O termo financeiro leverage, ou alavancagem em português, diz respeito à utilização de fundos emprestados para a compra de um determinado ativo ou ativos. Podemos definir alavancagem então como o recurso a capital alheio para o financiamento de um determinado projeto. Ao recorrer a este mecanismo o investidor tem como perspetiva que o rendimento futuro desse projeto seja superior ao custo da alavancagem (custos do empréstimo).

Esse custo depende de vários fatores e o fornecedor de capital efetua uma análise de risco ao projeto em si e ao investidor e define qual o limite de exposição que está disposto a tomar (ex: num crédito a habitação com limite de empréstimo de 80% do valor da avaliação).

A alavancagem permite multiplicar eventuais ganhos, mas também eventuais perdas, pelo que deverá ser efetuada uma análise cuidada da estrutura de capital, alocando as quantidades adequadas de capital próprio e de capital alheio.

Aplicando este conceito às finanças empresariais, a alavancagem refere-se ao montante de dívida que uma empresa utiliza para financiar os seus ativos.

Como exemplo bastante simplificado suponhamos que uma empresa é criada por dois sócios em que cada um contribui com 500 mil euros de capital, o seu capital próprio nesta fase é de 1 milhão de euros. A empresa tem então este valor para investir em ativos que lhe permitam desenvolver o seu negócio.

Se a mesma empresa, para além de 1 milhão de euros de capital próprio, decide recorrer a um empréstimo bancário de 4 milhões de euros, tem agora 5 milhões para investir nas suas operações. Ou seja existiu aqui um efeito de alavancagem no capital investido pelos sócios. No primeiro caso os sócios têm um cenário de 1 milhão de euros em ativos e no segundo cenário a empresa tem uma dimensão 5 vezes superior, com o respetivo aumento de capacidade. Ou seja, existe aqui um potencial benefício superior para os investidores.

Considerando agora um exemplo distinto com um projeto de investimento no valor de 100 mil euros que produz um rendimento (considerando as vendas e os principais custos) de 10 mil euros em que os investidores pretendem avaliar duas estruturas distintas de capital:

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Fonte: Principles of Project Finance, E.R. Yescombe, (adaptado)

No cenário de baixa alavancagem os investidores iriam recorrer a 30% de dívida e 70% de capital próprio, o que representa um cenário de baixo risco para os fornecedores de capital alheio, que desta forma apenas exigem uma taxa de juro de 4%.

No cenário de alta alavancagem, invertem-se estas percentagens. Com 70% de dívida, o banco parceiro exige já uma taxa de juro de 6% para participar neste projeto, o que representa um acréscimo nos custos financeiros.

Os rendimentos do projeto são idênticos em ambos os cenários. No cenário de alta alavancagem os juros da dívida são superiores o que resulta num lucro inferior. No entanto o capital próprio investido no projeto é inferior neste cenário (30.000 vs 70.000 no primeiro cenário).

Ou seja apesar do lucro ser inferior no segundo cenário, em termos percentuais representa uma rendibilidade superior para os investidores. No primeiro cenário têm de investir 70 mil euros para obter um lucro de 8.800 o que representa uma rendibilidade de 13%, enquanto no segundo cenário o investimento necessário é bastante inferior (30.000 eur), o lucro sendo também inferior (5.800 eur) representa um rendimento de 19% do capital investido e ilustra bem o efeito de alavancagem conseguido pelo efeito da dívida.

Este exemplo ilustra um dos princípios base das finanças empresariais: Um investidor numa empresa com alavancagem superior, perspetiva também um rendimento superior. Maior alavancagem representa maior risco pelo que os investidores num projeto deste género exigem uma remuneração superior.

O custo de alavancagem é também por norma inferior ao custo do capital próprio como vimos aqui.

Mas nem tudo são rosas e o recurso a alavancagem acarreta também alguns riscos. Alavancando o potencial de lucros, alavanca-se também o potencial de perdas. Caso o investimento seja mal planeado a exposição dos investidores é também superior. Ao recorrer a alavancagem para potenciar o lucro para os sócios, e caso a estratégia seja mal planeada ou executada, o custo com o recurso a capital e o risco de incumprimento podem destruir todo o valor criado.

Em resumo, para utilizar alavancagem com o objetivo de potenciar a rendibilidade para os investidores e a criação de valor de um projeto, os investidores deverão ter em conta o risco de negócio desse projeto, as condições fiscais do investimento, a flexibilidade de capital do projeto (e dos investidores) e também as suas próprias perspetivas pessoais de rendimento. É importante analisar, planear e decidir cuidadosamente os seus investimentos.

“Decidir o que não fazer é tão importante quanto decidir o que fazer.”

Steve Jobs