O provérbio é antigo, mas bem atual na realidade nacional. Já aqui referimos que em 2019 apenas 16% das empresas portuguesas cumpriram o prazo de pagamento acordado com os seus fornecedores (44,3% foi a média europeia). Esta situação tem vindo a agravar-se nesta última década, colocando Portugal nos últimos países com a mais baixa taxa de empresas cumpridoras das datas de pagamento acordadas.

O mais assustador é que estes números não derivam, na maioria dos casos, de problemas financeiros ou de liquidez, mas sim de lideranças e culturas empresariais erradas.

Contudo, e apesar de ainda ser precoce tirar conclusões, os dados da Informa D&B mostram que mesmo atravessando um cenário pandémico com disrupções transversais à atividade das empresas de todos os setores e dimensões, o agravamento no cumprimento dos prazos de pagamento foi ligeiro. O número médio de dias de atraso passou de 26 em 2019 para 27 em agosto de 2020, mesmo num contexto de significativa quebra de receitas. Em Agosto de 2020 apenas 40% das empresas agravaram os atrasos nos pagamentos (+12 dias); dois terços das empresas continuava a pagar a mais de 30 dias após o prazo e as empresas com os atrasos mais significativos mantinham os mesmos níveis relativamente a 2019.

Informa D&B
Fonte: Informa D&B

Claramente, a recessão relacionada com a pandemia terá um forte impacto na gestão de tesouraria. As receitas inferiores reduzem os fluxos de caixa e aumentam a pressão na saída dos pagamentos. Mas o problema é antigo. A maioria dos empresários não dá importância aos prazos de pagamento, usando os fornecedores como financiadores da sua tesouraria.

Vejamos então as graves consequências que os atrasos nos pagamentos causam nas empresas.

  1. Dificuldades de Tesouraria

Comprometem a capacidade das empresas em cumprir os seus compromissos. No momento em que o cliente não paga todo o planeamento financeiro é comprometido, porque se há menos receita é mais difícil manter as contas em dia. Neste sentido, a empresa ou tem uma estrutura de capitais permanentes que lhe permite cobrir as suas necessidades ou terá de recorrer a um empréstimo criando mais dívida e torna-se um ciclo vicioso com repercussões em cadeia.

Muitas empresas entram em insolvência devido a problemas de liquidez e não por falta de negócio. 

  1. Dificuldades em realizar novos investimentos

Se a empresa não consegue prever com exatidão o valor dos seus recebimentos dificilmente aposta em novos investimentos, porque não tem forma de garantir que os consegue pagar, comprometendo todo o crescimento do negócio. Pior, pode mesmo ter de reduzir gastos para se manter ativa e isso pode implicar a diminuição da sua capacidade operacional.

Mas as empresas não vivem só para pagar contas!

  1. Quebra de confiança nas relações com os clientes

Todas as relações de negócios são baseadas na confiança. Neste sentido é necessário ter especial atenção na hora de realizar as cobranças. Se o método ou a abordagem não for o mais adequando a confiança pode ser quebrada, desgastando a relação. E assim, para além de perder o cliente, a empresa arrisca-se a perder o dinheiro. Se optar pela cobrança judicial terá despesas adicionais e no final terá de gastar mais dinheiro para angariar novos clientes.

Os atrasos nos pagamentos afetam diretamente a capacidade de gerir as empresas e perante um tecido empresarial como o nosso, composto sobretudo por microempresas onde apenas 1 em cada 3 tem capacidade para enfrentar uma crise financeira, o resultado pode ser desastroso.

 

Como resolver o problema?

Existem algumas estratégias sobre como acelerar os pagamentos e o que fazer caso não se receba, ainda que a melhor maneira de evitar atrasos é tentar antecipa-los. Então vejamos alguns exemplos:

  • Coloque tudo por escrito – ajuda a formalizar as relações, a ter os prazos delineados de forma clara, incluindo os juros que podem ser aplicados no atraso pelos pagamentos, e serve de base num eventual processo judicial;
  • Obtenha um pagamento antecipado – demonstrando assim que o pagamento é uma parte importante da relação e desta forma a empresa consegue gerir melhor as suas despesas;
  • Fature prontamente e com frequência – não deixe a faturação para o final da semana ou do mês, fature com frequência. Desta forma ajuda no orçamento dos seus clientes e mantém um fluxo de caixa regular. Assim que terminar cada etapa, envie a fatura ao seu cliente, nem que para isso junte uma prova do trabalho desenvolvido até à data;
  • Antes da fatura vencer relembre de forma cordial o seu cliente – um serviço ativo de cobranças demonstra cuidado da sua parte. Relembre as várias formas possíveis de pagamento e, nos casos que se justifique, as vantagens de adesão ao débito direto. Se possível ofereça descontos de pronto pagamento;
  • Se necessário flexibilize o pagamento – se tem conhecimento que o cliente está com dificuldades financeiras, proponha planos de pagamento. Quanto mais tempo deixar passar, pior.

Face ao exposto, é urgente que as empresas comecem a olhar para o cumprimento dos prazos de pagamento a fornecedores, especialmente numa altura tão critica como a que vivemos onde a falta de liquidez é um dos maiores problemas da economia, das empresas e até das famílias.

Está na hora de transformar este ciclo vicioso num ciclo virtuoso em que todos ganham.

A mudança começa em cada decisão de pagamento, numa atitude responsável. Como refere António Saraiva, presidente da CIP (Confederação Empresaria de Portugal): ser empresário também é isso, honrar compromissos”.