As PME têm um papel fundamental na economia e na sociedade portuguesa, representando 99,9% do número de empresas portuguesas e 78,3% da força de trabalho. Mas as PME enfrentam grandes desafios.

Este foi o mote da entrevista que dei ao Jornal de Leiria para a revista PME Excelência’20 e que aqui transcrevemos:

“Tal como no resto do País, as PME são a maioria na nossa região”, aponta Gabriel Silva, CEO da TGA, empresa de consultores de gestão de Leiria. Devido à sua dimensão e características, estas empresas, “conseguem rapidamente responder a situações de crise ou de mudança”.

“São empresas mais flexíveis, e absorvem bem choques profundos como foi este da Covid”, destaca o especialista em estratégia.

Gabriel Silva distingue as empresas que “estavam em boa situação” antes da crise, que acredita que resistirão aos impactos da pandemia, das que “estavam já com algumas dificuldades”. Nestas, as dificuldades são agora “obviamente enormes e provavelmente muitas vão fechar”.

O também docente da Coimbra Business School lembra que uma das dimensões importantes do tecido empresarial português é que não tem empresas industriais competitivas nos mercados internacionais.

“As nossas maiores empresas são bancos ou empresas de distribuição. Isto é um problema. Quando olhamos para as economias alemã, francesa ou italiana vimos uma boa base industrial e com empresas competitivas à escala global”.

“O nosso grande problema é que as nossas empresas não têm dimensão. E por outro lado temos falta de diálogo e de cooperação entre empresas, não está no nosso ADN as empresas cooperarem”, lamenta.

Quanto às pequenas e médias empresas em si mesmas, enfrentam o problema de ter “escassos recursos, o que limita as oportunidades que podem encontrar e construir nos mercados”. Por isso, “a cooperação e as alianças são obviamente uma opção importante para o seu desenvolvimento”, diz Gabriel Silva.

“Espero que neste momento a seguir à crise se promovam fusões e aquisições entre empresas, que às PME que saíram melhor da crise sejam dadas condições para adquirirem outras empresas mais frágeis, que ou vão fechar ou vão ter muitas dificuldades”, destaca. “Seria importante que pudessem comprar empresas para reforçar a sua dimensão e serem mais competitivas nos mercados”.

É que ter dimensão implica dispor de economias de escala e de melhor capacidade de gestão, aspeto “crítico para o sucesso das empresas que na generalidade, no nosso País, têm modelos de gestão relativamente fracos”.

Gabriel Silva afirma que “as empresas apostam muito em tecnologia, mas depois a gestão não acompanha”. Mas a tecnologia em si “não cria vantagem, só cria se for alavancada com a gestão”.

“A revolução digital é uma nova oportunidade, a digitalização vai implicar grande capacidade de resposta, de adaptação e de aprendizagem. É fundamental que as empresas estejam atentas e incorporem na sua estratégia esta dimensão”, destaca o especialista.

Gabriel Silva lembra que durante décadas as empresas dispunham de um período relativamente longo – entre oito a dez anos – para construir uma vantagem competitiva, que depois explorada durante anos, ao fim dos quais era abandonada para se construir uma nova vantagem.

“Hoje tudo muda constantemente, o tempo para fazer isto tem de ser muito mais curto, entre dois a três anos”. Neste contexto, as empresas têm de ter equipas parar fazer duas coisas ao mesmo tempo: tirar partido do que a empresa já tem, por um lado, e construir nova fonte de vantagem competitiva, por outro.

“Para as PME é um desafio maior, mas interessante. São mais flexíveis, podem mais rapidamente adaptar-se às novas circunstâncias do que outras empresas de maior dimensão”, acredita.

“Mas tudo depende da filosofia e da capacidade que o líder da empresa tiver. Se estiver no ADN do líder fazer rapidamente e ser flexível, então as empresas vão construir e avançar rapidamente”, defende Gabriel Silva.

“A base é sempre a mesma: as pessoas, não as tecnologias. Estas ajudam, claro que sim, mas o fator que faz a diferença são as pessoas. Vamos precisar cada vez mais de pessoas diferentes nas empresas, que combinem competências”.

 

desafios