Portugal é o país europeu mais estagnado do ponto de vista económico. O nosso Produto Interno Bruto (PIB) per capita é 30 a 40 % inferior à média europeia. Além disso, temos:

  • mais de 430 mil desempregados;
  • 27% das empresas com capitais próprios negativos (muitas ainda lutam pela sobrevivência);
  • o nível de capital por trabalhador dos mais baixos da União Europeia (UE);
  • uma maturidade digital de 2 (numa escala de 1 a 4);
  • a 7.ª menor produtividade por hora de trabalho – 65% da média da UE27 (UE27= 100%).

Para melhorarmos estes dados é necessário investirmos na economia, mais concretamente nas empresas, são as empresas que criam riqueza e obrigatoriamente a recuperação económica tem de passar pela transformação digital. As empresas com maior maturidade digital são as mais produtivas e as que oferecem melhores salários. O consumo cada vez mais passa pela experiência e não pela materialidade, pelo que cada vez mais estudos estão a considerar que o futuro do crescimento e da produtividade está na desmaterialização: na troca de ativos tangíveis por ativos intangíveis.

Um artigo da Bloomberg de Outubro de 2020 refere que se pegássemos em todos os ativos físicos (tangíveis) das empresas pertencentes ao Índice S&P 500 [1] e se os vendêssemos não chegaríamos a conseguir 20% do valor total do índice (mais de 28 triliões de dólares), o que significa que tudo o resto (84%) eram ativos intangíveis.

Uma pesquisa da Mckinsey, a mais de 860 executivos em 11 grandes economias (Estados Unidos e 10 países europeus) revela que as empresas mais produtivas, as que apresentam um valor acrescentado bruto (VAB) [2] superior investem 2,6 vezes mais em ativos intangíveis do que as empresas menos produtivas.

ativos tangíveis e intangíveis
Qual a diferença entre ativos tangíveis e ativos intangíveis?

 

O estudo realizado pela Mckinsey procurou explorar a correlação entre o investimento em ativos intangíveis e a produtividade de setores, economias e empresas e os dados mostraram que independentemente do setor, da economia ou da empresa, os que investem mais em ativos intangíveis crescem mais que os seus pares.

Em todos os setores existem empresas mais produtivas que outras. Uma das principais descobertas é que as empresas que investem em intangíveis estão a superar os seus pares.

Fonte: Adaptado de Mckinsey.

 

A diferença entre elas aumentou sobretudo em setores cuja transformação digital foi forçada, como é o caso dos serviços financeiros onde a diferença aumenta para 5 a 7 vezes. Mesmo em setores como a indústria onde o crescimento foi menor, até porque os ativos tangíveis ainda têm grande peso, as empresas que apresentaram maior desempenho apostaram em ativos intangíveis, como as marcas, para conquistar novos nichos ou outros mercados. As empresas mais produtivas no setor do comércio a retalho investiram até 8 vezes mais em intangíveis do que os seus pares. Mais lojas físicas deram lugar a novas fontes de crescimento não só através das lojas online, mas também através dos dados e das análises que a interação digital está a permitir, direcionando os negócios em tempo útil em função dos “desejos” dos seus clientes.

Ao contrário dos tangíveis, os intangíveis são interdependentes e as empresas que investem neles obtém maiores sinergias. As empresas que estão a investir em todas as categorias destes ativos (inovação, dados e análise, capital humano e marcas) apresentam uma maior maturidade digital, menor risco de serem ultrapassadas (porque são altamente inovadoras) e têm maior probabilidade de atrair os melhores talentos e retê-los. 

Mas investir em ativos intangíveis não chega para impulsionar o crescimento. As empresas antes de os adquirir necessitam de pensar como introduzi-los e implementá-los no negócio de forma construir recursos que criem uma vantagem competitiva. Tanto as empresas mais produtivas como as menos produtivas, independentemente do setor, são consensuais ao admitir que as capacidades dos ativos intangíveis são fundamentais ao crescimento e à competitividade, mas enquanto as menos produtivas pouco exploram estas capacidades, as mais produtivas retiram delas todos os benefícios.

 As empresas que apresentam melhor desempenho não só investem mais em intangíveis, como também assumem riscos para os implementar e desenvolvem capacidades necessárias para acelerar o impacto. Não basta comprar uma base de dados, é preciso haver uma estratégia de análise desses dados com critérios rigorosos, tomada de decisão em tempo útil, estruturas flexíveis, talento e inovação nas operações do dia-a-dia.

Reavaliar de forma contínua o tipo de intangíveis com maior probabilidade de proporcionar competitividade e crescimento é a chave para o sucesso. Talvez o segredo passe pela criação de uma equipa de controlo que monitorize as habilidades de que a empresa necessita, qual o IP que fornecerá a próxima “fatia” de vantagem competitiva e em qual área o capital de inovação se deve concentrar. Trata-se de um processo extremamente hábil cujo fracasso pode implicar custos muito elevados para as empresas.

Então como podemos imaginar o crescimento de amanhã?

O investimento em ativos intangíveis aumentou exponencialmente nos últimos 25 anos e a pandemia acelerou esta transição para uma economia desmaterializada. A composição do crescimento terá de ser um pouco diferente no futuro e aqui os intangíveis terão um papel maior, porque o potencial para a criação de valor é enorme. De acordo com os dados apurados pela Mckinsey, se mais 10% das empresas atingissem o mesmo nível de investimento em intangíveis e crescimento agregado que as empresas de melhor desempenho, o crescimento das economias da OCDE aumentaria cerca de 2,7% em todos os setores desses países.

As empresas que estão a acompanhar esta “era”, cada vez mais impulsionada pela inovação e pelo conhecimento, estão a investir fortemente em ativos intangíveis e estão a reforçar dia após dia a sua vantagem competitiva alcançando elevadas taxas de crescimento e produtividade.

E a sua empresa já faz parte desta “nova geração de empresas”?

 

 

[1] O índice Standard And Poor’s 500 (S&P 500) é um índice do mercado de ações composto com as 500 maiores empresas do mundo pertencentes às principais bolsas de valores dos Estados Unidos. Este índice é considerado como o termómetro do mercado global de ações, uma vez que as ações cobertas por ele refeltem aproximadamente 80% da cobertura de capitalização de mercado de ações dos Estados Unidos.

[2] Valor Acrescentado Bruto (VAB) proporciona uma imagem da capacidade competitiva das empresas, quanto maior for o valor criado, maior é a propensão para as margens do negócio serem superiores.