A esta altura do campeonato (e termino aqui as referências futebolísticas), o princípio KISS já não deverá ser novidade para o leitor. Apesar de assumir outras formas – como por exemplo Keep It Sweet & Simple, Keep it Short & Simple e Keep it Simple, Silly – o acrónimo K-I-S-S representa a frase que serve de título a este texto. No essencial, o significado é óbvio: na dúvida, mantenhamos as coisas simples.
Ao nível da comunicação visual, o que há mais é uma de duas opções: ou a comunicação tenta ser simples mas torna-se simplista, sem sal, ou tenta colocar tudo ao molho, com um ruído que ensurdece a audiência ao ponto de não nos levar a lado nenhum. Seria de esperar, numa altura em que ‘basta’ ir ao Google, que à nossa volta apenas circulassem bons exemplos de comunicação visual. Experimentem perguntar “Regras para fazer um bom logótipo/cartaz/site” e, invariavelmente, as respostas seguirão todas no mesmo sentido: “Keep it simple, stupid!”
Se estamos cansados de saber que as estratégias simples são as que melhor resultam, porque contamos com dezenas de maus exemplos por cada boa solução gráfica que surge? Talvez porque, na grande maioria das vezes, achamos que ao colocarmos “mais” mostramos que trabalhámos “mais”, quando na realidade a relação é proporcionalmente inversa. Tornar eficaz a mensagem significa mostrar o que mais importa e, para isso, é preciso trabalhar o dobro.
Eleito pela revista Esquire como uma das 21 figuras mais influentes do século XXI, John Maeda, atual diretor da Rhode Island School of Design, sabe uma ou outra coisa do tema. No seu best-seller The Laws of Simplicity, um livro tão genial quanto acessível, Maeda sugere uma reflexão sobre como atingir o nirvana da Simplicidade, e avança com 10 leis para que tal aconteça. A última das leis — The One – condensa as nove anteriores numa única frase, sem perder de vista o objectivo central do livro, o de simplificar: A simplicidade é subtrair o óbvio e adicionar o que é significativo (“Simplicity is about subtracting the obvious, and adding the meaningful”, no original).
Parece fácil, right? Na comunicação gráfica, como noutras manifestações da criatividade humana, percebemos que o que fica para contar aos netos são aquelas experiências mais simples que, quer queiramos ou não, permanecem no nosso cérebro, por mais tempo que passe. Convém, por isso, não menosprezar o tempo dedicado a uma tarefa que se destina a eliminar o óbvio, o que não interessa, e a manter o que realmente importa. Só dessa forma podemos perceber se o caminho adoptado é o correto ou, simplesmente, o caminho da estupidez.