As empresas enfrentam atualmente um aumento da concorrência que se traduz na redução das suas margens. É então necessário tomar decisões mais ajustadas às suas necessidades e ao mercado. Para responder a estes desafios deve-se conhecer e gerir melhor os custos.
A medição correta dos custos nas empresas é fundamental para a obtenção de resultados. No entanto, o elevado grau de complexidade das organizações torna a medição de custos num verdadeiro desafio.
Para além dos custos diretos, que são facilmente identificados no produto final, como o custo das matérias-primas usadas na fabricação ou a mão-de-obra, existem também custos indiretos que muitas vezes não são identificados nos produtos finais.
Na tentativa de diferenciação e criação de valor para o cliente as empresas passaram a incorporar, não só o trabalho e matérias-primas no produto em si, mas também as atividades de suporte como o marketing e publicidade, o atendimento ao cliente, a distribuição e as funções administrativas que aumentaram a importância do conhecimento de todos os custos indiretos associados.
Numa tentativa de resposta a este desafio surgiu um método de custeio desenvolvido por Cooper e Kaplan baseado nas atividades ou ABC (Activity-Based Costing). É um método alternativo ao tradicional que se apoia em atividades para imputar não só os custos relacionados diretamente com a produção, mas também os custos indiretos. Este método pode ser aplicado a empresas industriais, comerciais e de prestação de serviços.
A função do ABC não é substituir o sistema de custeio tradicional da contabilidade financeira. Esta segue regras legais na preparação das demonstrações financeiras e reporte ao exterior. O ABC é um complemento do sistema tradicional que pretende munir os gestores de informações para tomar decisões estratégicas acerca dos custos. Não é apenas um método de cálculo do custo de produção mas sim um método de controlo de gestão.
Mas em que consiste o ABC?
Ao contrário do custeio tradicional, a principal filosofia do ABC é que a imputação de custos indiretos aos produtos deve ser feita através das atividades que lhes dão origem. É necessário saber quanto é que cada produto gasta em cada uma dessas atividades. Os custos indiretos são assim abordados como se fossem custos diretos das atividades, assumindo a qualidade de cost drivers.
Um cost driver é assim uma medida da produtividade da atividade o que permite afetar o custo destas atividades aos produtos.
Cooper e Kaplan propuseram um processo de duas etapas para conceber um sistema ABC com três regras. O primeiro passo é recolher dados precisos sobre custos diretos de mão-de-obra e material e o segundo passo para examinar a procura por produtos específicos no consumo indireto de recursos.
As três regras que devem orientar o processo são:
- Focar em recursos valiosos e de utilização dispendiosa;
- Enfatizar recursos cujo consumo varia significativamente por produto e tipo de produto;
- Concentrar nos recursos cujos padrões de procura não estão correlacionados com as medidas tradicionais de repartição, como mão-de-obra direta, tempo de processamento e materiais.
Os passos sequenciais a seguir na implementação de um método ABC segundo Cooper e Kaplan são os seguintes:
- Identificar as atividades que consumem os recursos da organização;
- Determinar as atividades chave e os processos de negócio na organização;
- Estimar os custos das atividades e processos de negócio que são executados;
- Determinar a quantidade de atividades necessárias para o desenvolvimento do produto da organização.
Considere-se agora um exemplo de uma fábrica de peças que produz dois produtos em quantidades diferentes: 16 de Alfa e 18 de Beta.
Produto | Quantidade |
Alfa | 16 |
Beta | 18 |
Cada um dos produtos tem custos diretos imputáveis de matéria-prima e mão-de-obra:
Custos | Alfa | Beta |
Matéria-prima | 3 200 € | 2 700 € |
Mão-de-obra | 2 500 € | 1 800 € |
E existem também 3 atividades indiretas com custos distintos:
Atividade | Custos |
Marketing | 5 400 € |
Administrativa | 3 300 € |
Distribuição | 3 060 € |
Total | 11 760 € |
Pelo método de custeio tradicional, baseado na alocação dos custos indiretos pela percentagem da mão-de-obra direta utilizada em cada produto (61,98% para o produto Alfa e 39,02% para o Beta), os custos de cada Produto seriam:
- Atividades indiretas imputadas ao produto Alfa: 11 760 € x 61,98% = 7 171 €
- Atividades indiretas imputadas ao produto Beta: 11 760 € x 39,02% = 4 589 €
Custos | Alfa | Beta |
Matéria-prima |
3 200 € |
2 700 € |
Mão-de-obra | 2 500 € | 1 800 € |
Atividades indiretas | 7 171 € | 4 589 € |
Total Custos | 12 871 € | 9 089 € |
Custo Unitário |
804 € |
505 € |
Desta forma, o custo para produzir uma unidade de Alfa seria 804€ e de 505€ no caso de Beta.
Pelo método ABC, dado que diferentes produtos requerem diferentes atividades, cada uma das quais usa um nível de diferente de recursos, é necessário saber os cost drivers (neste caso horas de publicidade relativas ao Marketing, horas de trabalho administrativas e número de unidades enviadas relativas à distribuição) e repartir os custos por cada atividade:
- Atividade de Marketing: horas de publicidade = 120; Custo unitário da atividade: 5400€/120h = 45 €
- Atividade Administrativa: horas de trabalho = 220; Custo unitário da atividade: 3300€/220h = 15 €
- Atividade de Distribuição: número de unidades enviadas = 34; Custo unitário da atividade: 3 060€/34 unid. = 90 €
Atividade |
Cost Driver por produto |
Total Cost driver | Custo Unitário | |
Alfa | Beta | |||
Marketing | 60 h | 60 h | 120 h | 45 € |
Administrativa | 100 h | 120 h | 220 h | 15 € |
Distribuição | 16 unid. | 18 unid. | 34 unid. | 90 € |
Em seguida imputam-se os custos das atividades aos produtos de acordo com o cost driver:
Produto Alfa:
- Atividade de Marketing: 45 € x 60 h = 2 700 €
- Atividade Administrativa: 15 € x 100 h = 1 500 €
- Atividade de Distribuição: 90 € x 16 unid. = 1 440 €
Seguido a mesma lógica para o produto Beta e adicionando os restantes custos diretos, conhecem-se os custos de cada produto:
Custos | Alfa | Beta |
Matéria-prima | 3 200 € | 2 700 € |
Mão-de-obra | 2 500 € | 1 800 € |
Atividades: | ||
Marketing |
2 700 € | 2 700 € |
Administrativa |
1 500 € | 1 800 € |
Distribuição |
1 440 € | 1 620 € |
Total | 5 640 € | 6 120 € |
Total Custos | 11 340 € | 10 620 € |
Custo Unitário | 709 € | 590 € |
Como referido anteriormente, pelo método tradicional o custo unitário do Produto Alfa seria de 804 € e o do Produto Beta de 505 €. Contudo, pelo método ABC, o primeiro desceria para 709€ e o segundo subiria para 590€, ou seja os custos para produzir uma unidade de produto seriam muito mais aproximados.
Assim, uma vez que o método ABC é mais exato que a contabilização tradicional de custos, identifica oportunidades para melhorar a eficiência dos processos da empresa ao determinar o custo de um produto ou serviço.
A implementação do ABC permite a tomada de decisões com uma melhor informação, como a fixação de preços, negociação com clientes e melhoria do desempenho das operações.
O ABC permite também tomar decisões para a eliminação das atividades que não criem valor para o cliente e uma simplificação de processos. Ao identificar as atividades e as suas interligações é possível eliminar as redundâncias e reduzir os desperdícios numa ótica de melhoria contínua.
A utilização do método ABC, apesar da sua maior complexidade face ao método tradicional, justifica-se pelas suas vantagens, possibilitando conhecer as margens dos produtos produzidos ou serviços prestados pela empresa, especialmente nos casos em que os custos indiretos são elevados ou no caso de existir uma ampla gama de produtos.
Concluindo, o método ABC é uma forma de conhecer os custos unitários dos produtos tendo impacto positivo na vantagem competitiva das empresas.
Agora que conhece as vantagens do método ABC, utiliza na sua empresa as metodologias tradicionais de imputação de custos ou este método?
“Bad information on product costs leads to bad competitive strategy”
Cooper e Kaplan (1988)