“Grandes crises tendem a produzir grandes homens e grandes feitos.”

F. Kennedy

A crise provocada pela pandemia Covid-19 teve um impacto profundo em Portugal, na União Europeia e no mundo, criando uma situação de grande turbulência e incerteza nos agentes económicos. O PIB português caiu 6,8% em 2020, enquanto o da UE caiu 7,8%. Havia expectativas de um crescimento vigoroso em 2021, mas o agravamento da pandemia no princípio do ano e o atraso no fornecimento das vacinas vieram atrasar a recuperação que agora se estima venha a ocorrer no segundo semestre.

É neste contexto de incerteza que as empresas nacionais se encontram. A procura caiu em todos os setores, com exceção da saúde e alimentação, e a recuperação vai ser mais lenta do que se esperava.

Para a generalidade das empresas isto significou uma redução dos seus rendimentos e uma redução dos seus resultados e fundos.

Devido à dinâmica empresarial, muitas empresas tinham efetuado investimentos substanciais nos últimos anos e, quando esperavam obter retorno, a redução da procura teve um impacto igualmente forte na tesouraria e liquidez das empresas, criando dificuldades inesperadas.

Alguns instrumentos utilizados pelo governo, como as moratórias dos empréstimos e o lay-off simplificado, foram importantes para mitigar o impacto da crise, mas são agora insuficientes para a recuperação. Sabendo o papel que o tecido empresarial teve na recuperação da economia nacional aquando da intervenção da Troika, é indispensável dotar as empresas dos instrumentos que permitam suportar o crescimento.

Agora é necessário injetar liquidez nas empresas para que estas possam sobreviver a curto prazo e possam aproveitar as oportunidades que irão surgir, garantindo o seu futuro. Como as empresas estão endividadas e os empresários não têm fundos, estes devem ser aportados do exterior (apoios a fundo perdido).

Como é que se deve estruturar este apoio?

As soluções a encontrar devem ter em conta a situação concreta de cada empresa. Devem ser simples, claras e com regras bem definidas, mas devem ter em conta a situação dos candidatos. Vamos considerar três categorias que podem englobar todas as situações: a primeira engloba as empresas em dificuldades extremas; a segunda inclui empresas em boa situação; e a terceira empresas em situação intermédia entre as duas anteriores.

Para as empresas que estão em dificuldades extremas, julgamos que podem existir duas opções. No caso das empresas que não têm viabilidade económica é importante criar condições para que possam encerrar rapidamente a sua atividade, com procedimentos simplificados, abrindo espaço para empresas mais eficientes. No caso das empresas com condições para se viabilizarem, devem existir apoios ao reforço de capitais próprios através de apoio de capitais de risco com fundos públicos, assim como a extensão da maturidade da dívida com apoio das sociedades de garantia mútua. Em alternativa, pode e deve-se apoiar a fusão e aquisição de empresas para gerar empresas com maior dimensão. Estas fusões e aquisições devem ter regimes simplificados, para facilitar e agilizar o processo, e ser apoiadas a fundo perdido para reforçar os capitais próprios e a sustentabilidade do negócio.

A criação de empresas com maior dimensão, resultantes das fusões e aquisições, vai permitir maior competitividade às nossas empresas e melhorar a sua gestão.

Para as empresas em boa situação, devem existir apoios à sua expansão que assentem essencialmente em apoios a fundo perdido, quer para a investimentos de inovação, quer para fusões e aquisições de empresas mais frágeis e a existências de apoio a alianças e parcerias entre empresas que possibilitem a partilha de recursos. Estas empresas seriam a alavanca da economia regional e nacional.

Para as empresas em situação intermédia podem combinar-se as diferentes opções referidas nos pontos anteriores para alavancar o seu crescimento.

Em síntese, reforçar os capitais próprios das empresas injetando-lhes liquidez vai tornar as nossas empresas mais robustas e competitivas, capazes de responder aos novos desafios.

Publicado originalmente na revista Desafios nº 76, NERLEI