Quando um gestor assume uma posição numa organização sem fins lucrativos há um proverbial chiste que é usual aplicar: “finalmente ele pode fazer o que fazia antes, mas agora de forma propositada, ou seja, não ter lucro ”. Este gracejo esconde a realidade dos problemas da gestão das organizações sem fins lucrativos. Embora estas tenham fins sociais, as suas prerrogativas são em tudo iguais às de uma empresa com fins lucrativos.
Um gestor gere recursos escassos (financeiros, humanos e organizacionais) para satisfazer (ou exceder) necessidades dos seus clientes e dos seus outros stakeholders (acionistas, trabalhadores, etc.). Ora, neste caso os clientes são beneficiários (poderá ser um sem abrigo que procura alojamento, uma pessoa com uma deficiência que procura integração, um idoso que procura apoio, etc.) cujas necessidades se deve procurar satisfazer da melhor forma possível.
Por outro lado, a sociedade, bem como as empresas e pessoas que contribuem para estas organizações, esperam que estas cumpram a sua missão de forma eficiente (utilizando inteligentemente os recursos que provêm dos impostos e das ajudas privadas) e valiosa (gerando um real benefício social, que enriquece a vida de todos). Ora, este é um imperativo exigente, pois não só temos beneficiários em situações precárias, que devemos encarar como clientes (com uma relação de fraternidade de longo prazo), como temos de gerir as expectativas dos financiadores.
Esta dupla urgência é um apelo ainda maior para a utilização de ferramentas da moderna gestão (estratégia, indicadores de gestão, ferramentas da qualidade, etc.), procurando ganhos de eficiência. A simples renegociação de um contrato de fornecimento resultante de uma análise de mercado ou a definição de um “caminho mais curto” para a distribuição de alimentos (a partir dos princípios da gestão logística) são exemplos de pequeníssimas aplicações de gestão que podem significar a ajuda a mais uma pessoa ou a compra de um moderno equipamento médico.
O papel deste tipo de organizações, principalmente as que são privadas, é cada vez mais importante, substituindo muitas vezes antigas funções do Estado (algo que resulta de um “agreste” momento político-económico). Mas o que está muitas vezes invisível em muitas destas instituições não é o lucro, mas sim a eficiência e a capacidade de gestão.
No fundo, o desenho de um real planeamento permitiria descobrir este manto invisível de “não gestão”, melhorando a vida de todos os cidadãos.