Vivemos hoje num mundo onde as mudanças sociais e ambientais estão a acontecer mais rapidamente que nunca. As alterações climáticas, a revolução tecnológica e a transformação demográfica estão a criar enormes desafios aos Estados, às sociedades globais e às empresas.

Neste contexto, os investidores começam cada vez a dar mais importância a investimentos que proporcionem melhores condições para o ambiente e para a sociedade no seu conjunto. O chamado “investimento sustentável” assume cada vez mais relevância no mundo e tem uma adesão crescente por parte dos investidores.

De acordo com o último Global Sustainable Investment Review, os ativos ligados ao investimento sustentável cresceram 34% nos últimos dois anos, representando no início de 2018 30,7 biliões de dólares a nível mundial.

A nível nacional, segundo o estudo “Global Investor Study 2018”, 85% dos investidores portugueses referiu que os investimentos em sustentabilidade se tornaram mais importantes e 69% referiram que aumentaram os seus investimentos em ativos sustentáveis nos últimos cinco anos.

Mas do que estamos a falar quando nos referimos ao investimento sustentável?

O investimento sustentável é uma abordagem que pretende incorporar fatores Ambientais, Sociais e de Governança (ESG – Environmental, Social and Governance) nas decisões de investimento das empresas, para melhor gerir os riscos e gerar retornos sustentáveis a longo prazo.

Assim, na definição das estratégias de investimento, existe uma preocupação de avaliar não só os indicadores financeiros das empresas, mas também a forma como estas atuam na sociedade e qual o impacto das suas atividades no meio ambiente. A análise dos aspetos ESG de uma dada organização, que se materializa na identificação do nível de riscos e de oportunidades, permitirá identificar o perfil de sustentabilidade da empresa no longo prazo.

Devido à pressão na União Europeia, os critérios ESG começaram também a ser impostos por via regulamentar. Um exemplo é a Diretiva de Informação Não Financeira, já transposta para a legislação portuguesa através do Decreto-Lei nº89/2017, que obriga as empresas de interesse público com mais de 500 colaboradores e as grandes empresas cotadas em bolsa, a reportarem anualmente as políticas, práticas e indicadores ligados às questões ambientais, sociais e de governança.

Os fatores ESG são diversos, de acordo com a realidade que cada empresa enfrenta e estão em permanente mudança. Segundo o Business Council for Sustainable Development (BCSD) Portugal, os principais aspetos ESG a considerar são:

Aspetos ESG
Fonte: BCSD Portugal

E quais as vantagens para as empresas da integração destes fatores?

Quando as empresas consideram relevantes os fatores ESG e os sabem gerir, tornam-se mais atrativas para os investidores. A desconsideração destes fatores nas análises de investimento constitui um aumento do risco para as empresas.

Assim, as empresas que considerem os fatores ESG diminuem o seu risco ao mesmo tempo que contribuem para a sustentabilidade social e ambiental, mantendo o lucro para os acionistas. O investimento sustentável pode assim contribuir de forma positiva para a criação de valor no longo prazo.

O estudo de Eccles, Ioannou e Serafeim confirmou a importância da integração dos fatores ESG, mostrando que empresas com boa prestação nos indicadores, ou seja, com maior sustentabilidade, terão uma maior performance nos mercados de capitais quando comparadas com outras que não dão importância a estes fatores.

ESG e Performance de Mercado
Fonte: Eccles, Ioannou, & Serafeim (2014)

A análise da sustentabilidade permite adicionalmente aos investidores/consultores integrar os aspetos ESG nos modelos de informação financeira e identificar as empresas mais promissoras, com melhores perspectivas de performance no longo prazo. Isto implica que poderão ser excluídas da decisão de investimento as empresas com menores scores de sustentabilidade. Um exemplo são os fundos de pensões que só investem em empresas com bons indicadores ESG.

Uma empresa que pretenda incluir uma análise dos aspetos ESG, segundo indicações da BCSD Portugal, deverá de disponibilizar informação que seja capaz de responder, entre outras, às seguintes questões:

  • Como é que a empresa avalia os riscos decorrentes das alterações climáticas?
  • Como é que se processa o equilibro entre o desempenho curto-prazo e o longo-prazo nos incentivos da compensação dos membros do conselho de administração?
  • Como é que a empresa mede a produtividade e o desenvolvimento do seu Capital Humano?
  • Qual a estratégia para maximizar a produtividade e a motivação dos seus colaboradores?

Em suma, a integração dos riscos ambientais, sociais e de governança (ESG) nas análises de investimento está a crescer rapidamente pelo mundo. O maior desafio para as empresas será desenvolver simultaneamente a capacidade de baixar os níveis de poluição, de valorizar as pessoas e o trabalho e de contribuir para a melhoria do bem-estar e da sociedade. As que o conseguirem alcançar estarão mais bem preparadas para os desafios e terão melhores resultados a longo prazo.

Está preparado para incluir os fatores ESG na sua empresa?

 

 

Eccles, Ioannou, & Serafeim. (2014). The impact of Corporate Sustainability on Organizational Processes and Performance. Management Science, 60, 2835-2857.