Vivemos uma realidade complexa e em constante mudança. A informação que temos disponível é imensa e apenas acedemos a uma parte. As notícias chegam-nos ao longo de todo o dia, a toda a hora há novidades e nós vamos lendo os cabeçalhos, um ou outro comentário, de vez em quando um artigo completo. Ouvimos comentadores, vimos umas fotografias repetimos umas frases chave e assim vamos formando as nossas opiniões.

E será que é assim que conhecemos a realidade?

Será que esta é uma forma correta de nos mantermos atualizados?

Vejamos a seguinte história(1):

Estava um dia de sol intenso. Um daqueles dias em que os raios de sol nos envolvem e acariciam deixando-nos deliciosamente relaxados. Era um dia quente de outono e as árvores iam largando as suas folhas, pintando o chão da praça da aldeia com tons quentes. A calma reinava por ali.

De repente um grande alvoroço:

– Não, não pode ser! … Não é possível! – Ouvia-se por todo o lado, enquanto as pessoas se precipitavam para o meio da praça.

– O que se passa? – pergunta João, um menino cego que ali brincava.

– Parece que foram todos para o meio da praça. – responde Pedro, outro menino cego que brincava com João.

– Vamos para lá! Quero saber o que aconteceu! – diz Manuel. Também ele era cego.

Os 3 meninos, guiados pela algazarra, dirigiram-se para o centro dos acontecimentos. As pessoas foram-se afastando-se, deixando-os passar.

– O que se passa Maria?- pergunta João quando encontra a amiga.

– É …. É…. É um elefante! – responde Maria, ainda sem acreditar nos seus olhos – Não percebo como veio aqui parar!

– Um elefante!? Aqui!? Ah! Como eu gostava de perceber como é um elefante! – diz João.

– Vem, eu ajudo-te a chegares junto dele – prontifica-se Maria.

– Eu também quero! Eu também quero! – gritam Pedro e Manuel muito entusiasmados.

Algumas pessoas ajudam os 3 meninos a chegar junto do elefante e a tocarem-lhe. Os meninos vão explorando devagar, tocando o elefante e as suas caras vão ficando cada vez mais sorridentes.

– Já sei como é um elefante! – Diz João – Um elefante é grande e plano como uma parede!

– Que disparate! – Diz Pedro – Este elefante é grosso e redondo como o tronco de uma árvore.

– Vocês dois não estão bons da cabeça! – Irrita-se Manuel – O elefante é fino é flexível como uma corda!

Os 3 amigos começam a discutir e tom vai subindo. O elefante começa a ficar inquieto….

– Calma, meninos! Calma! Porque estão a discutir? – Acode a Maria.

– Eles querem enganar-me! – Choraminga Manuel, o mais novo dos 3 – Eu tenho a certeza que o elefante é fino e flexível como uma corda, o João diz que ele grande e plano como uma parede e o Pedro diz que o elefante é grosso e redondo como o tronco de uma árvore! Querem enganar-me!

A Maria desata a rir, bem como toda a gente em volta. Os 3 meninos ficam zangados.

– Estão a gozar connosco!

– Nada disso. Vocês os 3 têm razão. O elefante é tudo isso que disseram e muito mais. Pedro, tu agarraste a cauda do elefante, que é fina e flexível como uma corda. João, tu tocaste a barriga do elefante, que é grande e plana como uma parede. Manuel, tu sentiste a pata do elefante, que é grossa e redonda como o tronco de uma árvore. O elefante é tudo o que disseram e mais. O elefante tem grandes orelhas flexíveis como um abano e tem uma tromba que parece uma mangueira. Para realmente conhecerem o elefante é importante juntarem tudo aquilo que cada um de vocês conhece. É a soma de todas as partes que faz o todo.

E nós? Será que estamos focados só numa das partes? Ou estamos a juntá-las para chegarmos mais próximos do todo?

 

(1) Adaptado de uma parábola tradicional indiana.