Faz algo que adores, e não terás que trabalhar um único dia da tua vida – Confúcio

Imagine que quer ser feliz. Para ser feliz, imagino que quererá um trabalho em que seja feliz. E ser feliz no trabalho pode ser muitas coisas diferentes. Há pessoas que buscam desafios. Há pessoas que buscam segurança. Há pessoas que buscam poder. Etc. Cada pessoa é única e procura ser feliz no trabalho de uma forma que responda às suas necessidades e motivações.

Por outro lado, cada organização tem uma visão, uma missão, uma estratégia, uma estrutura, uma cultura próprias. E, sempre que uma organização abre um processo de recrutamento, procura uma pessoa com um determinado perfil de competências e tem para lhe oferecer um conjunto específico de contrapartidas (tarefas concretas, condições de trabalho, colegas e superiores, perspectivas de progressão, possibilidades de aprendizagem e formação, etc.).

Tradicionalmente, o objetivo de um candidato num processo de recrutamento e seleção é única e simplesmente ser contratado. E quase se assume que fará o que for necessário para ter sucesso nesse objetivo. Daí termos tantos e tantos livros, manuais, sites, workshops, formações, etc. a prometer ensinar as pessoas a ultrapassar esse processo. Ensinam-se as pessoas a vestir-se para ter sucesso, a falar como um apresentador de televisão, a sorrir como o Obama, a esconder o nervosismo, a ter bons resultados em todos os testes, a responder às perguntas de uma forma calma e confiante, a dizer o que se assume que a empresa quer ouvir. Transforma-se o processo de recrutamento e seleção num jogo do gato e do rato em que se desafia o candidato a ser quem não é e se espera que a empresa seja capaz de desmascarar os piores atores. E os melhores atores são premiados com um cargo que talvez nem seja bem o que os faz felizes. Talvez até seja algo que não gostam de fazer, que não potencia os objetivos que tinham definido para a carreira, que os obrigue a trabalhar num ambiente em que não se sentem bem. Mas isso agora não interessa nada. O objetivo era serem contratados. E conseguiram. Ganharam! São os vencedores. Mas então porque não se sentem felizes?

Imagine agora que a tradição já não é o que era. Imagine que é autêntico ao longo de todo o processo. Imagine que se apresenta de forma transparente, revela as suas qualidades e também os seus defeitos (mas defeitos reais e não aquela treta de ser demasiado perfecionista), fala sem tabus dos seus valores e objetivos. Imagine também que, ao longo desse processo, fica a conhecer a visão, a missão, a estratégia, a estrutura e a cultura da organização. Mas também fica a perceber exatamente o que esperam de si e com o que pode contar. Agrada-lhe? Fantástico! Não agrada? Ainda bem que descobriu já e não depois de ter investido nesse cargo e nessa organização e numa altura em que voltar atrás seja mais custoso.

Como? A empresa a que se está a candidatar não quer as suas respostas honestas e pessoais, fruto da sua reflexão e não copiadas de um qualquer manual de sucesso rápido? Então talvez também não queira trabalhar nessa empresa…