Nas férias li um conjunto de histórias de embalar para gestores de Mintzberg! Foi uma leitura intensa e rápida que me tocou profundamente e me fez pensar nos fundamentos da gestão.
Na ótica de Mintzberg a gestão é uma arte assente em ideias e integração, é uma habilidade que resulta da aprendizagem com a prática e uma ciência através da análise sistemática de evidências numa lógica científica.
Na lógica do autor o sucesso de qualquer empresa assenta em servir o cliente, potenciar e desenvolver os colaboradores. Mintzerg criou o conceito de cooperança para substituir o habitual conceito de liderança. Num contexto de cooperança envolvem-se as pessoas para em conjunto definirem e agirem, concretizando os objetivos da empresa. Agora, o centro é o grupo e não o indivíduo.
Ao longo deste interessante livro o autor desfia um conjunto de histórias para ilustrar as suas ideias sobre as funções clássicas de gestão que foram definidas pela primeira vez por Fayol em 1916 e que se mantiveram com pequenas alterações, como planear, organizar, dirigir (liderar e motivar) e controlar.
Em geral o processo de gestão começa com o planeamento e este começa com uma reflexão sobre a empresa e o contexto em que atua. Mintzbeg mostra que muitas vezes se observa e faz antes de refletir ou pensar e que esta ação e a observação nos vai dar mais conhecimento para podermos pensar para depois agirmos novamente. Ou seja, este é um processo iterativo que se vai desenvolvendo para propiciar melhores decisões.
O processo racional de tomada de decisão tem sido estudado e foi muito influenciado primeiro por Simon, que estabeleceu o processo racional de tomada decisão, e posteriormente por Kahneman, que sublinha os dois tipos de raciocínio que podem estar presentes na decisão: a lógica racional (processo baseado na recolha de informação, identificação do problema, identificação de soluções alternativas, estabelecer critérios de decisão, aplicar e escolher a melhor opção e depois implementar) e a intuição (baseada na experiência). A lógica racional é um processo que pode ser demorado e atrasar as decisões e a intuição permite pensar e decidir rapidamente. Qualquer um destes processos enviesa a decisão.
Mintzberg crítica o processo racional e mostra que nas decisões mais importantes na nossa vida, por exemplo a escolha da pessoa com quem vamos viver – a decisão mais importante das nossas vidas – é muitas vezes um processo intuitivo e iterativo em que vamos agindo e consolidando ou não as nossas escolhas, até que finalmente fazemos a nossa escolha, muitas vezes baseados na intuição e poucas vezes na razão. Esta vem depois. Se é assim então a lógica racional tem mais limitações do que pensávamos.
Na organização, mais que silos ou desenhos organizacionais, é fundamental que se potencie o trabalho em equipa e gere harmonia, ou seja, permitir que pessoas vulgares possam contribuir com ideias extraordinárias. Mais que soma de partes ou funções, a empresa é um conjunto de pessoas que constituem uma comunidade que deve promover a harmonia e felicidade a cada um para que possa emergir a melhor versão de cada um. Afinal as pessoas são indispensáveis ao sucesso.
Liderança e gestão são diferentes como já assinala Zaleznik destacando que os líderes têm muito mais em comum com os artistas (visão e perspetivas mais alargadas sobre o futuro) que com os gestores (focados no curto prazo e na otimização do que se possui atualmente). Ora na realidade, a principal função do gestor é desenvolver os seus colaboradores e promover a harmonia e cooperação entre todos, o que se denominou acima como cooperança, agora centrado nas equipas e não em indivíduos isolados.
Sobre o Controlo tem existido uma obsessão por medir, como se isso facilitasse atingir os objetivos. Existem dados quantitativos que se podem medir, mas há dados qualitativos que não se conseguem medir e estes podem ser também muito importantes.
Como não podemos medir vamos ignorar? O que Mintzberg propõe é que temos que aceitar este desafio. Vamos fazer um esforço para conhecer, ganhar experiência e vamos gerir com base nesta abordagem para podermos melhorar o que não é óbvio e porventura fazer a diferença.
No fundo a gestão é um processo contínuo de aprendizagem e de ajustamento em que não existem receitas para o sucesso, mas este atinge-se através de processos de ajustamento que ligam razão, emoção, atenção, flexibilidade, empatia, reflexão, perspicácia, franqueza, compromisso, ponderação, inspiração e empatia com as equipas para servir o cliente.
No contexto atual de revolução, mudança e insegurança em que vivemos esta abordagem de Mintzberg à gestão parece-me que nos centra naquilo que é importante: servir o cliente (razão de existência da empresa) e nas pessoas (que possuem conhecimentos e capacidade de adaptação). Esta é a chave para potenciar o sucesso das nossas empresas.
Henry Mintzberg, “Histórias de embalar para gestores”, Ed. Gestão Plus, 2020.