A exportação de bens e serviços para os mercados externos é um desígnio de muitas das empresas portuguesas. A abertura dos mercados e a digitalização transformaram rapidamente o conceito de “mercado”, alargando-o a todo o globo. Desta forma é cada vez mais fácil a uma micro e pequena empresa, numa também pequena localidade portuguesa, fazer negócios a milhares de quilómetros de distância.
Por outro lado, o comércio internacional representa ao mesmo tempo, riscos de várias ordens: Risco do País, risco associado à distância física em que se encontram as contrapartes, risco de crédito ou fraude, produção, de transferência, cambiais, políticos etc. Todos devem ser ponderados na altura da tomada de decisão.
O risco financeiro associado às transações internacionais também deve ser tido em conta no processo de internacionalização. Felizmente existem hoje em dia vários instrumentos à disposição das empresas para as ajudar nestes processos.
Trade Finance o que é?
Podemos definir Trade Finance como o conjunto de produtos e instrumentos financeiros que estão disponíveis no mercado para facilitar o comércio internacional. O objetivo é que seja mais fácil e seguro para todas as partes envolvidas efetuar transações com terceiros, mitigando os riscos atrás mencionados.
Estes produtos assumem vários perfis e estão associados, não só ao grau de confiança que existe entre as partes que estão a efetuar o negócio, como também ao grau de segurança que se pretende ter na transação e claro, ao custo associado a esse produto e ao montante da transação.
Instrumentos de Trade Finance
Créditos documentários: Entre os vários produtos existentes, estes são aqueles que garantem uma maior segurança no processo de transação. Ao representarem um acordo irrevogável são também aqueles que têm o custo mais elevado.
Explicando sucintamente, este produto significa dizer que através deste acordo os bancos assumem o pagamento ou recebimento do montante da transação, contra apresentação dos documentos exigidos.
Os créditos documentários podem ser de importação (CDI) ou de exportação (CDE) caso se verifique uma compra ou venda de mercadorias. O exemplo seguinte diz respeito a um CDI – Crédito Documentário de Importação.
Remessas à cobrança – Nas remessas à cobrança a operação é liquidada através de documentos que são enviados via sistema bancário. O importador só acede aos documentos após cumprimento das condições que constam no acordo que estão normalmente associadas ao pagamento.
Garantias Bancárias – Estes instrumentos ou stand-by letter of credit são meios de pagamento que asseguram à empresa beneficiária o pagamento da transação. Funciona de forma semelhante ao comum aval bancário.
Cheque sobre Estrangeiro – Também conhecido como “pagaré” é o instrumento mais simples de cobrança. Funciona através deu desconto junto da contraparte do negócio.
Desconto Comercial e Financeiro – Estes produtos permitem antecipar os recebimentos de vendas efetuadas para o exterior. A diferença entre os dois está no facto dos documentos de suporte à operação, passarem ou não pelo circuito bancário. No caso do desconto comercial a empresa recebe do banco um adiantamento do valor dos documentos submetidos para cobrança no circuito bancário. Este pode depois assumir várias formas (com ou sem recurso, com fatura ou documento de transporte, etc.) que não detalharei neste artigo. No caso do adiantamento de remessas de exportação (desconto financeiro) os documentos são remetidos diretamente ao importador. Desta forma o banco não tem controlo sobre a mercadoria e o financiamento é efetuado tendo por base cópias da documentação. Neste caso, a empresa compromete-se a entregar ao banco os fundos recebidos na data do vencimento.
Financiamento externo – De forma simples consiste num empréstimo bancário associado a operações de importação ou exportação. Está relacionado com a operação em termos de montante e prazo e pode ou não ser combinado com um dos outros instrumentos atrás mencionados.
Os instrumentos atrás mencionados são alguns exemplos simples de produtos que estão à disposição das empresas nos seus processos de importação e exportação. Existem outros como as soluções de cobertura de risco financeiro e de crédito que irei abordar num próximo artigo.
Estes instrumentos são mais ajustados a uma forma de internacionalização por exportação direta a partir do país base. Para outros modos de entrada nos mercados externo poderão ser mais ajustados também instrumentos distintos.
Independentemente dos instrumentos utilizados, o processo de internacionalização deve ser bem pensado e deverá estar perfeitamente integrado na estratégia da empresa. Ao mesmo tempo que pode representar oportunidades emergentes num mundo global, representa também risco para as empresas envolvidas e deve ser estrutura de forma progressiva e sustentada nas capacidades da empresa. Só depois de efetuado este raciocínio estratégico é que devemos avançar para a escolha dos instrumentos à nossa disposição.
“Existem dois tipos de riscos: Aqueles que não nos podemos dar ao luxo de correr e aqueles que não nos podemos dar ao luxo de não correr.“
Peter Drucker
Fonte: “O Financiamento Bancário de PME”, Paulo Alcarva, Actual Editora
Ótima informação.
Parabéns!