“Essa é a natureza das emergências. Elas aceleram os processos históricos. ”
Yuval Noah Harari
As exigências da pandemia proporcionaram a muitas empresas experiências e mudanças que talvez poucos se arriscassem a prenunciar até então. As que ficaram a assistir e não embarcaram nesta mudança emergente correm o risco de ser ultrapassadas por aquelas que perceberam rapidamente que um modelo de negócios ágil e versátil é o melhor caminho em tempos incertos como este.
Apesar das inúmeras vantagens e dos resultados demonstrados que este modelo de negócio proporciona, muitos líderes dormiam descansados a achar que não precisavam de ser ágeis. Por um lado, as suas empresas já operavam com eficiência; por outro lado era extremamente difícil de implementar em empresas com estruturas pesadas; era difícil motivar e mobilizar funcionários; e mais, os Clientes não podiam ser colocados sempre em primeiro lugar.
Mas entretanto, a pandemia veio contrariar estas crenças.
Desde o início da pandemia que as empresas têm enfrentado uma série de desafios em simultâneo (redução da procura, dificuldades em cumprir compromissos, encerramento de estabelecimentos). Numa primeira fase, os líderes das empresas adotaram uma estratégia de sobrevivência. Era preciso fazer mais com menos e foi notório que o sucesso e/ou a sobrevivência de muitas empresas deveu-se à capacidade de mudarem rapidamente de estratégia e adotarem comportamentos e práticas para melhor se adaptarem à nova realidade.
Muitas foram as empresas que conseguiram rapidamente reinventar a maneira como operam ao mesmo tempo que trabalhavam a ritmos inimagináveis! Com muita criatividade e resiliência.
Agora os líderes questionam como é que podem incorporar estes comportamentos nas organizações para que sejam mais fortes no futuro!
De acordo com um relatório extensivo realizado pela McKinsey sobre como será o “Próximo Normal”, verifica-se que as empresas que estão a reinventar as suas organizações em plena pandemia e estão a alcançar grandes sucessos têm-se debruçado sobre três questões principais:
- Quem somos?
Temos uma identidade forte para atrair e inspirar funcionários, investidores, clientes, parceiros? Comunicamos o porquê da nossa existência através da nossa missão, valores e cultura?
- Como trabalhamos?
Temos um modelo operacional ágil que incentiva o trabalho em equipa e a rápida tomada de decisão? Valoriza e desenvolve o talento em toda a organização (e não apenas no topo)?
- Como podemos crescer?
Temos um ecossistema robusto que valoriza os nossos parceiros internos e externos, aproveita as plataformas digitais ricas em dados e está direcionado e comprometido em fazer tudo o que for necessário para criar e manter um ambiente de aprendizagem e crescimento contínuo?
As empresas que estão a sentir necessidade de se reinventar e definir uma nova posição no mercado, estão a libertar a sua força de trabalho para abordar estas três questões principais e estão a encontrar novas maneiras de criar, construir parcerias, experimentar e inovar.
Ainda para responder à questão levantada pelos líderes, a McKinsey e abordou de perto 4 grandes empresas (2 empresas de telecomunicações, uma na América Latina e outra Europa, uma seguradora europeia e um fabricante global de roupa) que são exemplos de grande sucesso neste novo “normal” e destaca algumas das lições aprendidas com a transformação, nomeadamente:
- Foco nos pontos fortes e nas reais necessidades: estas empresas começaram por abandonar projetos já existentes e focaram-se na observação dos seus pontos fortes reais (atrair clientes, otimizar produtos) de forma a reorganizar unidades e tornar as suas equipas mais ágeis;
- Definição de um modelo operacional claro para cada equipa: é fundamental dar a conhecer às equipas os seus principais objetivos de forma clara, bem como as normas e regras de comportamento esperado. Permitindo sempre que seja a própria equipa a definir antecipadamente o que fazer quando as regras não são cumpridas;
- Dar maior autonomia às equipas: inevitavelmente o trabalho remoto exigiu que as equipas pudessem ter mais autonomia para tomar decisões de forma a diminuir os ciclos de feedback e aumentar os resultados, mas este passo também permitiu equipas mais motivadas e mais criativas;
- Acompanhar o processo de transição: trabalhar a partir de casa pode ser muito exigente ainda mais quando existem mudanças. Neste sentido, as empresas melhoraram a sua forma de comunicação, dedicaram especial atenção aos ex-líderes, aos novos líderes e criaram equipas especializadas de RH para manterem o espírito de comunidade;
- Capacitar pessoas para a utilização de ferramentas digitais: as empresas criaram ferramentas para as pessoas se manterem em contacto, para acompanhar o processo de transformação e monitorizar resultados, tudo remotamente e com o mesmo nível de empatia que fariam pessoalmente. Isto é um processo relativamente simples entre equipas pequenas, mas torna-se complexo quando aplicado a uma empresa inteira ou a uma grande empresa;
- Desenvolver recursos por fases: as pessoas passaram a ter formação de um ou dois dias para garantir que as empresas aprendem os aspetos essenciais de forma económica e oportuna;
- Proporcionar ambientes de criatividade: as empresas investiram em conteúdos, experiências e até mesmo em profissionais especializados para recriarem em ambientes virtuais, a dinâmica das reuniões que ajudavam a construir o conhecimento e a inovar;
- Criar verdadeiras equipas: o elemento mais importante das equipas de sucesso é uma forte cultura de equipa. As empresas proporcionaram momentos para que as equipas se conhecessem de forma a construir conexões pessoais. Passaram a reservar tempo nas reuniões para conversas informais que normalmente existiam nos corredores ou junto da máquina do café, tentando, desta forma, contornar a fadiga pandémica.
Estes exemplos de todo o mundo mostram-nos que é possível às empresas mudarem o seu modelo operacional em tempos voláteis, mesmo quando têm de trabalhar remotamente. E se realmente os tempos voláteis vieram para ficar, torna-se importante que as empresas ponderem mais sobre como irão ou continuarão a conduzir a transformação. Mas para garantir que a transformação ocorre no caminho certo é crucial que as empresas tenham uma visão clara do seu objetivo final.
O caminho será tranquilo? Não, até porque uma transformação ágil nunca é, mas as empresas que o percorrem estão a obter resultados nunca antes vistos, tanto em velocidade como em produtividade!