Fontes de Inspiração

(In memorium Herlander Eleutério Silva, 27-04-1927 a 30-07-2014)

Todos nós fomos e somos marcados por algumas pessoas, que influenciam a nossa forma de pensar e de ser, que nos abrem horizontes e que nos desafiam a ir mais além ultrapassando as nossas limitações. Ao longo de uma boa parte da minha vida tive a sorte de ser inspirado pelo meu pai para ser melhor gestor.

Foi de facto na área da contabilidade e gestão que tive o privilégio de receber um conjunto de ensinamentos que me acompanharam e me permitem interpretar de forma peculiar o que é a gestão e a performance das empresas, como irei demonstrar destacando cinco desses momentos de inspiração. Transcrevo entre aspas afirmações de Herlander Silva.

Primeiro momento de inspiração (1971)

“Para competir é preciso saber o custo dos nossos produtos.” – Herlander Silva

Na altura, tal como agora, conhecer o custo dos nossos produtos é ainda mais importante se estamos a competir com base nos custos. De acordo com Mintzberg, o preço é uma forma de diferenciação e o seu limite inferior é, em geral, determinado pelos custos. Então é necessário conhecer e controlar os custos dos produtos através de um sistema de custeio. Só assim poderemos responder aos desafios em mercados competitivos. Então, sejamos mestres na gestão de custos.

Segundo momento de inspiração (1974)

“Compensa dar resposta rápida e clara aos clientes, até sobre os preços.” – Herlander  Silva

Mal tinha acabado o primeiro ano do curso de gestão e o meu Pai chamou-me para desenvolver uma fórmula que pudesse ser usada para refletir nos preços a praticar junto dos clientes o aumento dos preços das matérias-primas. Com a primeira crise do petróleo em 1973, o preços desta matéria-prima e seus derivados tinham um comportamento errático potenciado pela situação do nosso país, pós-25 de Abril. Esta tarefa fez-me perceber que a matemática é fundamental para comunicar de forma clara e sem ambiguidades com vantagens para todos.

Terceiro momento de inspiração (1977)

“É importante conhecer o processo de construção das Demonstrações Financeiras.” – Herlander Silva

Executando contabilidade do princípio ao fim, compreende-se a sua lógica, o que significa cada uma das contas e como depois, se geram as demonstrações financeiras e demais elementos de reporte. Compreende-se então como se geram resultados e qual é a situação financeira. Aprende-se a perceber como é que as decisões de gestão se refletem na contabilidade e como estas geram performance. Assim, consegue-se “perceber o presente para pensar o futuro”. Conclusão: o conhecimento direto da realidade das empresas apoiado na contabilidade permite ter uma perspetiva mais integrada da situação de cada empresa e é fundamental para preparar o futuro.

Quarto momento de inspiração, (1977)

“Os sistemas de informação para a gestão devem assentar na contabilidade.” – Herlander Silva

Embora a contabilidade seja passado, pode servir para tomar decisões se estiver em dia: “A contabilidade conta-nos uma história”. E sendo obrigatório para as empresas terem contabilidade organizada, esta é uma fonte de informação a privilegiar e deve “ser a base de um sistema de informação para gestão”. Assim, é fundamental “automatizar as tarefas administrativas para produzir informação mais atempada e fiável”. Conclusão: Os sistemas de informação devem integrar informação que permita tomar boas decisões. Esta informação deve ser fiável e deve estar atualizada e certamente deve apoiar-se na informação da contabilidade.

Quinto momento de inspiração (1977)

“Os gestores só confiam em quem conhece o seu negócio.” – Herlander Silva

Tive o privilégio de assistir a algumas reuniões de meu Pai com empresários e ficar espantado com a facilidade com que se encontravam caminhos para ultrapassar dificuldades e como os empresários aceitavam opiniões de outras pessoas que conheciam como funcionava o seu negócio. Compreendi que com base na experiência de anos de atividade era possível conhecer os processos de fabrico mais ajustados e custos de produção de cada uma das atividades em diversos setores de atividade, plásticos, moldes, serrações e carpintarias e cerâmica. Além desta orientação para a eficiência interna também se exploravam as possibilidades de oferecer produtos diferenciados no mercado conhecido ou em mercados alternativos, sobretudo de exportação. Era o conhecimento e a experiência acumulados que permitiam aconselhar os empresários para encontrarem caminhos para melhorar a performance das suas organizações.

Esta ação marcou-me de tal forma que decidi: Também quero ser assim! Ser capaz de contribuir para melhorar a performance das empresas. Esta é justamente o que considero ser a minha missão enquanto profissional de gestão.

Obrigado!