Este é sem dúvida um momento extraordinariamente difícil para todas as empresas.

O COVID-19 está a mudar a economia e o comportamento dos consumidores. Todas estas alterações estão a acontecer ao mesmo tempo, de uma forma rápida e sem precedentes, mudando substancialmente a maneira como aprendemos a fazer negócios.

A situação atual é disruptiva e ninguém consegue prever com certezas o que estará para vir. Para muitas empresas isto significa que o seu negócio foi interrompido e o seu fluxo de caixa está a desaparecer. Neste sentido, torna-se importante repensar o modelo de negócio e verificar se este funciona no contexto atual e futuro, de forma a garantir a sobrevivência das empresas.

Algumas empresas, durante a sua existência, são forçadas a adaptar os seus modelos de negócio, porque os originais não criam valor para os clientes e ou não geram resultados para a empresa. Outras atuam proactivamente quando veem novas oportunidades a surgir no ambiente competitivo onde se inserem, tirando vantagem.

Depois de alguns dias conturbados com grandes fluxos de informação e algumas medidas reativas para evitar grandes perdas, parece que algumas organizações começam a descobrir novas oportunidades, porque como em todas as crises, esta é mais uma que cria não apenas desafios, mas também oportunidades.

O mundo está diferente. A realidade que conhecemos hoje poderá não ser a mesma amanhã e apesar da mudança ser dolorosa, pode também ser boa.

Mas por onde começar?

Com base na experiência pela qual a China está a passar e tendo em conta vários casos de sucesso de empresas proativas, é possível identificar 3 opções estratégicas de resposta aos desafios do COVID-19.

 

  • Opção 1: Oferecer os mesmos produtos em canais diferentes

Uma das opções estratégicas apontadas passa por oferecer os mesmos produtos ou serviços por meio de um canal online. Já aqui falámos nas potencialidades do e-commerce e da criação de lojas online, e talvez nunca tanto como agora, essa realidade faz tanto sentido. Mesmo os mais céticos, em período de confinamento acabam por se render e experimentar.

Quando uma das empresas chinesas de cosméticos Lin Qingxuan foi forçada a fechar 40% das suas lojas, as suas vendas diminuíram 90%. No entanto, a empresa reformulou a sua estratégia e colocou os seus vendedores como influenciadores online. No dia dos namorados, criou uma campanha de compras em grande escala e apenas um dos seus vendedores conseguiu, em duas horas faturar o equivalente a 4 lojas físicas em igual período. Em fevereiro, as vendas da empresa subiram 120% em relação ao ano anterior.

De acordo com o Jornal Expresso, desde que o isolamento social começou os portugueses assumem passar mais 62% do seu tempo online. As pesquisas de compras online cresceram 513%, especialmente no setor alimentar, mas o impacto nas áreas Casa e decoração e Eletrónica também dispararam. Apesar das lojas online estarem atualmente a enfrentar grandes desafios logísticos, existe aqui uma grande oportunidade de negócio que várias empresas já estão a aproveitar. Por exemplo, a Worten criou o Drive Thru que permite recolher encomendas feitas por telefone sem sair do carro, a 360imprimir criou um supermercado online – 360hyper.pt, a Uber Eats alargou os seus serviços a farmácias, pet shops e lojas de conveniência, entre muitas outras.

 

  • Opção 2: Utilizar a mesma infraestrutura oferecendo produtos diferentes

A pandemia provocou uma diminuição da procura de muitos dos produtos e serviços que conhecemos, resultando numa subutilização das infraestruturas organizacionais. Fábricas operam em subcapacidade, restaurantes, bares e hotéis foram obrigados a fechar portas, prestadores de serviços ficaram sem mercado.

Mas apesar da necessidade de alguns produtos ter diminuído, a procura de outros aumentou exponencialmente e algumas empresas estão a aproveitar essa mudança alterando processos de fabrico para produzir produtos/ serviços diferentes.

Assim que se aperceberam que o desinfetante estava a tornar-se escasso, inúmeras empresas de perfumes, bebidas alcoólicas e até foguetes passaram a produzi-lo em poucos dias. Também os fabricantes de automóveis modificaram as suas linhas de produção para fabricar dispositivos médicos. O inventor dos aspiradores sem fio Dyson construiu um ventilador em apenas 10 dias depois de receber um pedido do primeiro ministro britânico.

A capacidade das empresas se reinventarem não tem limites e talvez esteja na hora de tirar aquela ideia da gaveta. Contudo, algumas empresas estão a alterar as suas infraestruturas para responder a uma necessidade da pandemia, mas outras já estão a pensar além da crise, em como poderão responder a necessidades futuras.

 

  • Opção 3: Criar parcerias para promover a partilha de recursos

Enquanto o cenário é trágico para uns, outros começam a ficar sem capacidade de resposta. Para responder à procura dos seus produtos e serviços, algumas empresas precisam de aumentar rapidamente a sua capacidade de produção e/ou entrega. Encontrar neste momento novas infraestruturas não será uma tarefa fácil, pelo que há empresas a inventar soluções para estas lacunas.

A Amazon anunciou recentemente que pretende contratar mais de 100.000 funcionários nos EUA para responder à crescente procura dos compradores online e para tal fez uma parceria com uma empresa de transportes – a Lyft, em que irá utilizar os seus motoristas em cargos de armazém e entregas.

Na China, este modelo de partilha há muito que se tornou um modelo de negócios popular, já que as empresas trocam bicicletas, carros e mais recentemente funcionários. Também na Alemanha, os funcionários do McDonalds receberam permissão para trabalhar nas lojas Aldi, enquanto os seus restaurantes se encontram fechados. O contrato de locação dos funcionários é feito por período limitado e todos os funcionários têm liberdade de retomar ao seu trabalho assim que os restaurantes reabrirem.

Em Portugal esta prática não existe e o nosso Código do Trabalho apenas prevê a deslocação de funcionários dentro da mesma organização. No entanto, falamos de situações temporárias excecionais que podem salvar empresas, postos de trabalho e orçamentos familiares até porque corremos o risco de as empresas aumentarem as suas capacidades produtivas para fazer face a situações pontuais criadas pela pandemia e no após crise ficarem com mais um problema para resolver. Talvez esteja na hora de encarar esta possibilidade.

Por necessidades de curto prazo e perante este ambiente pandémico, as empresas têm sido mais reativas do que proativas, mas também é certo que para responder estrategicamente a esta crise é necessário alguma criatividade, ousadia e vontade de agarrar novos oportunidades.

E você vai aceitar o desafio e ser proativo?