A história das empresas que exploraram o Couto Mineiro do Lena entre 1920 e 1958, descrita na obra “Couto Mineiro do Lena” de Herlander Eleutério da Silva, mostra de forma clara o desenvolvimento, o apogeu e o fim deste importante investimento nos concelhos de Porto de Mós e da Batalha.
Da análise a esta obra e de outra informação dispersa sobre a exploração mineira no Vale do Lena, é possível perceber as razões e erros de gestão que levaram ao encerramento desta atividade, ao aparecimento de outras empresas industriais baseadas nos conhecimentos e competências adquiridos e de como estes novos negócios se desenvolveram e permitiram a continuação da indústria numa zona essencialmente rural.
A dinâmica que este negócio introduziu na região permitiu a criação de novas empresas industriais. Por exemplo ainda no decorrer da segunda guerra mundial o Eng. Monteiro Conceição, diretor geral do Couto Mineiro do Lena, percebeu que a exploração mineira só teria interesse até ao fim da guerra e, em 1941, criou uma empresa industrial (Indústrias Lena) com serração de madeiras, cerâmica para a construção civil e metalomecânica vocacionada para o setor da construção civil. Esta sociedade deu origem em 1975 à Ricel, empresa pioneira na produção de produtos em betão prefabricado e outros elementos estruturais e componentes para edifícios.
Voltemos agora à exploração mineira e às empresas que a realizaram. Tudo começou em 1920 com a Sociedade Mineira do Lena que se manteve até 1924. Esta empresa iniciou a construção do caminho-de-ferro para garantir o escoamento da produção no troço Martingança-Batalha. O transporte de carvão iniciou-se no dia 21 de Abril de 1924 e a exploração do carvão nesse ano foi impulsionada pela primeira legislação a tornar obrigatório o uso de carvão mineral nacional. Veja-se que o carvão tinha que ser transportado da mina da Bezerra para a estação da Batalha através de galeras puxadas por animais, o que limitava a intensidade da exploração.
Em 1925 a “The Match and Tobacco Timber Supply Company” adquiriu todo o ativo e passivo da antiga Sociedade Mineira do Lena. Esta empresa liderada por D. José Serpa Pimentel desenvolveu um ambicioso plano de desenvolvimento da atividade baseado em três pilares: minas, transportes e eletricidade, implementando um processo de diversificação e integração de diferentes atividades. Este projeto assentava na construção/extensão do caminho-de-ferro até à mina da Bezerra, onde o carvão era de excelente qualidade, a construção de uma central elétrica em Porto de Mós e a construção de uma vila mineira junto da mina da Bezerra. Este empreendimento chegou a empregar cerca de 3.000 trabalhadores.
A morte, em 1929, do presidente da empresa, os problemas laborais, a informação de que as reservas de carvão da mina se estavam a esgotar e as avultadas necessidades de capital para fazer todo o investimento levaram à insolvência da The Match. Em 1930 a Empresa Mineira do Lena, criada pela intervenção do Estado, adquiriu a concessão mineira do Vale do Lena e concretizou os investimentos previstos.
A mina da Bezerra, que tinha carvão de excelente qualidade, foi explorada até ao seu esgotamento em 1936, apesar de em 1926/27 existirem informações de que estavam praticamente esgotadas. Quer dizer que o elevado investimento efetuado na linha de caminho-de-ferro e nos bairros mineiros nunca foi rentabilizado. Note-se que se foi comprando material de excelente qualidade mas, as locomotivas Skoda, as “jóias da coroa nunca cumpriram as finalidades para que foram adquiridas, pois a linha de Porto de Mós-Martingança, não suportava” o seu peso.
Iniciou-se a seguir a exploração das minas de Alcanadas – Barrojeiras e Chão Preto cujo carvão era de menor qualidade.
Refira-se ainda que os custos da sede em Lisboa eram maiores que todos os custos de exploração em Porto de Mós.
Estas circunstâncias, no seu todo, explicam porque este investimento não foi rentabilizado e a perda de competitividade do carvão levou ao encerramento da atividade em 1954.
Em síntese, esta obra mostra o desenvolvimento de um projeto industrial baseado no mercado interno e em condições impostas pelo estado, sem que avaliassem as condições reais de viabilidade dos investimentos e da sustentabilidade do negócio.
Erros nos pressupostos (esgotamento do carvão da Bezerra), erros nos investimentos, desenvolvimento de combustíveis alternativos e custos de administração elevados contribuíram para o insucesso deste grandioso empreendimento.
O Couto Mineiro do Lena é um excelente exemplo de insucesso empresarial e que nos dá importantes lições de erros cometidos que se devem evitar.
É também um exemplo de que se aprende com os erros e, que em cima do insucesso, é possível construir empresas de sucesso, aproveitando os conhecimentos e experiência adquiridos em condições muito exigentes.