresas precisam gerir o presente mas preparar o futuro (onde temos já ferramentas como as matrizes BCG e McKinsey), então vamos utilizar sondas estratégicas para explorar opções futuras.
Pode parecer meio estranho fazer a apologia do cuidado nos movimentos que se fazem. Mas, a realidade é que muitos destes movimentos, ou ações, não são efetivamente baseados numa racionalidade estratégica sólida. São ideias (as que o vento leva) que podem facilmente pôr em risco toda a operação. Portanto, se é verdade que é necessário explorar o futuro e isso significa arriscar tecnologicamente, adotar novos procedimentos e técnicas e um geral “andar prá frente”, temos agora uma forma de pensar como o fazer: enviar primeiro a nossa sonda estratégica.
Para os interessados em entender as sondas estratégicas recomendo a leitura de “Competing on the edge” por Shona Brown e Kathleen Eisenhardt. Mais do que apenas estar na crista da onda da novidade, as empresas precisam ser flexíveis e adaptativas e, novamente, as sondas estratégicas podem permitir essa flexibilidade.
Boas leituras e boas explorações empresariais.