Historicamente as empresas em Portugal são pouco cumpridoras dos prazos de pagamento das suas obrigações comerciais. Se observarmos o comportamento de pagamentos em Portugal e na Europa (figura 1) percebe-se que o cumprimento dos prazos de pagamento tem vindo agravar em Portugal ao longo da última década, afastando-se cada vez mais da média europeia que tem evoluído positivamente neste período. Enquanto que em 2019, apenas 16% das empresas em Portugal cumpriram o prazo de pagamento acordado, na União Europeia este valor situava-se nos 44,3%, um diferencial de 28,2%.
As conclusões deste último estudo dão conta que em agosto deste ano apenas 15,4% das empresas em Portugal pagavam dentro dos prazos acordados com os seus fornecedores, verificando-se um ligeiro agravamento face ao período antes do início da pandemia (em que se situavam nos 16%).
Figura 1: Comportamentos de pagamento – Portugal e Europa
O incumprimento dos prazos de pagamento é transversal a todos os setores, no entanto de acordo com este estudo agravou-se mais nos setores que tem sofrido um maior impacto da Covid-19, como é o caso do setor do alojamento, restauração e transportes.
De acordo com o estudo ‘Payment Study 2020’ elaborado pela CRIBIS D&B, que analisou 38 países de 4 continentes, Portugal apresenta a taxa mais baixa de empresas cumpridoras das datas de pagamento acordadas. O top 3 de empresas mais cumpridoras é ocupado pela Dinamarca (86,9%), Polónia (78,7%) e a Lituânia (76,9%).
Neste momento a tesouraria de muitas empresas está sob grande pressão e o cumprimento dos prazos de pagamento é crucial para manter o fluxo de entradas e saídas de dinheiro equilibrado e garantir a sustentabilidade da empresa.
Como sabemos a grande maioria das transações comerciais entre empresas não são feitas a pronto pagamento pelo que existe sempre um risco associado ao recebimento do valor em causa ou atraso por parte do cliente.
O risco de delinquency, que perspetiva a probabilidade de nos próximos 12 meses uma empresa pagar aos fornecedores com atrasos superiores a 90 dias, calculado pela Informa D&B, dá conta que existem 52 mil empresas (maioritariamente microempresas) com risco médio-alto e elevado.
O acompanhamento da evolução da situação de pagamentos e os seus atrasos é especialmente relevante no cenário atual. Avaliar a probabilidade de cada cliente faltar com o pagamento das suas dívidas é crucial para fazer uma gestão do risco de crédito que minimize os riscos e que permita à empresa credora lidar com os eventuais danos causados pelo atraso ou pelo não pagamento.
Um dos métodos utilizados para medir o risco de crédito dos clientes é denominado de “Os 5 C’s de Crédito”. Esta ferramenta amplamente utilizada vai avalisar 5 dimensões:
- Caráter: Avalia o histórico do devedor, no que diz respeito ao cumprimento das suas obrigações financeiras, e a sua reputação no mercado. São analisadas as transações realizadas no passado e qualquer tipo de processos judiciais pendentes ou concluídos contra o cliente serão utilizados para avaliar o caráter do cliente;
- Capacidade: Avalia o potencial do cliente para pagar o crédito solicitado. Deve ser realizada uma análise às demonstrações financeiras, com especial incidência nos rácios de liquidez, endividamento e rentabilidade de forma a avaliar a capacidade do devedor;
- Capital: Avalia a solidez financeira do cliente, de acordo com o património da empresa;
- Colateral: É avaliado pelos ativos que o cliente coloca à disposição com o objetivo de garantir o crédito. Normalmente, quanto maior forem as garantias dadas em troca do crédito, maior será a probabilidade de se recuperar o valor creditado, em caso de incumprimento;
- Condições: Avalia a atual situação financeira do cliente, as suas perspetivas e potencial para crescimento ou declínio.
Ter em atenção cada uma destas variáveis no processo de concessão de crédito é o ponto de partida para uma tomada de decisão mais segura minimizando os riscos associados, uma vez que são avaliados um conjunto de indicadores críticos do cliente.
Esta ferramenta pode ser utilizada, não só para avaliar o risco de crédito dos clientes, como também pode funcionar como uma ferramenta de autoavaliação da própria empresa e constatar a sua condição enquanto requerente de crédito.
Para além de realizar uma análise rigorosa dos 5’C’s de crédito tenha também em atenção estas boas práticas:
- Atualizar e monitorar as regras de crédito: Ter por si só uma política de gestão de crédito implementada não é suficiente. É necessário que esta seja monitorizada e atualizada com alguma regularidade de acordo com as informações relevantes de cada cliente;
- Definir limites de crédito: Para que a empresa no futuro evite grandes perdas é crucial definir um limite seguro de crédito para cada cliente e definir alertas sempre que esse montante esteja prestes a ser atingido ou já tenho sido ultrapassado;
- Implementar um sistema de gestão de cobranças: Ter um procedimento eficaz de cobranças é crucial para que consiga diminuir os atrasos de pagamento, esquecimentos e falhas dos seus clientes;
- Dispor de um seguro de crédito: Os seguros de crédito permitem-lhe cobrir o risco de não pagamento de créditos.
E na sua empresa, já avalia o risco de crédito dos seus clientes?